Por Adilson Rodrigues
Em 13/03/2017 no site Blog PecNética
Peço licença aos meus ávidos seguidores para tratar de um assunto mais abrangente, mas se está aqui é porque também envolve genética. Hoje, os frigoríficos vivem um verdadeiro dilema, entre incentivar ou não a castração de bovinos.
A manobra da indústria existe e ocorre de forma comedida, pela dificuldade em pagar maiores bonificações. Boi castrado é matéria-prima para o mercado gourmet, baseado fortemente na alimentação fora de casa, onde, segundo o IBGE, o brasileiro deixa 25% da renda.
É uma demanda parelha com a dos cortes para churrasco, no qual se exige maciez, uma capa de gordura generosa e marmoreio caprichado. A diferença é que também necessita de padronização nos cortes.
Quando falamos em nicho de carne de qualidade, soa aos ouvidos como algo pequeno, todavia não se iluda. É um mercado consolidado e crescente. Para se ter ideia, a indústria ainda não atende metade da demanda.
Reflexo direto é a importação de 1.100 toneladas de cortes especiais pelo Brasil, um negócio na ordem de R$ 25 milhões mensais (ABIEC). Agora se o horizonte é tão promissor, por que os frigoríficos não investem pesado neste setor?
Para responder a pergunta, terei de contar um pouco de história. Há 20 anos, os matadouros aceitavam apenas animais castrados e sobrava produto, permitindo longuíssimas escalas de abate, que beiravam os 20 dias.
No embalo da franca expansão, os empresários investiram forte no parque industrial. O tiro no pé veio com a diminuição do rebanho nacional, devido à saída de pecuaristas por pressão da agricultura e o crescente abate de fêmeas.
O resultado não poderia ser outro que um aumento avassalador da taxa de ociosidade frigorífica, beirando os 50%. Este índice é matador porque o mesmo gasto no abate de 400 cabeças/dia é empregado no abate de 200/dia.
E o que antes eram quase três semanas caiu para apenas cinco dias de escala atualmente. A solução foi aceitar a desova de bois inteiros, prática crescente no passo em que o pecuarista também descobriu as vantagens de produzir boi inteiro.
Bois inteiros queimam 15% mais energia para mantença em comparação aos capados. Por outro lado, crescem 23,48% mais, ganham 24% mais peso e convertem 11,11% mais alimento.
Só que normalmente ficam fora dessa conta 10% a mais de custos com a manutenção da fazenda, a maior dificuldade de manejo e as diversas lesões, inclusive nos cascos.
Para o frigorífico não foi de todo ruim, pois detectou ótimos compradores de cortes magros. Falamos dos chilenos, árabes, russos e mais recentemente os chineses.
Casou o fato de as carcaças bovinas com menos gordura reduzirem a necessidade de toalete para atender o gosto da massa do consumo interno. Na alimentação do dia a dia (entenda por segunda a sexta), a dona de casa não paga, mas aceita maciez e despreza gordura.
Dois coelhos com uma cajadada só! Aqui está a base dos programas de qualidade que premiam entre 3% e 10% para bois inteiros, muitos dos quais vinculados a raças específicas.
Oportunidades para o pecuarista organizado faturar um pouco mais com a produção de bois castrados existem, porém, não a rodo.
Há grifes de carne que remuneram entre 10 e 15% sobre a cotação do boi gordo de hoje. Até pouco tempo pagava-se 20%.
Vale a pena castrar o gado?
Se não desejar o diferencial da facilidade de manejo e aumentar o giro da boiada, fica a dica do PecNética, antes de sacar o burdizzo ou o canivete se pergunte: produzir o quê? Pra quem?
Prêmio de 10% para boi castrado equivale a vender boi inteiro sem qualquer bônus. Um plus de 15% representa ganhos reais de 5%.
Atente também à idade do animal à castração. No Sul, esmacula-se ao nascimento ou aos 90 dias, e opiniões se dividem entre os períodos de desmama e sobreano, de forma a aproveitar a ação da testosterona no crescimento por mais tempo.
Abater fêmea é melhor que castrar macho?
Não se engane: se produzir bois castrados custa 10% mais caro do que engordar boi inteiro, terminar fêmea custa 20% mais. O rendimento de carcaça obtido através do desenvolvimento muscular é muito inferior na fêmea.
Uma perda entre 2% e 3%, para ser exato.
Para saber mais sobre a castração de bovinos, não deixe de conferir a matéria de capa que assino na Revista AG de Março. Tenha acesso exclusivo clicando aqui. Muito desta citada eficiência produtiva passou pelo investimento em genética bovina.
Além disso, quanto mais se pressionar para AOL (Área de Olho de Lombo – indicador de rendimento carcaça) menos se obtém de marmoreio. Concluindo: apenas 18% da carcaça torna-se carne de qualidade diferenciada. O restante passa por uma implacável limpeza de gordura.
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