12 de dezembro de 2016 - 18:55
Estudo inédito mostra quantidade ideal para aplicação com vantagens para a ciclagem de nutrientes e aumento da taxa de lotação
Marina Salles
Tudo que é em excesso faz mal, diz o ditado. E não é diferente com a adubação de lavouras ou pastagens feita com cama de aviário. Rico em nutrientes provenientes da urina e das fezes de diferentes espécies avícolas, o adubo natural ganhou fama por aumentar a produtividade, seja da soja, do milho ou do capim, e melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.
Mas até que ponto isso é verdade? De acordo com o professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Edicarlos Damacena de Souza, faltavam elementos para responder. Agora, um trabalho feito pelo Grupo de Pesquisa e Inovação em Sistemas Puros e Integrados de Produção Agropecuária da UFMT e financiado pela Agrisus começa a dar as primeiras respostas – pelo menos sobre solos com característica argilosa.
Segundo Damacena, os experimentos foram conduzidos em uma propriedade de gado leiteiro, com solos com teor de argila na casa dos 50%. “Os trabalhos começaram em 2008 e o que estamos computando agora vai até 2014”, explica. Localizada em Portelândia, GO, a propriedade alvo do estudo não recebia adubação nem calagem há pelo menos uma década. Os reflexos do uso de cama de aviário foram sentidos com o passar do tempo.
“Na Fazenda Alvorada, a rotação entre os piquetes de 0,5 hectare já acontecia diariamente e, antes de adotar a aplicação da cama, a lotação no pasto era de até 12 animais/ha. Hoje, chega a 20”, diz Damacena. A explicação é uma só: “A cama tem um alto pH, então uma área que nunca recebeu calcário, nunca recebeu adubação, quando recebeu a cama, teve uma elevação do pH, assim como de outros nutrientes”, argumenta o pesquisador.
O volume de fósforo, por exemplo, também aumentou, saltando de 2,1 mg/dm³ para mais de 15 mg/dm³ em seis anos. “Esse nível é ideal para qualquer cultura, ainda mais para um pasto, que tem menor exigência”, afirma o professor.
Tratamentos - Os resultados descritos foram obtidos ao final de seis anos com a aplicação da maior dose analisada de adubo natural, um acumulado de 57,6 ton/ ha. Mas, além da dose mais alta, foram avaliadas outras: de 43 ton/ ha; 26 ton/ha e zero/ton/ha (o experimento controle). “Nosso objetivo era conseguir fazer uma recomendação para o produtor em termos gerais, chegar a uma média específica para esse tipo de solo que contemplasse os melhores benefícios”, diz. Isto é, melhoria na qualidade do solo, aumento na produção de pasto e maior retenção de matéria orgânica.
Resultados práticos - Como era de se esperar, a observação mostrou que a partir de determinada dose de aplicação o solo atinge seu limite. “Não faz diferença você aplicar 43 ou 57 ton/ha de cama de aviário, visando que o solo fixe mais carbono, porque ele tem um teto”. A partir de 26 ton/ha os resultados também foram insignificantes para projetar um incremento na absorção de nitrogênio. “Vimos que você vai ter por volta de 10 ton de N/ ha com a aplicação de 26 ton de cama/ha, e 10,1 ton de N/ha se você aplicar 57 ton de resíduo”, afirma o pesquisador.
Daí a importância de não fazer aplicações em excesso, já que podem não aumentar a produtividade da cultura e ainda trazer prejuízos para o solo e o meio-ambiente. “Se você faz, vamos supor, uma aplicação de nitrogênio em excesso, esse elemento está sendo perdido, está indo parar nos lençóis freáticos, cursos d’água, está contaminando a água subterrânea”, diz Damacena.
Mas, afinal, quanto aplicar? - O trabalho da mestranda Camila Rodrigues Menezes da Silva indica que 5 ton de cama de aviário por ano ou 8 ton a cada dois anos. “Porque o acúmulo da cama vai sendo mais gradativo e a liberação de nutrientes também”, explica o professor, “então a planta consegue aproveitar melhor essa quantidade de nutrientes”, diz.
O valor foi obtido frente a comparação dos diferentes tratamentos quanto ao nível de nutrientes e análise do comportamento de fungos e microrganismos no solo. “E foi como tivemos um maior equilíbrio do ecossistema”, completa Damacena. No caso da lotação, foi possível manter 20 animais nos piquetes de 0,5 hectare com rotação a cada dois dias e descanso posterior de 28. Além de conseguir fixação anual de carbono 1,2 vezes maior do que no experimento controle. Outros experimentos devem ser conduzidos, em breve, em solos arenosos.
Fonte: Portal DBO
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