4 de janeiro de 2017 - 16:44
Dúvida de muitos produtores, a pergunta não tem resposta fácil. Conheça os caminhos para adotar um e outro processo
Marina Salles
De acordo com a definição dos pesquisadores Manuel Claudio Motta Macedo e Ademir Hugo Zimmer, da Embrapa Gado de Corte, a degradação das pastagens nada mais é do que um processo evolutivo de perda do vigor, produtividade e capacidade de recuperação natural do pasto. Tanto para sustentar os níveis de produção e a qualidade exigida pelos animais como para superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e invasoras.
Causada, no Brasil, principalmente pelo excesso de lotação nos pastos e falta de reposição de nutrientes no solo, a degradação apresenta vários níveis, que vão exigir cuidados diferenciados do produtor dependendo da gravidade do problema. Em entrevista ao Portal DBO, o engenheiro agrônomo e técnico na transferência de tecnologia da Embrapa Gado de Corte, Marcelo Pereira, traça dois cenários: um em que a degradação, em nível inicial, exige apenas recuperação da pastagem e outro, mais avançado, em que é necessária a reforma e ressemeadura.
Para Zimmer, definir esse limite não é algo trivial, e em cada propriedade é indispensável se fazer um diagnóstico específico. Levando em consideração os índices zootécnicos da fazenda, que dão um indicativo de como caminha a situação do pasto (vide o ganho de peso diário dos animais, por exemplo, ou a taxa de lotação).
Para Pereira, a análise por meio da observação no dia a dia também pode mostrar se um simples controle de invasoras associado a uma adubação permitirão que o pasto se recupere. Ou se a população da pastagem já se reduziu a tal ponto que, mesmo com esse manejo, não é viável contar com uma resposta satisfatória do capim. “Porque, ainda que com adubação e controle de invasoras, não vai nascer o capim que você deseja, mas somente espécies nativas – menos nutritivas e menos produtivas que a pastagem originalmente cultivada”, diz.
Confira as dicas para lidar com os problemas e reverter a perda de produção:
Quando o caminho é a recuperação do pasto - “Se o estande de capim é bom e se é possível controlar as invasoras com roçadas ou com controle químico, é provável que o pasto precise apenas de uma recuperação”, afirma Pereira.
Nessa situação, segundo ele, o recomendado é fazer uma análise de solo e ver como está a condição do pasto. Se houver necessidade de calcário, deve-se fazer a aplicação em cobertura ainda durante o período seco, para dar tempo de o material reagir. “Quando aplicado em superfície, no caso de doses maiores, o ideal é dividir a distribuição deste calcário em duas aplicações, por exemplo, de 1.000 kg/ha/ano cada”, afirma. Feito isso, aí sim é indicado corrigir os níveis de nitrogênio, fósforo e potássio.
Quando o caminho é a reforma - “Se o cenário é outro, como no caso de não se ter mais capim para nascer mesmo com a correção da fertilidade do solo, ou se eu tinha uma decumbens e a cigarrinha matou, ou não fiz um manejo adequado do Panicum, que é mais exigente, e ele desapareceu, a solução é reformar”, diz o técnico da Embrapa. O diagnóstico, nesse caso, é de degradação avançada, podendo ser necessária a correção de fertilidade associada ao controle das invasoras e também a ressemeadura.
As causas para a degradação das pastagens são diversas, e vão desde o manejo inadequado, deficiência de nutrientes e compactação do solo à má-formação inicial da pastagem. Diante disso, o sintoma comum, segundo Pereira, é o baixo estande de plantas de capim.
Identificado esse cenário, a recomendação é fazer uma análise de solo e solicitar uma recomendação para a nova pastagem. Geralmente, será recomendado um processo completo, com a aplicação de calcário, de fertilizantes e gradagens – para incorporar os nutrientes, melhorar as condições de solo, reduzir as invasoras e preparar a área para uma nova semeadura. Ressemear sem as correções, segundo ele, pode até reduzir a competição com as invasoras, contudo, em pouco tempo a falta de nutrientes pode ser o fator que vai provocar novamente a degradação do pasto.
Nesse processo completo, após calagem, é indicado fazer a primeira gradagem, e depois de dois a três meses de descanso a adubação de formação. Na sequência, a recomendação é por uma nova gradagem. Este procedimento, geralmente realizado em épocas de seca, favorece o controle das plantas invasoras.
“Com a primeira gradagem prevista para julho, como não estará chovendo, as poucas plantas que crescerem podem ser eliminadas. Em setembro, o ideal é fazer uma segunda gradagem pesada”. Para Marcelo, esta segunda gradagem ajuda a diminuir o banco de sementes no solo e eliminar os maiores torrões de terra. “Já em outubro ou novembro, com a chegada das chuvas, é a hora de passar uma grade niveladora, o que vai preparar o solo para a semeadura”, afirma Pereira.
Após a semeadura, deve ainda ser passada sobre o solo uma nova mão de grade niveladora (fechada) ou um rolo compactador, que contribui para a incorporação das semente no terreno. “Nesse momento, o solo já tem torrões pequenos, não conta com grande quantidade de galhos e o banco de sementes é bem menor”, explica o técnico. Daí em diante os cuidados são com o manejo e a fertilidade da área.
A descrição acima, ele lembra, é uma das possibilidades que se colocam para o pecuarista, devendo ser sempre adequada às necessidades específicas de cada área. Fazendo uma reforma bem-feita, o produtor pode optar ou não por trocar a variedade da forrageira.
Segundo documento da Embrapa publicado por Zimmer, a troca de cultivar depende, principalmente, de tratos mecânicos e químicos, com o uso de herbicidas, para o controle da espécie que se quer erradicar e pode ou não ser bem-sucedida.
“A substituição de espécies do gênero Brachiaria por cultivares de Panicum, uma das mais almejadas, nem sempre é bem sucedida dado o elevado número de sementes existentes no solo. O gasto de sucessivas aplicações de herbicidas e tratos mecânicos pode encarecer o processo. A substituição de espécies como Andropogon e Panicum por espécies de Brachiaria, no entanto, oferece melhor possibilidade de êxito. Outra troca potencial é a substituição de espécies de Brachiaria por espécies de Cynodon”, explica.
Pereira destaca ainda que se a opção for pela troca da forrageira, o produtor deve avaliar, antes de mais nada, qual capim atende melhor seu sistema de produção: se ele têm condições de fazer manejo rotacionado ou apenas contínuo; se pode investir em adubação; qual a demanda de pasto de que ele precisa – além de considerar qual o clima e tipo de solo da região onde fica a propriedade.
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