SF Artigos - Por Neimar Correa Severo em 08/01/2018
O manuseio adequado do sêmen congelado é essencial para manter ótimos resultados nos programas de inseminação artificial, tanto com sêmen sexado como com o convencional. Para manter a alta qualidade da inseminação, o técnico inseminador deve prestar atenção em muitos detalhes durante o manuseio do sêmen congelado.
1 – Congelamento e armazenagem
O sêmen congelado é embalado em palhetas plásticas, conhecidas como palhetas médias, com volume útil de 0,50 mililitros, e palhetas finas, com volume de 0,21 mililitros, para o sêmen convencional. As palhetas são armazenadas em hastes de alumínio chamadas “raques” ou em “globets” plásticos, contendo dez palhetas por haste para o volume de 0,50 ml e 20 palhetas por haste para o volume de 0,21 ml.
A parte superior da haste ou raque é identificada com um código de duas letras (raça abreviada) e o número do touro na central. O procedimento para o manuseio é o mesmo para ambos os volumes de sêmen. Os containers de alumínio ou botijões de armazenagem contêm nitrogênio na forma líquida a 196ºC negativos de temperatura.
2 – Como manusear ao retirar do botijão?
Para evitar manuseios desnecessários, deve ser feito um inventário detalhado, para que as palhetas possam ser localizadas facilmente e retiradas rapidamente do botijão, evitando exposição demasiada à temperatura ambiente. Toda a raque contém o número de identificação do touro na Alta Genetics, o que facilita a localização do sêmen.
A caneca que contém o sêmen deverá ser levantada até no máximo cinco centímetros abaixo da boca do botijão para que a dose seja retirada. Nesse manuseio é essencial o uso de uma boa pinça para remover a palheta. O tempo total para a retirada de seu interior não deve ser superior a dez segundos para qualquer tipo de embalagem (palheta média ou fina).
Caso não consiga identificar e retirá-lo em dez segundos, o técnico deve abaixar a caneca até o fundo do botijão e dez segundos depois recomeçar a operação. Após retirar o sêmen do botijão, nunca o deixe sem a tampa, para evitar evaporação do nitrogênio líquido.
3 – Evite a exposição à temperatura ambiente
É preciso evitar expor o sêmen à temperatura ambiente porque as alterações causadas nos espermatozoides, tanto na motilidade como nas membranas citoplasmáticas, ocorrem acima de 79ºC negativos. Essas lesões não voltam ao normal depois que o sêmen retorna para a temperatura do nitrogênio líquido.
A palheta fina é mais sensível e manuseios errados provocam alterações na temperatura interna da palheta, com perda na qualidade e redução da fertilidade. O menor diâmetro a torna mais sensível a erros de manuseio. Lembre-se que a temperatura ambiente afeta o tempo de exposição do sêmen na boca do botijão. Em temperaturas ambientes de 36ºC, os efeitos são mais prejudiciais do que em temperaturas ambientes de 18ºC, por exemplo. Correntes de vento direto na boca do botijão de armazenagem também prejudicam a qualidade do produto.
4 – Como descongelar corretamente?
Após remover a palheta do botijão, sacuda-a rapidamente para retirar a bolha de nitrogênio que fica no tampão de algodão no final da palheta e coloque-a na água morna entre 35 e 37ºC, mantendo-a pelo menos 30 segundos mergulhada na água antes de retirá-la para o uso. Utilize a pinça plástica para remover a palheta da raque. É importante checar a temperatura da água do banho antes de descongelar a palheta. Lembre-se sempre que a água deve estar entre 35 e 37ºC.
5 – Não descongele direto na vagina da vaca
Descongelar o sêmen diretamente na vagina da vaca compromete a qualidade da inseminação. O método ideal para descongelar o sêmen é na água morna entre 35 e 37ºC, por no mínimo 30 segundos. Muitos estudos comprovam que nenhum outro método se mostra tão eficiente no campo como o banho na água morna na temperatura indicada acima.
Quando o sêmen é descongelado com outros métodos, como no bolso, na vagina da vaca, na mão ou em água na temperatura ambiente, o tempo de descongelamento é maior, provocando danos nas muitas estruturas sensíveis do espermatozoide, pela reorganização dos cristais de gelo durante a reversão do processo de congelamento.
Na temperatura entre 35 e 37ºC, por no mínimo 30 segundos, a velocidade de descongelamento do sêmen é rápida o suficiente para evitar que os cristais de gelo provoquem lesões nas membranas do espermatozoide, promovendo uma sobrevivência maior de células viáveis, com melhor qualidade do sêmen.
6 – Só descongele as doses necessárias
Caso seja necessário, descongele o número de doses que possam ser utilizadas dentro de cinco minutos, no máximo. A vantagem de descongelar em água morna só se mantém se o sêmen for usado logo após o descongelamento. Na verdade, não é o número de doses descongeladas, mas sim a capacidade do inseminador, bem como as condições das instalações de contenção, que vão determinar a quantidade de doses descongeladas ao mesmo tempo. Num programa de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) bem conduzido, podem ser descongeladas até cinco doses por vez. É importante lembrar que isso só pode ser feito em descongeladores eletrônicos com bom volume de água.
7 – Sacuda a palheta
Você pode sacudir a palheta antes de cortar a ponta lacrada. Sacudir a palheta ajuda a mover a bolha de ar para a ponta lacrada, diminuindo a perda de sêmen em torno de um a cinco por cento, não danificando os espermatozoides.
8 – Proteja o sêmen
É importante proteger o sêmen sempre. Mesmo depois de descongelar o sêmen, devemos proteger os espermatozoides contra o choque térmico. Em ambientes frios, devemos aquecer o aplicador de sêmen, friccionando-o com a mão, e em ambientes quentes, devemos evitar o calor excessivo, porque ambos podem reduzir a fertilidade. Até a aplicação na vaca o sêmen deve ser protegido do choque térmico.
9 – Transporte
Algumas empresas recomendam o descongelamento do sêmen para o transporte na água morna por várias horas, mas essa recomendação é inadequada. O sêmen congelado só pode ser transportado no nitrogênio líquido. É um erro recomendar o transporte na água morna entre fazendas, mesmo que estejam próximas uma da outra.
Acontece que os espermatozoides descongelados, quando mantidos na água morna, entre 35 e 37ºC, perdem vitalidade à medida que o tempo passa. Eles gastam sua própria energia e, depois, trocam substratos com o diluente, tornando o ambiente desfavorável para sua sobrevivência. O tempo máximo recomendado para permanecer na água morna é cinco minutos entre 35 e 37ºC.
10 – Armazenagem
O sêmen armazenado em “globet” plástico tem mais qualidade que o armazenado na raque. O “globet” plástico protege adequadamente o sêmen durante o manuseio nas transferências e retiradas do botijão, pois mantém as palhetas mergulhadas no nitrogênio líquido, com uma boa margem de segurança, desde que obedecidos os dez segundos de exposição no gargalo do botijão, conforme a resposta número dois.
11 – Avaliação
Não é recomendável avaliar o sêmen na própria fazenda. A avaliação é um trabalho difícil, que exige muitos cuidados, antes e durante a análise da amostra, para que dê bons resultados. Se o veterinário não é suficientemente treinado em manuseio de sêmen congelado, estimativa de motilidade, contagem de células em câmaras hematimétricas e morfologia espermática, é provável que ocorrerão erros na interpretação da qualidade da amostra analisada. O melhor é encaminhar a amostra para o laboratório da Alta Genetics, que fará a reanálise do sêmen.
* Neimar Correa Severo é responsável técnico da Alta Genetics. É médico veterinário pela Universidade da Região da Campanha (Urcamp) e especialista em Produção e Reprodução de Bovinos pelo Instituto Qualitas da Universidade Castelo Branco (UCB)
Artigo original do site SF Agro | Farming Brasil: http://sfagro.uol.com.br/inseminacao-artificial-semen-congelado/
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