Por outro lado, a indústria, “plugada” em negociações semanais que mostram preços em queda no atacado pelos seus principais produtos (principalmente o leite UHT, que teve pico de preços em abril e, desde então, vem caindo no atacado), quer, ao mesmo tempo, preservar volumes de compra de leite de produtores diretos e transferir aos fornecedores a baixa que vem tendo pelo seu produto há quase 2 meses.
Cria-se então um enorme desconforto entre indústrias e produtores: um está vendo o mercado subir, suportado pelo indicador de preços do mercado, que reflete um leite entregue no mês anterior. Para o outro, a realidade é bem diferente e os sinais são de claro enfraquecimento do mercado.
Este é um sério problema que ainda persiste na cadeia láctea brasileira: muitas vezes o fluxo e o “timing” das informações divulgadas são diferentes para os diferentes agentes. Este desalinho vem da própria estrutura de funcionamento do mercado: o leite fornecido durante o mês de maio (há quase 2 meses!) é pago durante o mês de junho (no início do mês para algumas empresas, mas no fim do mês para muitas delas). Em função deste prazo de pagamento (que pode chegar a quase “25 dias fora mês”, usando o linguajar do mercado), os indicadores de preço referentes ao leite fornecido no mês de maio só podem ser fechados e divulgados no final de junho/começo de julho. Está, portanto, estabelecida a confusão!
Neste ponto, é interessante observar o gráfico 1, que mostra a evolução dos preços do leite no mercado spot (média Brasil, segundo os dados apurados aqui pelo MilkPoint Mercado) e os preços brutos médios Brasil, divulgados pelo Cepea.
Gráfico 1. Preços de leite fresco médios Brasil – mercado spot e ao produtor.
Além de indicações interessantes como o fato do leite spot ter variações (para cima e para baixo!) muito mais fortes do que o leite ao produtor (quando baixa, o leite spot chega a ser mais barato do que o leite ao produtor, por mais estranho que isso possa parecer...!) e a constatação de que há uma correlação não desprezível entre estes preços ao longo do tempo, verifica-se que há um intervalo, de 1 a 2 meses, entre a queda no spot (que, via de regra, acontece antes) e o início da queda dos preços ao produtor.
Considerando que, segundo o levantamento do MilkPoint Mercado, o spot começou a cair na primeira quinzena de maio (há 4 quinzenas!), pode-se, então, considerar provável um início de recuo nos preços médios aos produtores no pagamento de junho (pelo leite fornecido em maio). Ou seja, a média Cepea de junho deve vir com uma baixa de preços ou, na melhor das hipóteses, com valores estáveis em relação a maio.
É claro que, como diz o ditado, “expectativa e time de futebol, cada um tem o seu”, mas é importante entender as informações do mercado e, principalmente, o seu “timing”. Certamente ajudará nas já não fáceis relações entre produtores de leite e indústrias processadoras.
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