Por Portal DBO em 31/05/2017.
Real em baixa pode trazer mais desvantagens do que vantagens para o setor nesse momento de instabilidade política
Ampliar fotoMesa redonda foi organizada pela Mosaic Fertilizantes
Em encontro com jornalistas realizado nesta quarta-feira, 31, em São Paulo, representantes do agronegócio discutiram um aparente paradoxo do setor agropecuário, que pode ver na desvalorização do real uma oportunidade de negócio.
Alexandre Mendonça de Barros, sócio-consultor da MB Agro, ilustrou o caso com uma pergunta feita a ele por um produtor no passado, que disse não saber se torcia para o Brasil ir bem economicamente – o que poderia valorizar a moeda nacional e diminuir a competitividade das commodities produzidas no país no mercado externo, ou ir mal – o que representaria uma queda no faturamento com a lavoura de grãos. Na data de hoje, Mendonça foi taxativo na resposta: “Não dá para você querer que o agro seja o único setor que cresce no Brasil”.
Sem deixar de atribuir a justificativa às taxações atreladas ao desenvolvimento do setor, como a volta do Funrural, Mendonça reconheceu que diferentes pontos precisam ser avaliados.
No caso da agricultura, Paulo de Araújo Rodrigues, diretor do Condomínio Agrícola Santa Izabel, com atividades em São Paulo e Minas Gerais, afirmou que um cenário conturbado exige do agricultor maior capacidade de gestão para superar a crise e sobreviver no futuro, além de investimentos para aumentar a produtividade e ganhar escala. “No que diz respeito a questões externas, ele também precisa que o país ande, que sejam aprovadas reformas (como a trabalhista), e que a infraestrutura evolua, para evitar problemas como os enfrentados em Mato Grosso quanto à armazenagem”, diz.
Pecuária - No mercado da carne, a situação é ainda mais delicada. “ A pecuária está diante de dois desafios evidentes no curto prazo. O primeiro é a enorme concentração dos abates com uma empresa que está vivendo um momento muito conturbado, e a segunda a forte queda na demanda por carnes”, diz Mendonça. Na opinião dele, o preço do boi gordo deve continuar a cair pelo menos no curto prazo. “Eu vejo que a oferta de gado vem se represando desde o episódio da Carne Fraca, e esse represamento, na hora em que os pastos secarem, vai vir para o mercado se somar a um ambiente de contração dos abates por uma empresa relevante”, afirma.
Com o envolvimento da JBS em investigações do Ministério Público, ele acredita em uma reestruturação da indústria de carnes no médio prazo, e em uma redução nos volumes de abate pela empresa. “A questão é como será ocupado esse espaço deixado no mercado, o que traz dúvidas sobre a estabilidade dos preços da pecuária bovina”.
Sem a recuperação econômica do país, Mendonça também observa que não haverá recuperação na demanda por carne. “De um lado, o produtor pode pensar que, com o câmbio mais alto, indo a R$ 3,40, R$ 3,50, se a condição política piorar, vai haver um estímulo às exportações. Mas as exportações são uma parcela bem menos relevante do que o mercado interno”, diz.
Diferentemente do movimento que acontece com a soja ou o milho quando o real se desvaloriza, ele não vê o mesmo cenário se repetindo com a pecuária de corte. “Lamentavelmente, falo também como pecuarista: estou bem desanimado com o cenário para o boi gordo no curto prazo”.
Fonte: Portal DBO
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