quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Como estão os procedimentos de ordenha na sua fazenda?

Por Grupo Apoiar  em 12/12/2017 no site MilkPoint.

A rotina de ordenha é um dos principais procedimentos executados dentro da fazenda que pode afetar a qualidade do leite produzido. É neste procedimento que ocorre a limpeza e desinfecção (antes e depois da ordenha) dos tetos, identificação de mastite clínica, estímulo (periférico) para a descida do leite e, por fim, a ordenha das vacas.

Devido à importância da rotina de ordenha, para a qualidade e volume do leite produzido, é desejável que este procedimento seja muito bem controlado. O controle da rotina de ordenha pode ser feito por indicadores, que auxiliam na mensuração da eficiência de cada tarefa desenvolvida, tais como:

1) Avaliação da eficiência de desinfecção e secagem dos tetos pré-ordenha:esses itens podem ser medidos pela observação do filtro de leite após a ordenha; e/ou pode-se esfregar um paninho branco (ou “gaze”) no orifício do teto e atribuir uma nota (escores variando de 1-4 ou 1-5; Figura 1) de acordo com o grau de sujeira observado:

Figura 1: Exemplo de avaliação do escore de sujidade de ponta de teto de 1 à 4.

ordenha de vacas

2) “Teste da caneca”: a caneca pode ser avaliada de acordo com a presença de grumos no filtro de leite.

3) Tarefa de limpeza das camas/piquetes das vacas: pode ser avaliada de acordo com o grau de sujidade das pernas e úberes das vacas (Figura 2):

Figura 2: Escore de sujidade do úbere. Adaptado de Rugg (2002).

ordenha de vacas
Todas as avaliações devem ser quantificadas, ou seja, devem receber uma nota, para que assim possam ser observadas variações ao longo do tempo (Figura 3).

Figura 3: Exemplo de mapeamento do procedimento de rotina de ordenha.

ordenha de vacas

É interessante que se façam associações entre os indicadores, e muitas vezes essas associações podem ser usadas para motivar a equipe de ordenha. Por exemplo: é esperado que quando as vacas cheguem mais sujas na ordenha (indicador de sujidade de úbere), os orifícios dos tetos também fiquem mais sujos (indicador de limpeza de ponta de tetos), e consequentemente, o filtro de leite também fique mais sujo (indicador de filtro). Porém, pode ocorrer de as vacas chegarem sujas na ordenha, e os orifícios dos tetos e filtros de ordenha apresentarem-se limpos. Isso acontece porque as tarefas de desinfecção e secagem dos tetos antes da ordenha foram muito bem executadas, e isso deve ser reconhecido e demonstrado para os funcionários.

Outra forma de mensurar a eficiência da rotina de ordenha, é avaliar a resposta da vaca à rotina. O principal indicador que mede essa resposta é o percentual de leite produzido nos dois primeiros minutos de ordenha em relação à produção total de leite da vaca nesta ordenha. Por exemplo: uma vaca que produziu 5 L de leite nos dois primeiros minutos de ordenha, e que teve produção total de leite nesta ordenha de 10 L, teve 50% do total de leite produzido nos dois primeiros minutos. É desejável que esse número seja de 40 a 70%, e ele pode variar de acordo com a produção de leite da vaca, frequência e intervalo de ordenhas, regulagem do equipamento de ordenha, entre outros fatores. Cabe ao técnico e ao produtor interpretar esse número, e mais importante do que o número em si, é observar a variação desse número ao longo do tempo e associar essa variação com mudanças de manejo.

4) Desinfecção dos tetos após a ordenha: pode ser avaliada visualmente ou, preferencialmente, periodicamente avaliada com o auxílio de um papel toalha, que envolve (“abraça”) toda superfície do teto com pós-dipping, e logo após observa-se a área de cobertura marcada no papel com o pós-dipping (Figura 4).

Figura 4: Exemplo de aplicação de pós-dipping que deve cobrir toda a superfície da pele do teto.

Desinfecção dos tetos após a ordenha
Qual princípio ativo devo escolher para produtos de desinfecção de tetos?
Diversos princípios ativos para produtos de pré e pós-dipping estão disponíveis comercialmente, como iodo, ácido lático, cloro, peróxido de hidrogênio, clorexidina, compostos fenólicos e ácido dodecil benzeno sulfônico (ADBS). Para se determinar qual princípio ativo deve ser utilizado, é preciso levar em consideração vários fatores, como: a) custo-benefício (é provável que o produto mais eficiente em prevenir mastite seja o com melhor relação custo: benefício, pois o custo do produto é muito inferior ao custo da mastite); b) estabilidade; c) validade; d) segurança para vacas e ordenhadores; e) possível interação com outras substâncias e f) variação da eficiência de acordo com as diferentes espécies de patógenos causadores de mastite.

Alguns estudos realizados in vitro, apontam o iodo como o desinfetante com maior capacidade em eliminar as diferentes espécies de microrganismos (inclusive S. aureus). Porém, um fator importante que deve ser considerado sobre os produtos iodados, é que a concentração de iodo livre dos diversos produtos que existem no mercado pode ser muito variável.

O iodo livre é a pequena parte do iodo que não está complexada, e este é o componente ativo com capacidade germicida dos produtos iodados. Para se ter uma ideia, um dos produtos com maior concentração de iodo livre do mercado, apresenta de 12 a 14 ppm de iodo livre, sendo que a concentração de iodo total deste produto é de 10.000 ppm (1%). Portanto, pode ocorrer que um produto com 0,25% (2.500 ppm) de iodo total apresente maior quantidade de iodo livre do que um produto com 0,50% (5.000 ppm) de iodo total. Adicionalmente, é importante conhecer as principais características e limitações de cada germicida, aumentando assim, a chance de tomar a decisão correta quanto a escolha do produto (Quadro 1).

Quadro 1: Principais características e possíveis limitações para o uso de diferentes princípios ativos disponíveis em produtos de pré e pós-dipping.


O que é o efeito barreira?
Alguns produtos de pós-dipping apresentam uma tecnologia conhecida como efeito barreira. O efeito barreira pode ser um efeito físico e/ou químico, que tem como objetivo reduzir a taxa de novas infecções (principalmente contra patógenos ambientais) durante o intervalo entre as ordenhas. O efeito (barreira) físico se dá pela formação de um filme flexível no orifício do teto, que pode impedir a penetração de microrganismos, e reter o produto e o composto ativo atuando por mais tempo nos tetos. Porém, é preciso ficar atento! Pois, alguns produtos podem apresentar alta viscosidade (produto muito espesso) e formação excessiva de filme.

O efeito (barreira) químico, se dá pelo aumento da capacidade do produto de manter níveis mais altos do componente germicida, e por um período maior de tempo, do que um produto sem efeito barreira. Por exemplo: um estudo observou que um produto com efeito barreira apresentou mais que o dobro de iodo do que um produto sem efeito barreira, uma hora após a aplicação do pós-dipping (Buchalova e Rauer, 2013). A redução da taxa de novas infecções, quando usados produtos iodados com efeito barreira, já foi observada em produtos com 0,25% (Lago et al., 2014) e 1% (Martins et al., 2017) de iodo.

Como posso avaliar visualmente os desinfetantes de teto?
Existem algumas avaliações visuais que podem indicar a eficiência do produto de desinfecção de tetos. Por exemplo: o escore de pele dos tetos, está associado às propriedades condicionantes do desinfetante de tetos. Essa avaliação pode ser feita a partir de um escore de pele do teto, que varia de 1 a 5, sendo o escore 1 como completamente hidratado e 5 completamente desidratado (Figura 5).

Uma boa meta é que 85% ou mais dos tetos, apresentem escores 1 ou 2. É sempre importante também avaliar: a) a homogeneidade do produto (observar se não há decantação); b) cheiro; c) observar temperatura, vermelhidão e irritação da pele dos tetos e dos ordenhadores; d) desconforto (“sapateamento”) das vacas durante o teste da caneca e durante a ordenha.

Figura 5: Escore de pele de tetos. Fonte: DeLaval.



Outra avaliação que pode ser feita, é a de capacidade de limpeza do produto de pré-dipping, e a de capacidade de remoção do produto de pós-dipping. O escore de limpeza dos orifícios dos tetos pode indicar a capacidade do produto de pré-dipping de limpar o orifício dos tetos, e também pode indicar a capacidade do produto de pós-dipping de ser removido antes da ordenha.

A presença de matéria orgânica no algodão (ou “gaze”) pode indicar falha de limpeza pelo produto de pré-dipping, e a presença de resíduos de pós-dipping pode indicar dificuldade de remoção deste produto. A visualização de filme nos tetos, causada por acúmulo do produto de pós-dipping não é desejável (Figura 6), pois pode aumentar o risco de resíduo no leite e a quantidade de matéria orgânica aderida aos tetos, além de dificultar a remoção do produto pelo ordenhador. Além disso, o excesso de viscosidade pode reduzir a capilaridade do produto (Figura 7), o que reduz a penetração do produto pelo canal do teto, e consequentemente, a eliminação de bactérias que possam estar ali presentes (por exemplo, estafilococos coagulase-negativa - ECN). Infelizmente, muitas vezes a viscosidade do produto é erroneamente associada à sua eficiência.

Figura 6: A esquerda, matéria orgânica aderida ao produto de pós-dipping. A direita, formação excessiva (indesejável) de filme no teto.



Figura 7: Teste para comparar a capilaridade de 2 produtos iodados, utilizando um capilar sanguíneo. A esquerda, o produto menos espesso consegue subir para dentro do capilar (maior capilaridade), a direita, o excesso de viscosidade não deixa o iodo ascender pelo capilar.


Referências bibliográficas 
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Buchalova, M., e E. Rauer. 2013. Improved persistence of iodine-based teat disinfectant: in vitro study. NMC Annual Meeting Proceedings. pp. 195-196.

Lago, A., Mario Lopez-Benavides, Maria Buchalova, Eli Rauer, e Tom Hemling. 2014. Longer iodine persistence on teats improves prevention of new intramammary infections under natural exposure conditions. NMC Annual Meeting Proceedings.

Mario G. López-Benavides. 2014. Must know facts about teat disinfectants and their role in the prevention of mastitis in modern dairy herds. Proceedings of the British Mastitis Conference. Sixways, Worcester, p 25 – 31.

Martins, C. M. M. R., E. S. C. Pinheiro, M. Gentilini, M. Lopez Benavides, e M. V. Santos. 2017. Efficacy of a high free iodine barrier teat disinfectant for the prevention of naturally occurring new intramammary infections and clinical mastitis in dairy cows. J. Dairy Sci. 100:3930–3939.

Pankey, J. W., e P. A. Drechsler. 1993. Evolution of udder hygiene. Premilking teat sanititation. Vet. Clin. North Am. Food. Anim. Pract. 9:519-530.

Pankey, J. W., R. J. Eberhart, A. L. Cuming, R. D. Daggett, R. J. Farusworth e C. K. Mcduff. 1984. Update on postmilking teat antisepsis. J. Dairy Sci. 67:1336-1353.

Quirk, T., L. K. Fox, D. D. Hancock, J. Capper, J. Wenz, e J. Park. 2012. Intramammary infections and teat canal colonization with coagulase-negative staphylococci after postmilking teat disinfection. Species-specific responses. J. Dairy Sci. 95:1906-1912.

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