Por Portal DBO em 03/01/2018
A construção do curral exige investimento alto. Por isso é preciso conservá-lo. Algumas medidas simples e baratas, como calçar o arame das remangas, fazer drenos em pontos estratégicos para evitar a formação de lama e impermeabilizar – do jeito certo – palanques de madeira ajudam a prolongar a vida útil da instalação. A reportagem de DBO ouviu especialistas no assunto que deram dicas preciosas para ajudá-lo na conservação do seu curral. Confira!
Calçar o arame dá sustentação às remangas - O arame das remangas, aqueles piquetes projetados no entorno do curral que têm como função alojar os animais enquanto esperam pelo início do manejo ou retorno ao seu pasto de origem, tende a se afrouxar com o passar do tempo. Não apenas em razão do uso, mas também pela exposição direta às intempéries, como as altas temperaturas, que dilatam o material. Para evitar que isso aconteça basta colocar cunhas – pequenos pedaços de madeira – nos vãos das lascas (mourões) por onde correm o primeiro e o último fios de arame da cerca. A cunha deverá ser colocada em ambos os lados. Deste modo, se o animal força a cerca de um lado, o calço do lado oposto evitará o afrouxamento. “A estrutura se mantém travada, o que dá sustentação para a cerca como um todo”, afirma Renato dos Santos, consultor técnico da Beckhauser, de Paranavaí, PR. Com as cunhas, a força exercida pelos animais atua sobre a cerca inteira e é dividida entre as lascas e os palanques (esticadores). O mesmo pode ser feito nas cordoalhas que substituem as tábuas de madeira das mangas (ou mangueiros) nesses modelos de curral.
Drenos evitam a formação de lama - Ao escolher o local para a construção do curral, deve-se priorizar terrenos com boa drenagem e declividade que permita o escoamento da água da chuva. Quando o curral já está pronto, no entanto, e começam a surgir problemas de encharcamento, a saída é construir drenos em pontos estratégicos. O principal deles deve ser feito do centro para fora do curral. Com o auxílio de uma retro-escavadeira, abre-se uma valeta de 1 m a 1,5 m de fundura por toda a extensão onde se deseja construir o dreno. A profundidade depende do tipo de solo. “Nos solos mais argilosos, pode-se aprofundar até 2 m”, aconselha Dirceu Alves Torralvo, administrador da Fazenda Arca de Noé, em Guairaçá, PR. Depois de aberta, a valeta é preenchida com pedras grandes até 30 cm da superfície, quando é colocada uma malha de drenagem, conhecida como manta Bidim. “Na falta dela podem ser utilizadas pedras pequenas, que desempenham a mesma função de filtro, permitindo a passagem da água e retendo as partículas sólidas”, explica Torralvo. Para finalizar, o espaço é preenchido com terra até a superfície.
De acordo com o consultor Renato dos Santos, nem sempre é possível, pela configuração do curral, fazer com que o dreno principal passe no vão das porteiras, onde a formação de lama é maior. Nesse caso, o recurso é cavar um buraco no local, de mesma profundidade e realizando igual procedimento de drenagem. Outras valetas devem ser construídas no curral, formando uma espécie de malha ou espinha de peixe – não necessariamente convergindo para o dreno principal – com uma distância de 1,5 m um do outro. Currais bem drenados, além de prevenir problemas sanitários (a lama é uma das principais responsáveis por afecções podais nos bovinos), têm maior durabilidade. Evitam- -se gastos com reformas periódicas, porque os palanques não sofrem a ação da umidade por longo tempo.
Terra sim, pedra não! - Mesmo que o curral tenha um bom sistema de drenagem, o manejo dos animais, em especial nas épocas de trabalho mais intenso, como nas campanhas de vacinação contra a febre aftosa, por exemplo, requer cuidados rotineiros. O vai e vem dos animais inevitavelmente desloca a terra, em especial na entrada e saída das porteiras, onde as reses passam mais apressadamente. “Na minha opinião, a principal manutenção de um curral é a reposição de terra para tapar os buracos imediatamente após o trabalho”, afirma Santos. Essas áreas côncavas, além de favorecerem o acúmulo de água e a consequente formação de lama, deixam os palanques mais expostos, o que provoca um desgaste prematuro.
Na tentativa de solucionar a questão, muitos produtores recorrem a pedras, o que, além de não resolver o problema, cria outro. “As pedras se soltam com facilidade. O boi pisa em falso, se machuca, quebra a ponta do casco”, diz. Do mesmo modo, restos de construção e cascalho, muito utilizados para esse fim, devem ser evitados. “Quando me perguntam sobre isso, respondo da seguinte maneira: tire a bota e apoie o pé sobre o cascalho que você quer jogar no piso do seu curral. Se você aguentar, o boi também aguenta”.
Piso de concreto sem degrau - É muito comum o produtor concretar o piso da seringa (repartição do curral que dá acesso ao tronco coletivo) ou do corredor que dá acesso a ela. O problema é que o concreto costuma terminar abruptamente, formando um degrau com o chão batido. Na medida em que os animais percorrem o trajeto, a terra na “divisa” entre os pisos é removida pela ação dos cascos. “Casco de boi é uma britadeira”, brinca Santos. Em pouco tempo a porção que está embaixo da laje “desbarranca”, assim como acontece na borda das calçadas de cochos. “Sem apoio do chão firme, a ponta do concreto se quebra facilmente”, diz. Para evitar que isso aconteça, deve-se construir, na extremidade da laje, uma rampa de concreto com inclinação de cerca de 45º. Esse “prolongamento” do piso deve se estender por 40 cm a 50 cm de profundidade, sendo totalmente recoberto por terra. “Dessa forma, não forma buraco e nem quebra a laje”, afirma.
Madeira protegida da “cabeça aos pés” - Passar “óleo queimado” (lubrificante usado de veículos) para proteger palanques e tábuas é uma prática bastante difundida nas fazendas, mas será que esse método é eficiente? Segundo o consultor, esse produto pode ser usado com essa finalidade, desde que de modo adequado. “Não adianta somente pintar o palanque com uma brocha, porque não resolve”. Para melhorar o efeito impermeabilizante do óleo, explica Santos, é preciso mergulhar a peça em um recipiente – um tambor, por exemplo - cerca de 10 cm a mais do que a altura que se deseja enterrar no chão e deixá-lo descansando de um dia para o outro. “É para que o óleo penetre uns 3 mm a 4 mm na madeira”, afirma. Nas tábuas, pode-se aplicar impermeabilizante asfáltico, que é bem mais caro, mas é mais eficiente que o óleo queimado. A “cabeça” dos palanques pode ser protegida com um recorte de lata, por exemplo, mas (detalhe importante) deve-se fixa-lo na lateral do palanque, nunca em cima dele, para que a água não penetre pelo furo do prego.
Acima de tudo, bem-estar animal - “Para mim, o ponto mais importante para conservar o curral é o manejo racional adotado na propriedade”. A frase dita por Dirceu Torralvo, da Fazenda Arca de Noé, encontra respaldo no pensamento de Matheus Paranhos, coordenador do Etco – Grupo de Estudos e Pesquisas em Ecologia e Etologia Animal. Segundo Paranhos, a durabilidade dos diferentes componentes de um curral está diretamente relacionada ao estresse. “Num curral lotado, o piso estraga mais rápido, a chance de as porteiras quebrarem é maior, as cordoalhas afrouxam com mais facilidade”, afirma. O especialista pontua dois aspectos importantes a serem observados.
Primeiro: evitar a sobrecarga (em situações em que todos animais se agrupam em um dos lados da remanga, pelo menos metade da área deve ficar livre, como preconiza Temple Grandin, uma das maiores especialistas mundiais sobre o tema). Segundo: fazer vistorias periódicas na instalação. “Dessa forma, as reformas necessárias são feitas de modo mais rápido, com menos mão-de-obra e baixo investimento”. Outra medida importante é limpar os equipamentos, como tronco de contenção individual e balança, após o dia de serviço. Deixar os equipamentos sujos tem um custo muito alto, porque depois que o barro e as fezes secam, o operador precisa forçá-lo para funcionar corretamente, e muitas vezes acaba por quebrá-los.
*Matéria originalmente publicada na edição 439 da Revista DBO.
Fonte: Portal DBO
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