Em 20/04/2017 no site MilkPoint.
No artigo anterior, fizemos uma abordagem sobre os aspectos relacionados à fertilidade dos bovinos oriundos de cruzamentos entre raças leiteiras, evidenciando alguns trabalhos científicos publicados em diferentes partes do mundo sobre o desempenho dos produtos. Neste texto, vamos iniciar uma discussão sobre adaptabilidade e rusticidade, focando nesta primeira parte, os fatores que estão relacionados especialmente com o “estresse térmico” ou “estresse por calor”, tema que possui grande importância para a pecuária leiteira de regiões tropicais e subtropicais, como é o caso do Brasil.
De acordo com Pereira (2012), há uma grande variação nas práticas de produção de leite no Brasil. É possível encontrar a adesão de sistemas intensivos com gado europeu (taurino) e explorações extensivas com animais zebuínos ou azebuados. Nas diferentes regiões brasileiras, principalmente naquelas com condições adversas de ambiente, os produtores foram introduzindo, em seus rebanhos, raças leiteiras capazes de produzirem com menores custos, como os zebuínos puros ou mestiços, com animais mais resistentes, estimulando-os a permanência na atividade (SANTOS et al., 2013).
Pereira (2012) concorda ao reforçar que em virtude das condições de meio, predominantes na região Sudeste, por exemplo, os cruzamentos entre raças taurinas especializadas com zebuínas, têm sido amplamente empregados. Resultados de pesquisa, já discutidos por Madalena em publicação de 1998, demonstram que o genótipo F1 leiteiro (fêmea meio-sangue Holandês x Zebu) adapta-se melhor e proporciona maior rentabilidade em ambiente tropical.
Figura 1 - Em virtude das condições de meio das regiões tropicais e subtropicais, os cruzamentos entre raças taurinas especializadas (como a Holandesa) com zebuínas (como a Gir de aptidão leiteira), têm sido amplamente empregados. Foto: Girolando.
O agravante “estresse térmico”
A partir disso, alicerçando-se no trabalho desenvolvido por Pegorini (2002), o qual mensurou os efeitos do estresse térmico em rebanhos leiteiros de alta produção, ficou evidente a maior atenção ao grande impacto econômico que representa à indústria leiteira a falta de adaptabilidade dos animais em exploração. Bem por isso, Daltro (2014) afirma que atualmente no Brasil há uma crescente preocupação com o conforto de animais em sistemas de produção, por ser um país predominantemente de clima tropical e subtropical, com altas temperaturas médias durante o ano na maior parte do seu território, o que favorece o estresse por calor.
Com relação ao rebanho mundial, dados apontam que aproximadamente 64% dos animais são criados em regiões tropicais (AZEVEDO et al., 2005) estando expostos ao estresse térmico. Inclusive os rebanhos leiteiros localizados no sul dos Estados Unidos estão propensos a longos períodos de tempo quente ensejando estresse térmico (WASHBURN, 2002; WEST, 2003).
Em regiões de clima subtropical úmido do Brasil, como o Rio Grande do Sul, conforme há um aumento nas temperaturas globais, associado com um aumento na capacidade de produção dos bovinos, o estresse térmico passa cada vez mais a representar um grande desafio para a produtividade e o maior exemplo é o impacto que esta limitação causa nessas regiões (PEGORINI, 2002). A autora acrescenta em sua revisão, que a preocupação com essa situação é particularmente importante em rebanhos leiteiros por duas razões:
- À medida que aumenta a sua produtividade, o bovino eleva a sua necessidade de ingestão de alimento e, consequentemente, sua produção de calor metabólico.
- A outra, é que países como Estados Unidos, Brasil e Israel, onde estão localizados rebanhos de alta produção no mundo, estão situados em regiões sujeitas a altas temperaturas.
Daltro (2014) complementa ao explicar que as temperaturas elevadas presentes no cenário tropical em virtude da significativa radiação solar incidente, associadas ao maior metabolismo dos animais acabam dificultando a adaptação de raças leiteiras taurinas nestas regiões, fazendo com que as mesmas reduzam o seu grau de bem-estar e produtividade.
Dessa forma, com o aumento dos níveis de produção, o impacto do estresse térmico pode se tornar mais agudo potencializando os efeitos negativos na reprodução. De acordo com Madalena (2007), calor e umidade são reconhecidamente prejudiciais para a reprodução do gado taurino. O autor ressalta que diversas pesquisas mostraram que as taxas de prenhes de vacas da raça Holandesa apresentam alarmantes reduções no verão quando comparadas às taxas no inverno.
De forma complementar, Pegorini (2002) ressalta que a produção leiteira pode apresentar decréscimo de 3 a 30% e os índices reprodutivos podem chegar a 0% em casos extremos de estresse térmico pelo calor. Todas estas respostas fisiológicas são mais pronunciadas e prolongadas em taurinos (Bos taurus taurus) que em zebuínos (Bos taurus indicus), principalmente devido à maior capacidade produtiva e menor adaptação ao calor dos primeiros.
Assim, Daltro (2014) aborda que para os bovinos leiteiros possam expressar seu potencial genético, eles devem ser criados em condições meteorológicas adequadas. Isso significa na prática, que devem se situar na zona de termoneutralidade, juntamente com alimentação adequada. Assim, a maioria dos ruminantes, quando estão nas condições térmicas compatíveis, consegue manter o equilíbrio entre produção e dissipação de calor (STUMPF, 2014), caso não observado na maioria das propriedades que exploram economicamente a atividade leiteira no Brasil.
Para West (2003), há muitos aspectos da genética que influenciam a resposta ao estresse térmico e a variação entre as raças é grande. Nesse sentido, Stumpf (2014) destaca que raças mais adaptadas ao clima quente, como as de zebuínos, representados aqui pelas raças Gir, Sindi e Guzerá, evoluíram em regiões mais quentes da Terra e, portanto apresentam zona de conforto térmico mais elevadas.
Uma representação prática do exposto foi detalhada por Fuquay et al. (2001) apud Pegorini (2002), quando argumentaram que as raças leiteiras taurinas de alta produção têm sua zona de conforto térmico entre 5 e 15°C e qualquer aumento de 15 para 25°C já é suficiente para provocar perdas em produtividade. Segundo esses autores, as temperaturas maiores que 25°C são consideradas extremamente críticas para o bem-estar destes animais.
Dentro desse cenário, Stumpf (2014) observa ainda que são esperadas mudanças climáticas significativas na Terra futuramente, como aumento nas médias de temperatura (e frentes de calor) e maior incidência de casos de seca. Neste contexto, pelo fato dos sistemas de produção animal estarem inseridos e serem diretamente dependentes das condições naturais, um aumento nos danos ao sistema produtivo leiteiro são inevitáveis. O autor destaca que os animais precisarão lidar com tais condições objetivando a mantença da homeostase e ao mesmo tempo a manutenção da produtividade.
Reflexos no comportamento (figura) e na fisiologia, tais como busca pela sombra, maior tempo em ócio (sem atividade), redução do pastoreio e do consumo de alimento, maior consumo de água, aumento nas frequências respiratórias e cardíacas, ofegação, salivação excessiva e maior temperatura retal são alguns dos efeitos intensificados nos animais expostos às altas temperaturas.
Tais consequências, somadas com a maior destinação de energia a processos de perda de calor, reduções nos níveis produtivos dos animais se tornam uma realidade. Pegorini (2002) acrescenta ainda que os problemas causados pelo estresse térmico estão diretamente relacionados as perdas de produtividade, seja tanto pela diminuição na produção leiteira e fertilidade quanto pela maior incidência de doenças e problemas metabólicos que somados, contribuem para diminuir a lucratividade do sistema.
Figuras 2 e 3 - Busca pela sombra, ofegação e salivação excessiva estão entre os sinais do estresse térmico em vacas leiteiras. As perdas ocorrem em produtividade e fertilidade. Pegorini (2002)
Segundo um estudo citado por Thatcher et al. (2010), as taxas de concepção no verão caíram 47% em rebanhos dos Estados Unidos que utilizavam poucas estratégias de resfriamento em relação às taxas obtidas durante o inverno. Em termos de desempenho leiteiro, a categoria que mais sofre com os efeitos do estresse são as vacas lactantes, devido à grande ingestão de alimento necessária para a produção de leite. Quando expostas a altas temperaturas ambientais associadas à alta umidade relativa e a radiação solar, vacas Holandesas responderam com redução na produção leiteira, menor ingestão de alimentos e diminuição da performance reprodutiva nos Estados Unidos (WHEELOCK et al., 2010). Assim, quedas nos níveis produtivos de animais em estresse térmico severo podem chegar a 40% (WEST, 2003). Corroborando Stumpf (2014) registraram diminuição de aproximadamente 38% na produção de leite de vacas sem acesso à sombra na estação quente do ano.
Pegorini (2014) pressupõe que as alterações na alimentação, acesso a água, sombreamento artificial e natural, instalação de aspersores e ventiladores, climatização da sala de espera e da sala de ordenha, são algumas das modificações no ambiente e no manejo que podem ser implementadas para amenizar os prejuízos causados às vacas. No entanto, essas adaptações requerem maiores investimentos.
Em trabalho publicado por WEST (2003) grande destaque é direcionado às estratégias para minimizar os efeitos do estresse térmico, sugerindo-se o desenvolvimento genético de animais e de raças tolerantes ao calor como a de melhores resultados à pecuária leiteira. Desse modo, o mesmo autor, afirma ainda que nos Estados Unidos a correlação genética encontrada entre a produção e a tolerância ao calor foi levemente negativa, concluindo-se que a seleção contínua para a produção ignorando a capacidade de suportar temperaturas mais altas resultaria na diminuição da tolerância ao calor.
Na segunda parte deste artigo, vamos discorrer como a adoção de cruzamentos entre raças leiteiras pode contribuir para a obtenção de animais mais adaptados e rústicos (resistente a carrapatos, por exemplo). Mostraremos alguns trabalhos publicados provenientes de pesquisas que envolveram animais de cruzamentos entre algumas raças.
Referências bibliográficas
AZEVEDO, M. et al. Estimativa de Níveis Críticos Superiores do Índice de Temperatura e Umidade para Vacas Leiteiras 1/2, 3/4 e 7/8 Holandês-Zebu em Lactação. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 34, n. 6, p. 2000-2008, 2005.
DALTRO, D. S. Uso da termografia infravermelha para avaliar a tolerância ao calor em bovinos de leite submetidos ao estresse térmico. 2014. 65 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.
PEGORINI, L. N. C. Efeitos do estresse térmico em rebanhos leiteiros de alta produção. 2002. 41 f. Monografia (Graduação em Medicina Veterinária)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.
MADALENA, F. E. F1: Onde estamos e aonde vamos. Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG, Belo Horizonte, n.25, p.5-12, out. 1998.
MADALENA, F. E. Problemas dos rebanhos leiteiros com genética de alta produção – Revisão bibliográfica. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. 33 p.
PEREIRA, J. C. C. Melhoramento Genético Aplicado à Produção Animal. 6. ed. Belo Horizonte: FEPMVZ Editora, 2012. 758p.
SANTOS, R. Zebu: A pecuária sustentável – Edição comemorativa dos 75 anos de Registro Genealógico e 80 anos da ABCZ. Uberaba: Agropecuária Tropical, 2013. 856 p.
STUMPF, M. T. Respostas biológicas de bovinos das raças Holandesa e Girolando sob estresse térmico. 2014. 66 f. Tese (Doutorado em Zootecnia)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.
THATCHER, W.W. et al. Interrelationships of heat stress and reproduction in lactating dairy cows. High plains dairy conference 2010, Texas, p. 45-60, 2010.
WASHBURN, S. P. et al. Trends in reproductive performance in Southeastern Holstein and Jersey DHI herds. Journal of Dairy Science, v. 85, p. 244-251, 2002.
WEST, J.W. Effects of Heat-Stress on Production in Dairy Cattle. Journal of Dairy Science, v. 86, p. 2131-2144, 2003.
WHEELOCK, J.B. et al. Effects of heat stress on energetic metabolism in lactating Holstein Cows. Journal of Dairy Science, v. 93, n. 2, p. 644-655, 2010.
De acordo com Pereira (2012), há uma grande variação nas práticas de produção de leite no Brasil. É possível encontrar a adesão de sistemas intensivos com gado europeu (taurino) e explorações extensivas com animais zebuínos ou azebuados. Nas diferentes regiões brasileiras, principalmente naquelas com condições adversas de ambiente, os produtores foram introduzindo, em seus rebanhos, raças leiteiras capazes de produzirem com menores custos, como os zebuínos puros ou mestiços, com animais mais resistentes, estimulando-os a permanência na atividade (SANTOS et al., 2013).
Pereira (2012) concorda ao reforçar que em virtude das condições de meio, predominantes na região Sudeste, por exemplo, os cruzamentos entre raças taurinas especializadas com zebuínas, têm sido amplamente empregados. Resultados de pesquisa, já discutidos por Madalena em publicação de 1998, demonstram que o genótipo F1 leiteiro (fêmea meio-sangue Holandês x Zebu) adapta-se melhor e proporciona maior rentabilidade em ambiente tropical.
Figura 1 - Em virtude das condições de meio das regiões tropicais e subtropicais, os cruzamentos entre raças taurinas especializadas (como a Holandesa) com zebuínas (como a Gir de aptidão leiteira), têm sido amplamente empregados. Foto: Girolando.
O agravante “estresse térmico”
A partir disso, alicerçando-se no trabalho desenvolvido por Pegorini (2002), o qual mensurou os efeitos do estresse térmico em rebanhos leiteiros de alta produção, ficou evidente a maior atenção ao grande impacto econômico que representa à indústria leiteira a falta de adaptabilidade dos animais em exploração. Bem por isso, Daltro (2014) afirma que atualmente no Brasil há uma crescente preocupação com o conforto de animais em sistemas de produção, por ser um país predominantemente de clima tropical e subtropical, com altas temperaturas médias durante o ano na maior parte do seu território, o que favorece o estresse por calor.
Com relação ao rebanho mundial, dados apontam que aproximadamente 64% dos animais são criados em regiões tropicais (AZEVEDO et al., 2005) estando expostos ao estresse térmico. Inclusive os rebanhos leiteiros localizados no sul dos Estados Unidos estão propensos a longos períodos de tempo quente ensejando estresse térmico (WASHBURN, 2002; WEST, 2003).
Em regiões de clima subtropical úmido do Brasil, como o Rio Grande do Sul, conforme há um aumento nas temperaturas globais, associado com um aumento na capacidade de produção dos bovinos, o estresse térmico passa cada vez mais a representar um grande desafio para a produtividade e o maior exemplo é o impacto que esta limitação causa nessas regiões (PEGORINI, 2002). A autora acrescenta em sua revisão, que a preocupação com essa situação é particularmente importante em rebanhos leiteiros por duas razões:
- À medida que aumenta a sua produtividade, o bovino eleva a sua necessidade de ingestão de alimento e, consequentemente, sua produção de calor metabólico.
- A outra, é que países como Estados Unidos, Brasil e Israel, onde estão localizados rebanhos de alta produção no mundo, estão situados em regiões sujeitas a altas temperaturas.
Daltro (2014) complementa ao explicar que as temperaturas elevadas presentes no cenário tropical em virtude da significativa radiação solar incidente, associadas ao maior metabolismo dos animais acabam dificultando a adaptação de raças leiteiras taurinas nestas regiões, fazendo com que as mesmas reduzam o seu grau de bem-estar e produtividade.
Dessa forma, com o aumento dos níveis de produção, o impacto do estresse térmico pode se tornar mais agudo potencializando os efeitos negativos na reprodução. De acordo com Madalena (2007), calor e umidade são reconhecidamente prejudiciais para a reprodução do gado taurino. O autor ressalta que diversas pesquisas mostraram que as taxas de prenhes de vacas da raça Holandesa apresentam alarmantes reduções no verão quando comparadas às taxas no inverno.
De forma complementar, Pegorini (2002) ressalta que a produção leiteira pode apresentar decréscimo de 3 a 30% e os índices reprodutivos podem chegar a 0% em casos extremos de estresse térmico pelo calor. Todas estas respostas fisiológicas são mais pronunciadas e prolongadas em taurinos (Bos taurus taurus) que em zebuínos (Bos taurus indicus), principalmente devido à maior capacidade produtiva e menor adaptação ao calor dos primeiros.
Assim, Daltro (2014) aborda que para os bovinos leiteiros possam expressar seu potencial genético, eles devem ser criados em condições meteorológicas adequadas. Isso significa na prática, que devem se situar na zona de termoneutralidade, juntamente com alimentação adequada. Assim, a maioria dos ruminantes, quando estão nas condições térmicas compatíveis, consegue manter o equilíbrio entre produção e dissipação de calor (STUMPF, 2014), caso não observado na maioria das propriedades que exploram economicamente a atividade leiteira no Brasil.
Para West (2003), há muitos aspectos da genética que influenciam a resposta ao estresse térmico e a variação entre as raças é grande. Nesse sentido, Stumpf (2014) destaca que raças mais adaptadas ao clima quente, como as de zebuínos, representados aqui pelas raças Gir, Sindi e Guzerá, evoluíram em regiões mais quentes da Terra e, portanto apresentam zona de conforto térmico mais elevadas.
Uma representação prática do exposto foi detalhada por Fuquay et al. (2001) apud Pegorini (2002), quando argumentaram que as raças leiteiras taurinas de alta produção têm sua zona de conforto térmico entre 5 e 15°C e qualquer aumento de 15 para 25°C já é suficiente para provocar perdas em produtividade. Segundo esses autores, as temperaturas maiores que 25°C são consideradas extremamente críticas para o bem-estar destes animais.
Dentro desse cenário, Stumpf (2014) observa ainda que são esperadas mudanças climáticas significativas na Terra futuramente, como aumento nas médias de temperatura (e frentes de calor) e maior incidência de casos de seca. Neste contexto, pelo fato dos sistemas de produção animal estarem inseridos e serem diretamente dependentes das condições naturais, um aumento nos danos ao sistema produtivo leiteiro são inevitáveis. O autor destaca que os animais precisarão lidar com tais condições objetivando a mantença da homeostase e ao mesmo tempo a manutenção da produtividade.
Reflexos no comportamento (figura) e na fisiologia, tais como busca pela sombra, maior tempo em ócio (sem atividade), redução do pastoreio e do consumo de alimento, maior consumo de água, aumento nas frequências respiratórias e cardíacas, ofegação, salivação excessiva e maior temperatura retal são alguns dos efeitos intensificados nos animais expostos às altas temperaturas.
Tais consequências, somadas com a maior destinação de energia a processos de perda de calor, reduções nos níveis produtivos dos animais se tornam uma realidade. Pegorini (2002) acrescenta ainda que os problemas causados pelo estresse térmico estão diretamente relacionados as perdas de produtividade, seja tanto pela diminuição na produção leiteira e fertilidade quanto pela maior incidência de doenças e problemas metabólicos que somados, contribuem para diminuir a lucratividade do sistema.
Figuras 2 e 3 - Busca pela sombra, ofegação e salivação excessiva estão entre os sinais do estresse térmico em vacas leiteiras. As perdas ocorrem em produtividade e fertilidade. Pegorini (2002)
Segundo um estudo citado por Thatcher et al. (2010), as taxas de concepção no verão caíram 47% em rebanhos dos Estados Unidos que utilizavam poucas estratégias de resfriamento em relação às taxas obtidas durante o inverno. Em termos de desempenho leiteiro, a categoria que mais sofre com os efeitos do estresse são as vacas lactantes, devido à grande ingestão de alimento necessária para a produção de leite. Quando expostas a altas temperaturas ambientais associadas à alta umidade relativa e a radiação solar, vacas Holandesas responderam com redução na produção leiteira, menor ingestão de alimentos e diminuição da performance reprodutiva nos Estados Unidos (WHEELOCK et al., 2010). Assim, quedas nos níveis produtivos de animais em estresse térmico severo podem chegar a 40% (WEST, 2003). Corroborando Stumpf (2014) registraram diminuição de aproximadamente 38% na produção de leite de vacas sem acesso à sombra na estação quente do ano.
Pegorini (2014) pressupõe que as alterações na alimentação, acesso a água, sombreamento artificial e natural, instalação de aspersores e ventiladores, climatização da sala de espera e da sala de ordenha, são algumas das modificações no ambiente e no manejo que podem ser implementadas para amenizar os prejuízos causados às vacas. No entanto, essas adaptações requerem maiores investimentos.
Em trabalho publicado por WEST (2003) grande destaque é direcionado às estratégias para minimizar os efeitos do estresse térmico, sugerindo-se o desenvolvimento genético de animais e de raças tolerantes ao calor como a de melhores resultados à pecuária leiteira. Desse modo, o mesmo autor, afirma ainda que nos Estados Unidos a correlação genética encontrada entre a produção e a tolerância ao calor foi levemente negativa, concluindo-se que a seleção contínua para a produção ignorando a capacidade de suportar temperaturas mais altas resultaria na diminuição da tolerância ao calor.
Na segunda parte deste artigo, vamos discorrer como a adoção de cruzamentos entre raças leiteiras pode contribuir para a obtenção de animais mais adaptados e rústicos (resistente a carrapatos, por exemplo). Mostraremos alguns trabalhos publicados provenientes de pesquisas que envolveram animais de cruzamentos entre algumas raças.
Referências bibliográficas
AZEVEDO, M. et al. Estimativa de Níveis Críticos Superiores do Índice de Temperatura e Umidade para Vacas Leiteiras 1/2, 3/4 e 7/8 Holandês-Zebu em Lactação. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 34, n. 6, p. 2000-2008, 2005.
DALTRO, D. S. Uso da termografia infravermelha para avaliar a tolerância ao calor em bovinos de leite submetidos ao estresse térmico. 2014. 65 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.
PEGORINI, L. N. C. Efeitos do estresse térmico em rebanhos leiteiros de alta produção. 2002. 41 f. Monografia (Graduação em Medicina Veterinária)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.
MADALENA, F. E. F1: Onde estamos e aonde vamos. Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG, Belo Horizonte, n.25, p.5-12, out. 1998.
MADALENA, F. E. Problemas dos rebanhos leiteiros com genética de alta produção – Revisão bibliográfica. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. 33 p.
PEREIRA, J. C. C. Melhoramento Genético Aplicado à Produção Animal. 6. ed. Belo Horizonte: FEPMVZ Editora, 2012. 758p.
SANTOS, R. Zebu: A pecuária sustentável – Edição comemorativa dos 75 anos de Registro Genealógico e 80 anos da ABCZ. Uberaba: Agropecuária Tropical, 2013. 856 p.
STUMPF, M. T. Respostas biológicas de bovinos das raças Holandesa e Girolando sob estresse térmico. 2014. 66 f. Tese (Doutorado em Zootecnia)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.
THATCHER, W.W. et al. Interrelationships of heat stress and reproduction in lactating dairy cows. High plains dairy conference 2010, Texas, p. 45-60, 2010.
WASHBURN, S. P. et al. Trends in reproductive performance in Southeastern Holstein and Jersey DHI herds. Journal of Dairy Science, v. 85, p. 244-251, 2002.
WEST, J.W. Effects of Heat-Stress on Production in Dairy Cattle. Journal of Dairy Science, v. 86, p. 2131-2144, 2003.
WHEELOCK, J.B. et al. Effects of heat stress on energetic metabolism in lactating Holstein Cows. Journal of Dairy Science, v. 93, n. 2, p. 644-655, 2010.
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