Janielen da Silva
Pesquisadora da Clínica do Leite
Doutoranda em Ciência Animal e Pastagens – ESALQ/USP
Pesquisadora da Clínica do Leite
Doutoranda em Ciência Animal e Pastagens – ESALQ/USP
A Nova Zelândia está entre os principais países produtores de leite do mundo. Segundo dados das companhias locais que atuam no setor, a produção de leite no último ano foi de 21 milhões de toneladas. Além da alta produção, o país também se destaca pelo elevado padrão de qualidade do produto, com baixos índices de CCS e CBT.
Visitando fazendas no país, durante quatro meses, pude observar alguns segredos de todo esse sucesso. E o que mais me surpreendeu nessas visitas foi que me deparei com vários ensinamentos que já tinha aprendido no Brasil, por meio do Sistema MDA (Master Dairy Administration, sistema de gestão desenvolvido pela Clínica do Leite). Isso porque a principal diferença entre os produtores do Brasil e os da Nova Zelândia está relacionada à gestão da propriedade.
No Brasil, a maior parte dos produtores de leite ainda não consegue enxergar a fazenda como um negócio e, por isso, não têm como prioridade um sistema de gerenciamento realmente eficiente. Essa carência de gestão piora as crises que ocorrem em momentos de baixa nos valores de pagamento do leite, como aconteceu recentemente. Somente com um sistema de gestão adequado se torna possível reduzir custos e aumentar o lucro da fazenda. É o “litro produzido a mais” que gera a rentabilidade e a sobrevivência do negócio!
Nas fazendas neozelandesas, encontrei vários princípios, ferramentas e práticas sugeridos pelo Sistema MDA. Um deles é a liderança, evidente nas propriedades em que visitei. Nelas, a maior parte dos donos das fazendas está presente, diariamente, acompanhando as atividades dos funcionários. E grande parte deles está todos os dias na ordenha.
Também pude perceber uma dos fatores mais importantes para a boa qualidade do leite: o treinamento dos empregados e a existência de procedimentos operacionais para as atividades que eles realizam. É comum encontrar, nas fazendas, quadros de avisos sobre as atividades que devem ser realizadas durante a semana, bem como de procedimentos que precisam ser lembrados.
Outra prática que chama a atenção na Nova Zelândia é a rotina fixa de atividades. Durante todos esses meses em que fiquei observando a ordenha, a alimentação dos bezerros, o tratamento das vacas, a higiene, entre outros, reparei que tudo sempre é feito do mesmo jeito. Existem protocolos definidos, que não são alterados. Não se muda a dieta, o tratamento das vacas ou o fluxo de trabalho. Assim, por exemplo, existe um procedimento a ser seguido para cada doença que surge na propriedade, de modo que o funcionário já sabe como proceder caso a vaca apresente alguma enfermidade.
Mais uma vez, vem à tona um dos ensinamentos mais importantes do MDA: a padronização. Afinal, não é possível saber onde se está errando caso haja formas diversas de executar as tarefas e, como consequência, variação nos dados coletados na fazenda. Somente por meio da padronização dos processos que poderemos reconhecer a causa da variação de indicadores. As fazendas produtoras de leite da Nova Zelândia comprovam que esse é o caminho para a melhoria contínua da produção.
As crises enfrentadas pelo agronegócio brasileiro exigem que nos espelhemos em países que apresentam eficiência no setor. Embora a realidade desses países seja diferente da brasileira em vários aspectos - do clima à regulamentação - existem medidas simples, que independentemente do contexto, são perfeitamente aplicáveis em nosso país. A maioria delas está relacionada à gestão. Assim, só será possível melhorar a produção e a qualidade do leite no Brasil se o produtor estiver consciente de que sua fazenda é um negócio, como qualquer outra empresa do país e que, como tal, necessita de um gerenciamento adequado para sobreviver e prosperar.
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