segunda-feira, 26 de junho de 2017

Escândalos arranham imagem da carne brasileira no exterior

Por Alisson Freitas
Em 23/06/2017 no site Portal DBO

Mais um terremoto abalou a cadeia produtiva de carne bovina brasileira nesta semana. Após encontrar irregularidades na carne importada do Brasil, os Estados Unidos anunciaram a suspensão das compras do produto. As autoridades brasileiras afirmaram que as falhas encontradas são relacionadas à reação alérgica à vacina contra febre aftosa e que não trazem nenhum risco sanitário. No entanto, o setor segue apreensivo pois é o terceiro grande escândalo nos últimos três meses. Antes dele ocorreram a Operação Carne Fraca, em março, e a delação da JBS, em maio.
“Sem dúvida essa sucessão de escândalos suja a imagem da carne brasileira no mercado externo. Todo o trabalho feito de abertura de mercados realizado nos últimos anos pode ir por água abaixo caso essa situação não seja revertida rapidamente”, destacou o diretor-secretário da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz.
Embora os embarques de carne bovina para os EUA  ainda não tenham grande representatividade em termos de volume e receita, o embargo imposto deixa o mercado receoso de que outros importantes parceiros comerciais do Brasil também tomem a mesma decisão. Recentemente, representantes da União Europeia criticaram o sistema de produção da carne brasileira, ameaçando impor restrições caso nenhuma medida seja tomada.
Outro desdobramento deve ser a dificuldade de negociações com os demais importadores. “Sem dúvida os compradores aproveitarão a oportunidade para pressionar os preços e pagar mais barato pela carne brasileira”, prevê Ferraz.
O analista também destaca que a série de problemas seria solucionada de forma mais efetiva caso a situação político-econômica fosse outra. “Atualmente o Brasil não tem governo. Os gestores estão totalmente perdidos e não têm a menor credibilidade tanto dentro do País como fora dele. Eles estão mais preocupados em abafar as denúncias de corrupção do que em resolver os problemas da economia”.
Papel do Mapa – Para reverter este cenário, Ferraz acredita que é necessário que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) dê uma resposta rápida e inicie um trabalho de recuperação da credibilidade da imagem da carne brasileira no exterior junto a outras entidades e que combata constantemente as denúncias de corrupção no setor.
“No caso da carne fraca o governo deu uma resposta rápida e efetiva a princípio, mas depois acabou cometendo um grave erro. Eles deveriam exigir que o Ministério Público e a Polícia Federal viessem a público para assumir que se precipitaram e divulgaram informações erradas”.
Em nota em sua página no Facebook, o ministro do Mapa, Blairo Maggi, lamentou a suspensão dos embarques e afirmou que irá aos Estados Unidos prestar todos os esclarecimentos em relação a produção de carne brasileira.
Vale ressaltar que quando a Operação Carne Fraca foi deflagrada, na segunda quinzena de março, os EUA mantiveram as importações de carne do Brasil, enquanto outros países impuseram embargos temporários. Desde então as autoridades sanitárias americanas passaram a reinspecionar todos os carregamentos que chegavam do Brasil. Nesse período, 11% dos produtos foram rejeitados, conforme informou o Departamento de Agricultura Americano (USDA).
Sem risco sanitário - Em entrevista ao Portal DBO, Enrico Ortolani, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, destacou que os nódulos encontrados pelas autoridades americanas são causados por uma reação alérgica dos animais à vacina de febre aftosa e não têm nenhum tipo de risco sanitário. Ele ressaltou que o problema é comum entre os países que fazem esse tipo de vacinação. No entanto, alertou que o descarte da área da carcaça onde está o caroço é um procedimento básico da indústria frigorífica no momento da toalete.
Inspeção em xeque – As discussões em relação a falhas e corrupção na inspeção de produtos de origem animal têm ganhado força desde a deflagração da Operação Carne Fraca. O Mapa endossa a ideia de que a fiscalização seja feita por fiscais terceirizados. A medida é fortemente criticada por entidades do setor, que afirmam que isso enfraqueceria todo o processo de inspeção pois tiraria a autonomia do fiscal. 
Fonte: Portal DBO

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