19 de dezembro de 2016 - 16:40
Oleaginosa tem alto valor comercial e traz benefícios para o solo, como o aumento da longevidade do canavial
Marina Salles
Qual a possibilidade de plantar uma segunda cultura na entressafra da cana e ainda gerar benefícios para o solo e renda para o produtor? O professor doutor da Esalq-USP Felipe Gustavo Pilau está trabalhando para responder a essa pergunta e já conta com indicadores positivos.
Em experimentos conduzidos nos últimos dois anos, financiados pela Fapesp, ele avaliou o potencial do plantio da canola entre linhas de cana nos 90 dias que separam a colheita da rebrota da lavoura, abrindo uma alternativa para a safra de inverno. “Nessa época, como o desenvolvimento da cana é mais lento e chove menos, tivemos sucesso com o consórcio”, diz. A tecnologia está sendo testada no campus da USP em Piracicaba, SP, e a ideia de Pilau é que possa ser replicada em outras áreas do Estado.
Na safra 2014/2015, sem irrigação, a cana registrou produtividade de 74 toneladas/ha na área experimental, fosse consorciada à canola ou em cultivo solteiro. “Então você vê que não houve prejuízo e que passada a colheita da oleaginosa a cana brotou, se desenvolveu e chegou ao fim da safra com o mesmo rendimento”, afirma o pesquisador.
No caso da canola, a produtividade não foi a mesma dos cultivos solteiros por conta de um fator inerente a este tipo de consórcio. “Como você tem a cana ali, a população de plantas de canola é um pouco reduzida em relação a uma área onde só se planta o grão, o que diminui a produtividade final por hectare”, explica Pilau. Assim, enquanto no cultivo solteiro se produz, em média, 1.560 kg de canola em grão/ha, no consorciado a média foi de 1.100 kg. O espaçamento adotado entre linhas de cana era de 1,4 metros – estando as linhas de canola a 40 centímetros umas das outras, e aquelas separadas pela cana distanciadas de 60 centímetros.
Vantagens do consórcio - Usada na produção de óleos vegetais, a canola tem alto valor agregado, custando, segundo o pesquisador, algo muito próximo da soja. “Então, fazendo uma conta rápida, podemos estimar que com essa produtividade de 1.100 kg/ha, a produção chegue a R$ 1.418/ha”. Para ter estatísticas precisas, Pilau ainda precisará computar gastos com insumos e implantação da lavoura, que serão levantados em uma etapa futura.
O potencial não para por aí. “Outro benefício que observamos foi o fato de você ter uma cobertura de solo, o que por si só evita a erosão e ainda diminui a ocorrência de plantas daninhas”, diz. Também no futuro será avaliada a eficácia da ciclagem de nutrientes, disponibilização deles na superfície e fixação de nitrogênio pela oleaginosa.
Mas o ponto mais interessante talvez seja em que medida o sistema radicular da planta ajuda a descompactar o solo e pode aumentar a longevidade do canavial. “Com a mecanização, esse é um problema que temos hoje, e esse tempo de vida útil do canavial, que é de cinco anos, seis anos, em função do declínio de produtividade está bastante ligado à compactação do solo. Você vai tendo uma rebrota cada vez menor de perfiles por metro e o canavial vai decrescendo em produtividade”, afirma o pesquisador. Ao colocar a canola no sistema, ele afirma ter sido possível observar os benefícios da raíz, o que será comprovado ao longo do tempo.
Além das vantagens, Pilau também precisará pôr à prova alguns desafios, como a mecanização da colheita da canola, que foi feita de forma manual nos experimentos, e a possibilidade de produzir o grão em escala. “Esse não foi o foco das pesquisas no início, mas estamos otimistas. A canola mostrou que vai bem na região de Piracicaba e agora será preciso fazer outros testes”, diz. A pesquisa também contempla o estudo do crambi, que embora não tenha valor comercial traz benefícios semelhantes para o solo, e deve incluir ainda resultados a respeito do cultivo irrigado da cana-de-açúcar.
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