Em 30/11/2017 no site MilkPoint
Apesar das premissas básicas com os cuidados dos recém-nascidos, o manejo de bezerras leiteiras é diferente em cada propriedade, de acordo com o sistema de alimentação, manejo e até preferências do criador. Observam-se diferenças especialmente quando uma propriedade adota o sistema de produção orgânico, o qual demanda cuidados devido as normas impostas pelo sistema de certificação. Em um estudo realizado pela The Ohio State University, foi possível comparar as atitudes dos produtores durante o manejo de bezerras leiteiras entre fazendas convencionais e orgânicas (Pempek et al., 2017).
Bezerros têm alto risco de morbidade e mortalidade, portanto entender as atitudes dos produtores é importante para implementar práticas que melhorem a saúde dos animais e seu bem-estar. Uma pesquisa enviada por e-mail para produtores convencionais e orgânicos nos Estados de Ohio e Michigan incluiu perguntas sobre as principais etapas da criação: a separação do bezerro da mãe, colostragem e o uso da vacinação, com o intuito de identificar a frequência dessas práticas nos diferentes sistemas.
As perguntas foram desenvolvidas por veterinários, produtores de leite e especialistas em bezerros da The Ohio State University. Juntamente com o questionário, foi enviada uma carta introdutória, relatando que as respostas seriam confidenciais e deveriam ser respondidas pelo funcionário com maior contato com os bezerros. Foi realizado um estudo piloto e os envolvidos chegaram em um questionário final com 71 perguntas sobre a saúde dos bezerros. A pesquisa também foi utilizada para chamar a atenção dos produtores dos riscos e benefícios das práticas utilizadas por eles. Participaram da pesquisa um total de 449 produtores convencionais e 172 produtores orgânicos.
Tamanho do rebanho, instalações da maternidade, método de fornecimento de colostro e vacinação foram práticas que diferiram entre os produtores. Por exemplo, 56% dos produtores convencionais possuíam rebanhos pequenos (menos que 100 vacas) e 39% possuem um rebanho médio (em torno de 100 a 499 vacas), enquanto a maioria dos produtores orgânicos, em torno de 94%, apresentam um rebanho pequeno.
A maioria dos criadores convencionais (64%) separaram os bezerros das mães com 30 minutos a 6 horas após o parto (Figura 1). Em contraste, 42% dos criadores orgânicos separam os animais nesse mesmo período de tempo e 34% reportam separar o bezerro da mãe em um período de 6 a 12 horas após o parto. Poucos produtores, tanto orgânicos como convencionais, reportaram separar o bezerro da mãe após 12 horas de nascimento, mas desses que relataram, a maioria são produtores orgânicos. A separação tardia pode trazer desvantagens para o animal e para o produtor, expõe os bezerros a um maior número de patógenos e não garante uma boa colostragem, realizada em tempo, quantidade e qualidade correta. A oferta de colostro garante a sobrevivência e saúde do animal durante toda sua vida, por isso deve ser feita de maneira adequada.
Figura 1. Porcentagem de produtores de leite convencionais e orgânicos que reportaram separar os bezerros recém-nascidos das mães em um tempo menor que 30 minutos, 30 minutos a 6h, 6h a 12h, 12h a 18h, 18 a 24h ou até mais que 24h. Houve uma diferença significativa entre os sistemas de produção.
Esses resultados podem ser explicados pelo fato dos produtores orgânicos serem mais favoráveis a ideia de adiar a separação em até 2 horas após o parto, pois acreditam ser benéfico para a saúde da vaca e do bezerro. Por outro lado, os tratadores de fazendas convencionais acreditam que a separação com até 1 hora após o parto acontece devido as facilidades no manejo da fazenda e suas instalações.
Operações orgânicas enfatizam os componentes de bem-estar dos animais, que inclui a habilidade de realizar comportamentos naturais como: o contato maternal e mamar nas mães. Entretanto, a realização da separação precoce entre os produtores convencionais é impulsionada pelo desejo de melhorar a saúde do animal, enquanto entre os produtores orgânicos, é realizada de uma maneira que seja possível incorporar comportamentos naturais do animal.
A maioria dos produtores convencionais (68%) reportou fornecer de forma controlada o colostro para os bezerros recém-nascidos, enquanto apenas 30% dos produtores orgânicos adotam essa técnica. Em contraste, mais produtores orgânicos (38%) deixam os bezerros com as mães para mamar o colostro, enquanto apenas 13% dos convencionais deixam a colostragem por conta das mães. Finalmente, 17% de convencionais e 30% dos orgânicos reportaram combinar a mamada livre do colostro com o fornecimento à mão.
Sobre as instalações, 38% dos produtores orgânicos reportaram uso de abrigos individuais para bezerros, uma quantia similar aos produtores convencionais. Mas os produtores orgânicos relataram diferenças quanto as características das instalações, sendo essas basicamente formadas por pastagem.
A pergunta “Durante suas operações rotineiras são utilizados instrumentos como o colostrômeto ou refratômetro para medir a qualidade do colostro fornecido para o recém-nascido?” teve resposta negativa independente do sistema, a grande maioria reportou não utilizar nenhum instrumento. Apenas 10% e 3% de produtores convencionais e orgânicos, respectivamente, reportaram utilizar instrumentos (Figura 2).
Figura 2. Porcentagem de produtores de leite orgânico e convencional que reportaram medir a qualidade do colostro. As respostas diferiram de acordo com o tamanho do rebanho. Um único produtor orgânico com um rebanho grande (> 500 vacas), participou do questionário e ele reportou realizar a medição da qualidade do colostro.
Quarenta e quatro por cento dos produtores convencionais e 14% de produtores orgânicos, reportaram vacinar seus bezerros para doenças respiratórias. Os autores do trabalho acreditam que pelos criadores orgânicos manejarem seu rebanho de forma diferente, é possível que as doenças respiratórias ocorram com menor frequência e que a vacinação não se faz necessária. Por exemplo, Bidokthi e seus colaboradores (2009) observaram que rebanhos na Suiça apresentaram menor incidência de doenças respiratórias que os rebanhos criados de forma convencional. E finalmente as taxas de mortalidade não tiveram diferença significativa entre os diferentes sistemas de criação.
Com esse trabalho é possível observar os diferentes estímulos que impulsionam os produtores a tomarem suas atitudes. É possível concluir que a tomada de decisão dos produtores se difere por múltiplas razões: promover a saúde dos animais, instalações da propriedade, facilidade no manejo, preservar o comportamento natural dos animais e interação social entre eles. Este trabalho sugere que existem grandes e importantes diferenças entre produtores orgânicos e convencionais no que tange as atitudes e práticas de manejo que afetam a saúde de bezerras.
Da mesma forma, produtores orgânicos e convencionais discordam dos benefícios e riscos de práticas comuns de manejo de bezerras, especialmente aquelas relacionadas a separação do bezerro, fornecimento de colostro e vacinação. Estudos futuros podem identificar práticas individuais que promovam maior eficiência no manejo e possam ser utilizadas por ambos os sistemas, podendo então, atender as necessidades dos animais e promover uma boa produtividade. Essas informações são importantes para desenvolver programas que orientem os produtores e promova o desenvolvimento dos animais.
Referências bibliográficas
Bidokhti, M. R., M. Tråvén, N. Fall, U. Emanuelson, and S. Alenius. 2009. Reduced likelihood of bovine coronavirus and bovine respiratory syncytial virus infection on organic compared to conventional dairy farms. Vet. J. 182:436–440.
Pempek, J.A.; Schuenemann, G. M. ; Holder, E. and Habing, G. G. 2017. Dairy calf management—A comparison of practices and producer attitudes among conventional and organic herds J. Dairy Sci. 100:8310–8321.
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