Para algumas pessoas o agronegócio é
responsável por todo o desmatamento, poluição de rios e da atmosfera, mas na
verdade uma grande parte da preservação das matas nativas e outros biomas
nativos é feito e por responsabilidade de todo o agronegócio brasileiro.
Segundo a Síntese Ocupação e Uso das
Terras no Brasil feito pela Embrapa verificamos que o agronegócio é responsável
pela preservação nativa de 25,6% do território nacional conforme a tabela abaixo
retirado da Síntese citada acima e como podemos ver o link
Tabela 1. Quantificação das áreas destinadas à proteção e
preservação da vegetação nativa e demais usos e ocupação das terras no Brasil
(2018)
CATEGORIAS
ÁREA (ha)
% DA ÁREA DO BRASIL (2018)
ÁREAS
DESTINADAS À PRESERVAÇÃO DA VEGETAÇÃO NATIVA CADASTRADAS NO CAR (MUNDO
RURAL – PECUÁRIA, AGRICULTURA, SILVICULTURA, EXTRATIVISMO....)
218.245.801
25,6
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO INTEGRAL
88.429.181
10,4
TERRAS INDÍGENAS
117.338.721
13,8
VEGETAÇÃO NATIVA EM TERRA DEVOLUTA E
NÃO CADASTRADA
139.722.327
16,5
PASTAGENS
NATIVAS
68.022.447
8,0
PASTAGENS PLANTADAS
112.237.038
13,2
LAVOURAS
66.321.886
7,8
FLORESTAS PLANTADAS
10.203.367
1,2
INFRAESTRUTURAS,
CIDADES E OUTROS
29.759.821
3,5
TOTAL
850.280.588
100
E por que o agronegócio preserva um quarto do território
do país? Além da obrigatoriedade determinada pelo Código Florestal, todos os
proprietários e profissionais que trabalham no campo sabem que o maior
patrimônio é a terra e sua cobertura vegetal sendo a erosão o principal inimigo
para se combater. Portanto, são protegidas as margens dos cursos de água, se
faz o plantio em curva de nível, são feitos terraços em toda a área, o plantio
direto se dissemina pelo campo, as integrações estão em franco crescimento etc.
Como podemos ver na tabela acima as
pastagens plantadas correspondem a mais de 13% da área do país. Se levarmos em
consideração que a maior parte tem algum grau de degradação a sua recuperação
seria uma maneira de aumentarmos a integração com a agricultura. Se toda a área
de pastagens plantadas se transformasse em ILP (integração lavoura pecuária) ou
ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta) poderíamos dobrar nossa produção agrícola
e aumentarmos muito nossa produção pecuária.
Portanto o agronegócio brasileiro não
é inimigo da preservação do meio ambiente, pelo contrário, é o grande
responsável pela preservação e pela segurança alimentar. Podemos crescer muito
na produtividade da terra e a Embrapa é de grande importância para isso.
Especialista em Inovação e Desenvolvimento de Mercado – FEED
Mosaic Fertilizantes
As redes neurais artificiais (RNAs) foram desenvolvidas com intuito de simular matematicamente o comportamento de um neurônio biológico. Sua forma de conhecimento é representada em forma de aprendizagem através da experiência. Constituindo uma das áreas da inteligência artificial, as RNAs são normalmente utilizadas nos problemas em que é necessário algum tipo de aprendizagem.
As redes neurais artificiais são, portanto, um algoritmo computacional de uma rede de neurônios artificiais. Um neurônio artificial é por outro lado um modelo matemático inspirado em um neurônio real (Figura 1). Os neurônios biológicos estão conectados em uma rede complexa e dinâmica. Estas redes biológicas de interconexões apresentam características desejáveis em sistemas artificiais, como por exemplo: exibem capacidade de aprendizado, não precisam ser programadas, possuem capacidade de ação paralela, ou seja, capaz de realizar várias funções ao mesmo tempo, são pequenas, compactas e dissipam pouca potência. Estas características podem ser desenvolvidas em algoritmos computacionais, utilizando-se de um modelo matemático que leva em conta os conexionismos para lidar com a manipulação de dados, resolvendo problemas complexos.
Figura 1 – Modelo de um neurônio artificial projetado por McCulloc e Pitts
Para o processo de classificação artificial, faz-se necessário o desenvolvimento de modelos que permitam estabelecer o relacionamento entre a entrada de padrões de classificação (Entradas), análise e processamento dessa informação e convergência para uma saída definida (Saída). A rede neural deve aprender a reconhecer padrões de entrada e definir a saída segundo classes definidas, ou seja, dado um determinado padrão de entrada, escolher em que categoria ele se enquadra melhor (Ramos, 2003).
Fonte: Adaptado de Tatibana & Kaetsu (2011)
Com o desenvolvimento dos primeiros computadores digitais o pensamento de que se podia desenvolver uma inteligência artificial por meio de operadores lógicos básicos era bastante aceito na época. Em 1958, Frank Rosenblatt propôs o conceito de aprendizagem em redes neurais. O modelo proposto por Rosenblatt, conhecido como perceptrons, era composto de uma estrutura de rede de neurônios MCP (McCulloch-Pitts) e uma regra de aprendizado (Braga et al., 2007). Esse modelo era composto por apenas uma camada e tinha como saída um valor binário (Ludwig Junior & Montgomery, 2007; Haykin, 2001).
O perceptron simples ou de única camada, é um discriminador, por conseguir apenas solucionar problemas cujo os dados são linearmente separáveis no espaço de entrada. Essa limitação desmotivou os estudiosos da época que sabiam da existência de RNAs de múltiplas camadas, mas não sabiam como treiná-las. Esse problema foi apenas solucionado em 1986 com a criação do algoritmo back-propagation (Braga et al., 2007; Haykin, 2001; Mcclellan & Rumelhart, 1987).
Essa inexistência ou desconhecimento de um algoritmo de treinamento de redes neurais de múltiplas camadas foi uma das principais causas pela falta de interesse nos estudos de RNAs da década de 70. Minsky e Pappert publicaram um livro chamado “Perceptrons” onde provaram que RNAs de camada simples (única camada) somente podem resolver problemas linearmente separáveis. Essa publicação causou grande diminuição das pesquisas em redes neurais artificiais e seus financiamentos (Braga et al, 2007; Haykin, 2001).
Figura 2 – Redes neurais com duas camadas escondidas.
RNAs de múltiplas camadas tem poder computacional e matemático muito maior que redes neurais de camada simples. Com duas camadas escondidas (Figura 2), RNAs de múltiplas camadas podem resolver problemas de classificação linearmente separáveis ou não, podendo ser aproximado por uma rede neural artificial com apenas duas camadas escondidas. O poder de aproximação dependerá da arquitetura da rede e do número de neurônios em cada camada escondia (Braga et al., 2007; Haykin , 2001).
Fonte: Sidney (2011)
O número de neurônios em uma RNA determina a sua capacidade de generalização, tanto quanto sua qualidade na resolução do problema. A determinação do número de neurônios depende da complexidade do problema, no entanto não existem estudos que provem como deve ser feito essa distribuição de neurônios por camada.
Existem muitas pesquisas que mostram a viabilidade do uso de RNAs para modelar, predizer e classificar dados zootécnicos. Brenneke (2007), usou uma rede neural para a predição de proteína bruta e suas frações usando uma base de dados que incluiu variáveis como tamanho, cor das folhas, média da altura pré-pastejo, latitude e longitude, perfilho novos, perfilho remanescentes, etc. Neste trabalho, a partir de dados externos da planta, foi verificado que a RNA conseguiu estabelecer uma relação entre estas variáveis externas e seu conteúdo de proteína bruta.
As redes neurais também foram usadas com sucesso em estudos aplicados em avicultura como previsão de qualidade de carcaça e avaliação da dieta de frangos de corte para estabelecer padrões que possam relacionar a qualidade do produto com o ambiente de criação e o alimento recebido (Ahmadi et al., 2007; Chen et al., 1998). Em estudos visando à previsão de mastite bovina, as redes neurais artificiais foram usadas como um sistema de diagnóstico precoce baseado em dados de monitoramento diário coletados durante as ordenhas e armazenados em uma base de conhecimento, detectando com antecedência o surgimento da mastite bovina nos animais em estudo (Cavero et al., 2008; Heald et al., 2000).
Na suinocultura também existem pesquisas recentes destacando-se o trabalho de Kevin et al. (2004) que modelaram o odor em função de diversas variáveis do ambiente e assim conseguir atuar na granja no momento certo para controlar o odor exalado. Na bovinocultura as RNAs tem sido usadas em diversos problemas e estudos como modelagem do rumem (Craninx et al., 2008), estimativa de ganho de peso (Arias et al., 2004) e no desenvolvimento de ferramentas que auxiliam e facilitam o trabalho no campo como, por exemplo, a rastreabilidade dos animais por meio de um leitor biométrico do focinho de bovinos que permite distinguir cada animal assim como a impressão digital em humanos.
No atual estágio de desenvolvimento das RNAs, existe um grande número de aplicações, mas em todas estas existe um fator preponderante e que em momento algum pode ficar de fora do sistema inteligente. Este fator é o especialista, profissionais da área de ciências agrárias, os únicos capazes de fazer com que o poder da inteligência artificial seja usado para melhorar a nossa produção de alimentos de origem animal e, é ele que deve buscar a interdisciplinaridade atuando juntamente em áreas como a instrumentação eletrônica e a computação, para cada vez mais melhorar a forma como resolvemos problemas complexos na área de zootecnia.
Literatura Citada
AHMADI, H.; MOTTAGHITALAB, M.; NARIMAN-ZADEH, N. Group method of data handling-type neural network prediction of broiler performance based on dietary metabolizable energymethionine, and lysine. Journal of Applied Poultry Research, v.16, p.494-501, 2007.
ARIAS, N.A.; MOLINA, M.L.; GUALDRON, O. Estimate of the weight in bovine livestock using digital image processing and neural network. Proc. SPIE, v.562, p.224, 2004.
BRAGA, A. P.; CARVALHO, A. P. L. F.; LUDEMIR, T. B.. Redes Neurais Artificiais – Teoria e Aplicações, 2ª edição: Editora LTC, 2007, 226 p.
BRENNECKE, K. Fracionamento de carboidratos e proteínas e a predição da proteína bruta e suas frações e das fibras em detergentes neutro e ácido de Brachiaria brizantha cv. Mandaru por um arede neural artificial. 2007. 138f. Tese (Mestrado em Zootecnia) – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos/Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2007.
CAVERO, D.; TOLLE, K.H.; HENZE, C. et al. Mastitis detection in dairy cows by application of neural networks. Journal of Food Process Engineering, v.114, p.280-286, 2008.
CHEN, Y.R.; NGUYEN, M.; PARK, B. Neural network with principal component analysis for poultry carcass classification. Journal of Food Process Engineering, v.21, p.351-367, 1998.
CRANINX, M.; FIEVEZ, V.; VLAEMINCK, B. et al. Artificial neural network models of the rumen fermentation pattern in dairy cattle. Computers and Electronics in Agriculture, v.60, n.2, p.226-238, 2008.
HAYKIN, S. Redes Neurais – Princípios e práticas. Editora Bookman, 2ª edição: 2001, 899p.
HEALD, C.W.; KIM, T.; SISCHO, W.M. et al. A computerized mastitis decision aid using farm – based records: an artificial neural network approach. Journal of Dairy Science, v.83, p.711-720, 2000.
LUIDWIG JUNIOR, O.; MONTGOMERY, E. Redes Neurais – Fundamentos e Aplicações com programas em C: Editora Ciência Moderna, 2007, 125p.
RAMOS, J.P.S. Redes neurais artificiais na classificação de frutos: cenário bidimensional.Ciência e Agrotecnologia. Lavras, v.27, n.2, p.356-362, 2003.
Por Breno Lobato com a colaboração de Luiz Adriano Cordeiro em 13/11/2020 no site Rede ILPF
A adoção dos sistemas de integração, em especial a Integração Lavoura-Pecuária (ILP), é uma alternativa de manejo sustentável de solos arenosos (com baixos teores de argila) no ambiente tropical e traz inúmeros benefícios, constituindo um modelo de intensificação sustentável do uso da terra. Quando associada ao Sistema Plantio Direto, a ILP é uma das formas mais eficientes de manejo sustentável de solos arenosos. Para comprovar esse conhecimento na prática, a Embrapa Cerrados (DF) elaborou o documento “Integração Lavoura-Pecuária (ILP) em Solos Arenosos: Estudo de Caso da Fazenda Campina no Oeste Paulista”, disponível para download.
A publicação é fruto da parceria do centro de pesquisa com a Fazenda Campina, em Caiuá (SP), do produtor Carlos Viacava, e com instituições como a Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP), a cooperativa Cocamar e a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste). Pecuarista há décadas, Viacava é uma referência nacional no melhoramento genético de bovinos da raça Nelore Mocho.
O pesquisador Luiz Adriano Cordeiro, um dos autores documento, afirma que a publicação é emblemática. “A Fazenda Campina era uma típica propriedade de pecuária, que até meados de 2012 se dedicava exclusivamente à produção de bovinos. Em 2013, passou a adotar com sucesso a ILP com diversificação de culturas agrícolas, atingindo resultados excepcionais na pecuária”, explica, destacando que o solo da propriedade tem baixo teor de argila – apenas 11% em média.
Apesar de ter uma produtividade animal adequada, a Fazenda Campina era onerada pelo elevado custo de produção, com grande investimento em adubação de pastagens e o uso de um volume significativo de ração animal, suplementação mineral e silagem. “Há oito anos, recebemos a visita do João K (João Kluthcouski, pesquisador aposentado da Embrapa Cerrados), que nos convenceu a ingressar no projeto de adoção da Integração Lavoura-Pecuária. Não precisou de mais que uma manhã para ele nos motivar a buscar um novo caminho para nosso trabalho com a pecuária seletiva”, lembra Carlos Viacava.
A Fazenda Campina adota atualmente um arranjo de ILP com dois anos de agricultura e dois anos de pecuária. No primeiro ano, a soja é cultivada na safra e o milho para silagem na safrinha, consorciado com forrageiras (principalmente a braquiária da espécie Brachiaria ruziziensis), que são pastejadas no período de outono-inverno. No segundo ano, repete-se o cultivo da soja na safra e do milho para silagem consorciado com B. brizantha, com a pastagem permanecendo nos dois anos subsequentes.
Gerente da propriedade, o zootecnista Juliano Roberto da Silva, também um dos autores da obra, conta que o maior desafio inicial era a questão operacional – realizar agricultura em uma fazenda de pecuária. “O manejo de dessecação das pastagens, a correção de solo, o ajuste e a regulagem de plantadeiras para proceder o plantio direto de soja em áreas de pastagens estabelecidas há mais de 10 anos e, ainda por cima, em solos arenosos, eram muito preocupantes... Mas com o passar das safras e, com os investimentos adequados e o treinamento das equipes de campo, esses desafios foram vencidos e hoje a agricultura é uma rotina na Fazenda Campina”, afirma.
Produtividades crescentes
A publicação detalha como a adoção da ILP na Fazenda Campina proporcionou uma evolução positiva e significativa tanto da produtividade vegetal como da produtividade animal, com a melhoria da qualidade do solo, a diversificação do negócio e a viabilidade da atividade agropecuária na propriedade.
A produtividade de milho para a produção de silagem de planta inteira, que na safra 2013/2014 havia sido de 37,2 t/ha, aumentou nas safras seguintes, chegando à produtividade média de silagem de 47,5 t/ha na safra 2016/2017. Também foi observada uma evolução crescente nas produtividades de soja em sistemas de ILP, partindo de 28,4 sc/ha na safra 2013/2014 para 59,14 sc/ha na safra 2017/2018.
O pesquisador Sebastião Pedro da Silva Neto explica que para a viabilização da adoção da ILP é necessária a utilização da cultura da soja em rotação com as pastagens e outras culturas. “O Oeste Paulista tem duas peculiaridades: solos arenosos e períodos de longos veranicos, que aumentam o risco agrícola. Por isso, é necessária a adoção de diferentes estratégias, como a utilização de cultivares de soja com sistema radicular profundo e alto potencial de recuperação de estresse hídrico”, diz, citando como alternativa para esta condição a cultivar BRS 5980IPRO, da Embrapa.
Outra estratégia apontada por Sebastião Pedro é o uso da soja convencional ou não-transgênica. “Ela é mais valorizada no mercado e pode aumentar a receita e reduzir a despesa da lavoura de soja, elevando a margem operacional e minimizando o risco, proporcionando mais sustentabilidade econômica à ILP na região do Oeste Paulista” explica o pesquisador.
Uso da terra mais eficiente
Após a adoção da ILP, a Fazenda Campina também aumentou a eficiência do uso da terra. Quando se compara o ano-base de 2012/2013 com a safra 2016/2017, a área de pastagem destinada à produção animal foi reduzida em 52,2% e a taxa de lotação animal cresceu 54,6%, passando de 1,3 para 2,0 UA*/ha. Na safra seguinte, taxa de lotação chegou a 2,3 UA/ha, com redução da área de pastagem para 1.273 ha em 2018.
Os índices zootécnicos levantados na propriedade também mostram evolução significativa. Na safra 2017/2018, observou-se ganho de peso vivo diário (média anual) de 469 g/animal/dia, produtividade animal de 16 @/ha e taxa de desfrute de 43,5%. “Com melhor nutrição nos pastos formados após a lavoura na ILP, foi possível atingir maior peso à desmama, tanto de machos como de fêmeas. E as novilhas, que antes eram expostas à estação de monta com idade próxima de 24 meses, passaram a ser submetidas à reprodução aos 12 meses de idade”, diz Luiz Adriano Cordeiro.
O gerente Juliano Roberto da Silva também comemora os resultados. “Juntando os anos de seleção genética e um moderno sistema nutricional, com produção de volumoso de alta qualidade, nossos índices zootécnicos foram extraordinários, com altos desempenhos no ganho de peso, precocidade e fertilidade do rebanho a pasto. Mas isso só foi possível graças a nossa parceria com a Embrapa”.
Um dos efeitos mais evidentes da adoção da ILP na Fazenda Campina é o prolongamento da produtividade de pastos, mesmo durante a estação seca. Com pastagens viáveis em plena seca, é possível aumentar a produtividade animal e ainda reduzir custos. “Hoje, como o João K prometia, duplicamos o faturamento, diversificamos culturas e as fontes de receita, e aumentamos o rebanho com menor área de pasto”, aponta Viacava.
Para Juliano Roberto da Silva, a ILP é uma ferramenta sem volta no sistema de produção da fazenda. “A lavoura praticamente subsidia a pecuária nos quesitos de grande disponibilidade de forragens de excelente qualidade, permitindo um ótimo desempenho animal de bovinos criados e recriados a pasto”. Ele complementa: “Este é o boi de capim formado com agricultura”.
Transferência de tecnologia
A Fazenda Campina se tornou uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) de ILP, passando a sediar diversas ações de transferência de tecnologia promovidas pela parceria com a Associação Rede ILPF para ampliar a adoção da ILP em solos arenosos.
Desde 2014, são realizados anualmente dias de campo que abordam diversos aspectos da ILP na propriedade. Em paralelo aos dias de campo, é realizada uma reunião técnica de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) na Unoeste, em Presidente Prudente (SP), sob a coordenação do professor Edemar Moro.
*Unidade Animal (UA) é uma unidade de referência usada para estimar a carga animal ou a lotação de uma pastagem. Corresponde a um animal com 450 kg de peso vivo.
A baixa oferta de gado de reposição tem feito com que os preços batam recordes reais este ano. Conforme relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), na parcial de outubro do indicador Cepea o bezerro negociado em Mato Grosso do Sul registra média de quase R$ 2,3 mil, valor 26% superior ao preço de janeiro, em termos reais, a preços desta quarta-feira (28/10).
“Trata-se da alta mais intensa para esse período desde 2014, quando uma forte seca prejudicou a produção pecuária nacional e resultou na valorização de 23,4% no preço do gado de reposição”, observa o centro de estudos.
Além da quantidade limitada de animais de reposição, a demanda está aquecida, por causa dos valores recordes do boi gordo. “Agentes do mercado consultados pelo Cepea acreditam que o movimento de avanço nos valores da reposição deve seguir firme, fundamentados no baixo volume de chuva nos últimos meses, que tende a atrasar a estação de monta”, observa o relatório.
A demanda está aquecida desde o segundo semestre do ano passado, quando a China reforçou as compras de carne bovina do Brasil. “Este contexto fez com que frigoríficos intensificassem as compras de novos lotes para abate, o que, consequentemente, aqueceu a demanda de pecuaristas recriadores e terminadores por animais de reposição.”
A arroba do boi gordo, por sua vez, também tem batido recordes por causa da escassez de animais terminados e da demanda exportadora, segundo o Cepea. Nesta semana, o Indicador do boi gordo Cepea/B3 chegou à casa dos R$ 270 por arroba, atingindo, portanto, novo recorde real diário da série histórica do Cepea, iniciada em 1994 (os valores diários foram deflacionados pelo IGP-DI de setembro/2020).
Na terça-feira, 27, o indicador fechou a R$ 274,70, superando o recorde real anterior, de R$ 269,87, que havia sido observado em 29 de novembro de 2019 (naquela data, o valor nominal do boi foi de R$ 231,35). Na parcial de outubro, o Indicador registra avanço de 7%. Hoje, porém, o preço recuou 2,15%, para R$ 268,80. A carne também tem subido de preço no mercado atacadista da Grande São Paulo, tendo sido negociada a R$ 17,75 o quilo à vista na terça-feira, alta de 6,73% na parcial de outubro.
Um estudo encomendado pelo Instituto Pensar Agro ao MB Agro avalia quais os efeitos imediatos da suspensão do uso do paraquat na agricultura. A análise aponta que, considerando culturas soja, milho, algodão, feijão, café e arroz, a proibição feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em 22 de setembro, pode afetar a viabilização do plantio direto no Brasil.
Segundo o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Alceu Moreira (MDB-RS), o defensivo aumenta a produtividade da agricultura, reduz o custo de produção para o produtor rural e preserva o meio ambiente. “Além de cuidar da lavoura, promover um alimento seguro e acessível à toda sociedade, o defensivo agrícola aumenta entre 50% e 85% o teor de matéria orgânica do solo e garante sustentabilidade. Como resultado se obtém redução de erosões, aumento de fertilidade da terra e se evita o assoreamento de rios”, disse.
Segundo a própria entidade parlamentar, o plantio direto é a forma mais natural de cultivar a terra, tornando possível a existência de até três safras por ano na mesma área e com menos prejuízos ao meio ambiente. De acordo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), nessa atividade a semente é colocada no solo em cima dos restos da lavoura anterior. Com a palhada, o terreno fica protegido da erosão e recupera a fertilidade. Atualmente, o sistema já ocupa 32 milhões de hectares: cerca de 70% das lavouras de grãos cultivadas no país.
E é neste tipo de cultura que entra a tecnologia do paraquat, capaz de manter o plantio direto com base no controle de ervas daninhas e na redução do uso de maquinário agrícolas.
O estudo aponta que a proibição do produto pode resultar na redução de R$ 27 bilhões no valor bruto da produção agrícola no país, com perda de 2 milhões de empregos. Além disso, existe a perspectiva de perda de competitividade dos produtos brasileiros a partir do aumento do custo de produção em R$ 407 milhões para o produtor rural.
“A exclusão permite o aumento de preços dos alimentos, com consequente elevação da inflação e risco de desabastecimento alimentar, aumento do número de aplicações de herbicidas e a necessidade de uso de dois ou mais produtos para obter resultado semelhante ao do paraquat, com danos ao solo por inviabilizar o plantio direto,” diz o estudo.
Haverá ainda, conforme o estudo, limitação à utilização de transgênicos tolerantes ao glifosato, como no algodão, no milho e na soja. O banimento do herbicida, segundo o estudo, levará à intensificação do uso de glifosato, acelerando o surgimento de mais e mais plantas daninhas resistentes, além das oito espécies já resistentes no Brasil.
Atraso de safras
Uma das grandes preocupações é a diminuição nas janelas de plantio, j[a que prejuízos à intensidade da agricultura e na produtividade pode acarretar atrasos na velocidade de plantio anuais (soja, algodão, milho), com impacto negativo à produtividade e aumento dos riscos climáticos de culturas como o milho safrinha, por exemplo.
Segundo a Embrapa, isso decorre pelo fato do paraquat ser um defensivo agrícola de ação muito rápida, matando as plantas daninhas em poucos dias (2-5 dias), o que viabiliza plantios mais rápidos dentro das épocas recomendadas.
Quem usa?
Produzido, comercializado e utilizado de forma segura em mais de 88 países, inclusive nos maiores mercados agrícolas competidores sob os sistemas regulatórios mais exigentes como os dos EUA, Canadá, Austrália, Japão e Nova Zelândia, o herbicida promove a continuidade de um processo ambientalmente responsável e de grande ganho para o meio ambiente, para agricultura e para o país. Segundo a FPA, a utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI) na aplicação do produto traz segurança para o alimento e para a saúde humana.
Tentativa de reversão
A proibição da comercialização do produto já foi definida, mas no senado corre um Projeto de Decreto Legislativo de autoria do senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), vice-presidente da FPA no Senado, para sustar resolução da Anvisa que veda o uso do herbicida.
Na apresentação da proposta realizada último dia 28, Heinze afirma que com o parecer final da Anvisa, o setor agropecuário depara-se com a possibilidade de perda de uma das “ferramentas mais importantes para o cultivo” de várias das principais culturas, como a soja, cana-de-açúcar, milho, algodão e trigo, responsáveis pela competitividade brasileira no mercado internacional de commodities. A medida aguarda votação em Plenário.
O senador afirma também que a proibição do paraquat vai encarecer os produtos e diminuir a competitividade do agronegócio nacional. Segundo Heinze, o território brasileiro, diferentemente de territórios em regiões de clima temperado, oferece obstáculos maiores para a produção agrícola, com “clima aquecido, chuvas irregulares e ampla variedade de insetos, fungos e plantas daninhas”, que justificaria o uso de herbicidas.
Outro estudo
Um estudo da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (USP), diz que o paraquat é, sem dúvida, um produto fundamental para a manutenção deste sistema agrícola de sucesso da agricultura do Brasil e notifica em seu estudo que “limitar esta opção é admitir um retrocesso na evolução do sistema agrícola brasileiro que, para manter a posição de liderança, precisa não apenas lançar mão do uso eficiente das tecnologias existentes, como também de inovações tecnológicas para o futuro”.
Riscos à saúde?
A FPA comenta ainda que, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental Norte Americana (EPA), não existem evidências que associem o produto com efeitos mutagênicos ou evidências suficientes para concluir que exista uma relação de causa e efeito entre a exposição ao herbicida e doenças em seres humanos.
O deputado Luiz Nishimori (PL-PR) explica que a utilização de paraquat, quando realizada de acordo com as instruções e precauções estabelecidas na regulamentação e descritas na bula do produto, “é segura e não traz riscos de intoxicação ao trabalhador, ao ambiente, ou aos consumidores finais de produtos agrícolas.”
Na Câmara, uma proposta similar ao do Senado tramita para sustar a resolução da Anvisa que veda uso do herbicida no Brasil, o PDL 310/2020. Autor da medida, Nishimori disse que as mudanças na legislação são mais do que necessárias para que o Brasil não sofra com perda de competitividade e a população não pague a conta no aumento do preço dos alimentos.
Em suas redes sociais, a Frente Parlamentar da Agropecuária também divulgou um vídeo explicando quais os eventuais efeitos da proibição do herbicida. Confira:
Trabalho muito interessante sobre a
ILP (Integração Lavoura Pecuária) na tese de Doutorado (CIRÍACO,
2020) o autor pesquisou sobre um tema
muito em voga na atualidade que é a Integração Lavoura Pecuária. Este já é um
tema e uma prática adotada a décadas no Brasil e principalmente pelos
profissionais das ciências agrárias. O importante é o aumento das pesquisas e
divulgações dos resultados excepcionais desta prática.
Já na década
de 80, no início de minha vida profissional como zootecnista, já utilizei a
integração na fazenda que fui administrar no centro de Goiás, hoje norte do
estado. A técnica utilizada era o plantio de arroz de sequeiro consorciado com
capim e também fizemos uma lavoura de milho com capim.
O trabalho
foi desenvolvido no estado de Rondônia e vale a leitura que chega a conclusão
dos benefícios da ILP e neste caso com o uso do milho consorciado com uma
leguminosa e um capim.
CIRÍACO, A. UNIVERSIDADE
ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ENGENHARIA CÂMPUS DE
ILHA SOLTEIRA ABÍLIO DA PAIXÃO CIRÍACO PRODUTIVIDADE DO MILHO E DE FORRAGEIRAS
LEGUMINOSAS E QUALIDADE E PRODUTIVIDADE DO CAPIM-MARANDU CULTIVADOS EM SISTEMA
DE INT. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/193356/ciríaco_ap_dr_ilha.pdf?sequence=3>.
Acesso em: 20 set. 2020.