*Bruna Gomes Alves e Marcos Veiga dos Santos
A mastite pode ser classificada de duas formas principais:
A mastite pode ser classificada de duas formas principais:
a) quanto a forma de apresentação (clínica ou subclínica);
b) quanto a origem da fonte de infecção (contagiosa ou ambiental).
No caso da mastite contagiosa, a maior parte das novas infecções são transmitidas durante o processo de ordenha a partir de uma vaca doente. Por outro lado, na mastite ambiental podemos perceber que a vaca torna-se infectada no intervalo das ordenhas ou durante a ordenha, mas o principal reservatório das causas mastite ambiental é o ambiente que a vaca vive, principalmente quando há excesso de esterco, barro ou outro composto orgânico.
Nos EUA, um dos fatores associados com o aumento da incidência da mastite é o crescimento do número de vacas em lactação por rebanho. Esse aumento dos módulos de produção foi acompanhado de medidas de manejo que permitiram a diminuição das infecções intramamárias subclínicas, com a erradicação de alguns patógenos como o Strep. agalactiae e diminuição significativa da CCS do tanque. Entretanto, com uma maior densidade animal e mudança das instalações ocorreu paralelamente uma maior exposição à patógenos oportunistas, oriundos principalmente do ambiente.
Os patógenos mais comumente relacionados com a mastite ambiental são os estreptococos (com exceção do Strep. agalactiae) e as bactérias gram negativas, principalmente a E. coli e a Klebsiella spp. Os agentes oportunistas tendem a ser menos adaptados à sobreviver diretamente no úbere das vacas e as mastites normalmente resultam em quadros clínicos com inflamação da glândula, com sinais moderados ou graves. Nesta situação, o controle da mastite ambiental está na redução da exposição dos tetos aos reservatórios comuns dos patógenos ambientais, bem como na identificação dos principais fatores de risco associados com esta exposição. Dentre os fatores de risco principais, destacam-se:
Cama: o tipo da cama pode ser determinante para o aumento da incidência de mastite em um rebanho, pois sua composição pode aumentar a exposição dos tetos aos patógenos, assim como favorecer a sua multiplicação. As fazendas com sistemas de confinamento utilizam uma grande variedade de materiais de cama, mas mesmo que alguns materiais tenham baixa população bacteriana, os materiais orgânicos contêm nutrientes que favorecem o crescimento bacteriano. Em estudo recente, foi observado que rebanhos que utilizam camas de esterco seco em comparação às camas de areia apresentam maior CCS, maior número de vacas tratadas e uma maior proporção de vacas com tetos não-funcionais. Os aditivos desinfetantes adicionados às camas podem ter alguma contribuição no controle da contaminação, entretanto os seus efeitos são de curto prazo. Por fim, a manutenção da limpeza e conforto da cama é de extrema importância visto que a umidade contribui para o crescimento bacteriano e para a diminuição do tempo em que a vaca permanece deitada. Entretanto, embora essa exposição possa ser facilitada é importante salientar que a mastite é uma doença multifatorial, e que outros fatores como procedimentos de ordenha, conforto, manejo alimentar e imunidade podem determinar a habilidade da bactéria em penetrar no orifício do teto.
Desinfecção de tetos: a desinfecção pré-ordenha dos tetos diminui a incidência de mastites ambientais no mínimo em 50% e a facilidade de se reduzir a contaminação dos tetos pode ser influenciada por vários fatores, como a contaminação inicial da pele do teto aos patógenos, as condições ambientais, a adoção de boas práticas de ordenha e a boa aceitabilidade dos animais para aplicação dos produtos de desinfecção.
Fatores individuais das vacas: O risco de se desenvolver mastite não é o mesmo entre todas as vacas do rebanho, visto que cada uma apresenta respostas diferentes aos desafios do ambiente. Essa resposta pode ser influenciada principalmente pelo número de lactações ou estágio de lactação. Geralmente, vacas de primeira e segunda lactação apresentam menor risco de desenvolver mastite clínica por patógenos oportunistas do que vacas mais velhas. Adicionalmente, os casos de mastite clínica são normalmente associados com o início da lactação, pois há maior produção de leite/dia e menor resposta imunológica. As características anatômicas do úbere também se relacionam com a incidência de mastite, uma vez que vacas mais velhas (3ª lactação) apresentam tetos mais longos e com aumento da largura da extremidade dos tetos, os quais são fatores de risco para ocorrência de mastite. Além disso, vacas com úbere grandes tem maior risco de infecção associado com escores de sujidades elevados. Da mesma forma, vacas com escore de hiperqueratose grave nos tetos também apresentam maior risco de mastite, em razão da menor capacidade de fechamento do canal do teto e do risco de lesões da pele.
Os programas de controle de mastite ambiental devem ser baseados na prevenção do contato do teto e úbere com ambientes passíveis de infecção, principalmente na prevenção de novos casos. As práticas de manejo devem ser direcionadas principalmente para a manutenção de um ambiente adequado para os vacas com alto risco de infecção. As camas portanto, devem ser mantidas limpas e secas para permitir o maior conforto ao animal. Além disso, a seleção genética de vacas com maior capacidade de resposta imune e de resistência à mastite podem ser estratégias de médio e longo prazo, ao passo que vacas com casos recorrentes devem ser descartadas.
Fonte: RUEGG, P.L. Bedding, Bugs and Teats – Evaluating Enviromental Risks of Intramammary Infection In: Proceedings 56th National Mastitis Council, 2017. St. Pete Beach - Florida.
* Bruna Gomes Alves é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal da FMVZ/USP
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