quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Brasil deve produzir 10,5 milhões de toneladas de carne bovina em 2020

Por Estadão Conteúdo em 26/02/2020 no site DBO Rural

Foto: Rizemberg Felipe.

O Brasil deve produzir 10,5 milhões de toneladas de carne bovina e 4,2 milhões de toneladas de carne suína em 2020, estima o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Se confirmados, os volumes representam, respectivamente alta de 3,4% e 4,5% ante o produzido no ano passado.

As estimativas foram divulgadas em levantamento publicado pelo Departamento na última segunda-feira, 24. O USDA atribui o aumento da produção de proteína bovina à maior produtividade, exportações recordes contínuas e ao fortalecimento do mercado doméstico.
Já a perspectiva de incremento na produção de carne suína, afirma a agência, reflete a forte e contínua exportação para a China, a maior demanda doméstica e estabilidade nos custos de alimentação animal.
O Departamento do governo norte-americano afirmou que a estimativa de crescimento de 2% para a economia brasileira e a expectativa de que as exportações brasileiras continuem firmes sustentam a projeção de aumento na produção de ambas as proteínas. O USDA prevê também que o País exporte 2,53 milhões de toneladas de carne bovina neste ano, 10% a mais que o comercializado para o exterior em 2019.

“Impulsionado principalmente pela firme demanda de China e Hong Kong. Em 2020, uma combinação de desvalorização da moeda brasileira e estabilidade nos preços domésticos provavelmente vão manter as exportações brasileiras de carne bovina com preços competitivos mercado mundial”, explica o relatório.

De carne suína, o Brasil deve exportar 980 mil toneladas neste ano, volume 15% superior ao vendido para o mercado externo em 2019, projeta o USDA. A estimativa segundo a agência considera o impacto da peste suína africana na China, no Vietnã e outros países asiáticos.

“Exportadores brasileiros e autoridades governamentais também estão envolvidos na promoção do mercado para Angola, Chile e África do Sul”, destaca o USDA.

O USDA afirmou, ainda, que desde janeiro aumentaram as incertezas em relação ao impacto do coronavírus e do acordo entre Estados Unidos e China sobre os embarques de carnes do Brasil para a Ásia. A incerteza é maior quanto ao reflexo do coronavírus nas exportações de carne bovina para a China, em virtude de possíveis restrições logísticas no país.

“Fontes comerciais preveem um aumento contínuo nas exportações de carne suína para China/Hong Kong em 2020, apesar dos problemas atuais derivados do surto de coronavírus na China”, pondera a agência.

Apesar de ter sido divulgado na segunda, o relatório do USDA foi finalizado em 18 de fevereiro. Dessa forma, o levantamento não considera a recente reabertura do mercado norte-americano à carne bovina brasileira.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Medidas simples ajudam a reduzir infestações por moscas-dos-chifres

Integrar árvores com as pastagens também pode contribuir para reduzir as infestações de mosca-dos-chifres. Foto: Gisele Rosso
Os pecuaristas devem ficar atentos às causas de estresse nos bovinos. Nesta época do ano, as infestações por parasitas, como as moscas-dos-chifres, são maiores devido às condições climáticas favoráveis – umidade e temperatura alta.
As picadas constantes e doloridas das moscas-dos-chifres provocam irritação no animal, afetando a saúde e o bem-estar. O estresse faz com que o bovino deixe de se alimentar, passando muito tempo tentando se livrar do inseto. As consequências são perda de peso e redução na produção de leite.
Juntamente com carrapatos e infecções por vermes, as moscas-dos-chifres estão entre as principais parasitoses bovinas. A pesquisadora Márcia de Sena Oliveira, da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), dá algumas dicas para o produtor proteger seu rebanho neste período mais crítico.
O controle por meio de inseticidas é complexo. O uso inadequado e frequente desses produtos químicos favorece a seleção de parasitas resistentes. Para evitar o rápido desenvolvimento de resistência, o produtor precisa fazer o controle de forma racional. “A ideia é controlar a infestação e não erradicar a mosca-dos-chifres, mantendo um número razoável desses parasitas no rebanho”, destaca a pesquisadora.
De acordo com ela, há algumas alternativas viáveis para reduzir os problemas com a mosca.
O besouro conhecido rola-bosta é uma boa opção para diminuir a multiplicação do inseto. Ele ataca o bolo fecal, destruindo as larvas das moscas que aí se desenvolvem.
O tratamento dos bovinos de acordo com a sua categoria, ajuda a manter um nível aceitável de infestação, principalmente nos animais mais suscetíveis, como vacas com bezerros ao pé.
Colocar armadilhas pelas pastagens para atrair as moscas que estão no rebanho, é um método bastante eficaz e sem prejuízos para o meio ambiente.
Integrar árvores com as pastagens também pode contribuir para reduzir as infestações.
“Todas essas alternativas devem ser somadas à preocupação constante em manter o rebanho bem nutrido. O gado em boas condições nutricionais não sofre tanto com o parasitismo”, afirma Márcia.

Sistemas integrados x mosca-dos-chifres

Um estudo realizado na Embrapa Pecuária Sudeste entre 2013 e fim de 2015 indicou que a infestação por moscas-dos-chifres em sistemas silvipastoris, em que o plantio de árvores é associado à criação de gado e ao cultivo de forrageiras, é 38% menor, quando comparada às criações em pastagens convencionais.
Segundo Márcia Oliveira, as alterações de microclima e a microfauna associada ao bolo fecal dos bovinos criados nesses sistemas afetam a dinâmica da população das moscas.
Na análise dos dados de contagens de moscas-dos-chifres foram encontradas diferenças significativas comparando-se os dois modelos de produção: sistema silvipastoril e convencional (apenas gado e pastagem). As menores médias de contagens foram observadas na integração da pecuária com as árvores nativas.
Para a pesquisadora, tal fato pode ocorrer devido a maior quantidade e diversidade da microfauna associada aos bolos fecais dos animais criados no sistema com árvores e que atuam como predadores das fases de vida livre desse parasita, contribuindo para o equilíbrio populacional de ectoparasitas, como a mosca-dos-chifres.
Fonte: Embrapa

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Valor da Produção Agropecuária para 2020 é estimado em R$ 674,10 bilhões

Por MAPA em 14/02/2020 no site Agrolink.

Opinião do blog: como a muitos anos o agronegócio ajudando o Brasil e para 2020 com crescimento Chinês.

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Safra ES

O resultado do levantamento da safra de grãos impactou favoravelmente no Valor da Produção da Agropecuária (VBP) deste ano, estimado em R$ 674,10 bilhões, e representa um acréscimo real de 6,7% em relação a 2019. As taxas de crescimento previstas são de 6,4% para as lavouras e 7,3% para a pecuária. 
As informações de safras divulgadas nesta semana pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam desempenho favorável para a safra de grãos. Até o momento, não tem havido problemas climáticos nas principais regiões produtoras e as previsões são de uma safra de 251 milhões de toneladas segundo a Conab, e 246,7 milhões de toneladas segundo levantamento do IBGE. Esses números são recordes para a produção brasileira de grãos.
“Soja, milho e café são os principais estimuladores do crescimento do VBP e contribuem com 59% do valor total das lavouras analisadas”, avalia o coordenador-geral de Avaliação de Políticas e Informação do Departamento de Financiamento e Informação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), José Garcia Gasques.
Os aumentos de valor em relação ao ano passado devem ser de 25,7% no café, 13,5 % no milho, e 14,3% na soja. “Deve-se destacar a relevância das exportações para os resultados do milho e soja”, salienta Gasques.
No informativo de fevereiro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostra que na safra 2019/2020, os embarques da soja brasileira devem ser de 77 milhões de toneladas e as dos Estados Unidos, 49,77 milhões de toneladas. A produção de soja prevista é de 125 milhões de toneladas para o Brasil, e de 96,8 milhões de toneladas para os Estados Unidos, conforme levantamento do USDA.
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Fape-DF
Outra importante contribuição vem sendo dada pela pecuária, especialmente, bovinos, com aumento de 12,4% no VBP, suínos, 24% e frango, 3,1%. O leite e os ovos, em situação desfavorável, mostram retração do VBP neste ano.
De acordo com o estudo coordenado por Gasques, um grupo de produtos vem apresentando redução real de valor da produção, como o algodão, banana, batata inglesa, cana-de-açúcar, feijão, laranja, tomate e trigo. “Como, em geral, não são retrações fortes, é possível que as posições negativas mudem no decorrer do ano”, alerta o pesquisador.
Os resultados regionais mostram, como em relatórios anteriores, que Centro-Oeste, Sul e Sudeste lideram as contribuições ao VBP de 2020, com taxas de 31,95%, 26,9% e 25%, respectivamente.
De acordo com o estudo da secretaria, um dos destaques neste mês é que o estado do Paraná, grande produtor de grãos e pecuária, especialmente frangos, superou São Paulo. A cana-de-açúcar perdeu relevância ao longo dos anos nesse estado. 
O que é VBP
O VBP mostra a evolução do desempenho das lavouras e da pecuária ao longo do ano e corresponde ao faturamento bruto dentro do estabelecimento. Calculado com base na produção da safra agrícola e da pecuária, e nos preços recebidos pelos produtores nas principais praças do país, dos 26 maiores produtos agropecuários do Brasil. O valor real da produção, descontada a inflação, é obtido pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas. A periodicidade é mensal.

Bayer anuncia nova molécula de herbicida

Leonardo Gottems em 14/02/2020 no site Agrolink.

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Fine Art America

A Bayer anunciou o desenvolvimento de uma nova molécula de herbicida. Trata-se do primeiro ingrediente ativo com novo modo de ação para controle de plantas daninhas pós-emergência nos últimos 30 anos.
A descoberta de novos modos de ação contra as invasoras tem sido o maior desafio da indústria de agroquímicos. Enquanto isso, cresce exponencialmente a resistência das plantas daninhas contra os herbicidas disponíveis no mercado, aumentando a importância de ampliar o leque de opções tanto para preservar as tecnologias como as práticas que ajudam a sequestrar gases de efeito estufa, tais como o plantio direto. 
De acordo com a Bayer, a molécula encontra-se na “Fase 2” do desenvolvimento inicial, mas já demonstrou um controle “eficaz de gramíneas resistentes importantes” nas pesquisas iniciais: “O trabalho demonstra progresso em direção ao compromisso de longo prazo da Bayer de investir aproximadamente 5 bilhões de Euros em novos métodos para combater plantas daninhas na próxima década”. 
Ainda de acordo com a fabricante, a descoberta desta molécula está sendo complementada por um projeto para identificar e desenvolver um novo traço, ou característica biotecnológica correspondente para transmitir tolerância ao novo herbicida. Também nesse caso as abordagens iniciais estão “sendo avaliadas”, informa a multinacional.
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Além do novo herbicida, a Bayer ainda apresentou mundialmente nesta quinta-feira (13.02) que avançou no desenvolvimento de uma nova variedade de milho de baixa estatura através da edição genética. Com isso, dois conceitos anteriores avançaram para a “Fase 3”.
A gigante com origem alemã também informou que três gerações de características de tolerância a herbicidas na soja avançaram, representando o “pipeline mais robusto do setor de biotecnologia de controle de ervas daninhas para a soja”. Tudo isso foi conseguido, ressalta a Bayer, graças ao maior investimento em P&D da indústria agrícola: mais de 2,3 bilhões de Euros por ano.

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Ração para engorda de bovinos a pasto: entenda o papel desse recurso

Site Agrolink

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Compre Rural

O sistema de engorda a pasto é o método mais utilizado na pecuária de corte nacional, sendo grande responsável pelos bons resultados da produção do país. Portanto, para que o rebanho se mantenha rendendo é preciso um bom manejo nutricional. Assim, o uso de ração para engorda de bovinos a pasto é um aliado  para garantir os objetivos da criação.
A ração é um bom complemento para o ganho de peso do animal, oferecendo diversos benefícios para o animal. Entretanto, para que esses benefícios sejam alcançados, é preciso que a ração tenha a proporção correta para atingir as necessidades do rebanho. Assim, o manejo nutricional para bovinos de corte é essencial, já que a formulação de ração precisa precisa atingir as exigências nutricionais do animal considerando os nutrientes dos alimentos e o custo benefício do produto.
Desse modo, a ração para engorda de bovinos a pasto pode ser implementada para auxiliar o animal a reduzir o tempo de engorda, limitado quando a alimentação é exclusivamente a base da forragem disponível. Outro fator é que, como a ração correta, alinhada ao tipo de animal e ao resultado desejado, é possível que o rebanho atinja seu melhor potencial genético, ganhando peso com qualidade. Isso resulta num produto final melhorado, com qualidade elevada, que é mais valorizado pelo mercado.
Assim, para entender melhor sobre o papel da ração para a engorda de bovinos a pasto, é importante entender mais sobre a engorda a pasto, o manejo das pastagens e como o manejo nutricional é fundamental para o sucesso do rebanho.

Engorda a pasto: como funciona?

Como apontamos, a engorda a pasto é o sistema mais utilizado pela pecuária de corte no nosso país. Assim, saber como aplicar a ração para engorda de bovinos a pasto é preciso que o proprietário conheça os fatores que afetam esse tipo de sistema. Como nesse modelo a pastagem é a principal fonte de alimento para o rebanho, tudo que afeta os pastos, afeta o resultado desse sistema.
Além disso, o manejo nutricional do rebanho está diretamente ligado ao tipo de animais presentes na criação. Por isso, os principais fatores que afetam o sistema de engorda a pasto são:
  • Época do ano: o valor nutricional (qualidade) e a quantidade de pastagens disponíveis variam de acordo com a época do ano. Ou seja, nas estações com mais umidade e luminosidade (primavera e verão) há mais oferta de alimento, enquanto na seca (outono e inverno) há menor quantidade de alimento disponível;
  • Raça do rebanho: raças mais adaptadas às condições da região da propriedade oferecem melhor rendimento para a engorda a pasto. Como os animais estão expostos, animais pouco adaptáveis ao ambiente da região tendem a sofrer, não tendo o rendimento esperado;
  • Capacidade de suporte do pasto: para esse tipo de sistema, a pastagem é uma lavoura. Assim, um bom manejo de pastagens é essencial para o bom resultado da produção.
Mesmo fazendo o uso de ração para engorda de bovinos a pasto como complemento nutricional, esse sistema ainda apresenta baixo custo para o produtor. Assim, para que o método mantenha um bom custo benefício, é importante que o manejo nutricional dos animais esteja alinhado ao bom manejo de pastagens. 

Manejo e planejamento de pastagens

Como já mostramos, no manejo nutricional, é importante conhecer não apenas a necessidade de alimentação dos animais, mas, também, o valor e quais são os nutrientes presentes nas pastagens escolhidos. Além disso, a disponibilidade desse alimento em relação ao lote trabalhado, são fatores que afetam o sistema de engorda a pasto. Assim, para entender quando e qual ração para engorda de bovinos a pasto utilizar, é preciso, antes, entender como realizar o manejo das pastagens
O manejo das pastagens é o conjunto de procedimentos adotados por quem maneja a pastagem para conduzir os animais para a forragem produzida e disponível. Esses procedimentos podem ser feitos utilizando-se diferentes tipos de pastoreio, o que fica a critério do responsável determinar qual o melhor para o rebanho e para a pastagem. Nesse processo, precisam ser levados em conta a necessidade nutricional do animal o tipo de pasto disponível, como frisado anteriormente.
É importante que, além do manejo, se realize o planejamento do pasto, uma vez que o potencial nutricional da planta varia ao longo do ano, juntamente com a necessidade de nutrientes do animal. Portanto, o planejamento da produção das pastagens está atrelado ao uso de ração para engorda de bovinos a pasto. 

Capacitação é importante

Diante de tudo, fica claro como entender as particularidades do rebanho é fundamental para que o pecuarista tenha sucesso com sua produção. Assim, a aplicação de ração para engorda de bovinos a pasto requer um entendimento nutricional, não só dos animais, mas também dos nutrientes que estão sendo oferecidos no pasto escolhido.
Portanto, cabe ao responsável conhecer todos os aspectos do seu rebanho, de forma a saber reconhecer as necessidades dos animais, gerir os recursos disponíveis e obter o melhor resultado da produção.
Assim, aprender na prática, aplicado a situações cotidianas, o manejo nutricional do rebanho de corte é a melhor saída para quem quer ganhar experiência de forma eficaz em pouco tempo

Queda de fertilidade durante o verão em vacas de leite: o efeito da produção de leite!

Por Milkpoint em 10/02/2020.

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A venda de leite é obviamente a principal fonte de renda de uma fazenda leiteira! Portanto, aumentar a produção de leite média do rebanho é uma estratégia interessante e muito utilizada para aumentar a receita do rebanho. Obviamente, esse aumento na produção deve fazer sentido em relação ao aumento dos custos com nutrição, que em geral vão aumentar com maiores níveis de produção de leite. Porém, um ponto importante a ser considerado durante o processo de aumentar a produção do rebanho, é dimensionar corretamente essa maior produção ao sistema de resfriamento dos animais. Isso é importante pois vacas de maior produção, e portanto com maior metabolismo, são mais susceptíveis ao stress térmico.     
É muito importante termos em mente que devido ao maior metabolismo, vacas de maior produção tem mais dificuldade em se resfriar. Em um estudo recente da Universidade da California-EUA, pesquisadores utilizaram um dispositivo que mensurou a temperatura corporal de vacas da raça Holandesa a cada 10 minutos durante o verão em um rebanho comercial na região de Tulare na California. Os animais estavam alojados em lotes com aspersores na linha do cocho e sala de ordenha, assim como um bom sistema de ventilação na sala de espera da ordenha. Apesar de todas as vacas do estudo estarem no mesmo lote, ou seja, expostas ao mesmo tipo de sistema de resfriamento, observou-se que animais de mais alta produção (acima da média) se mantinham com temperaturas corporais acima de 38.8 oC (ou 102oF) por muito mais tempo ao longo do dia (~45% do dia) se comparado aos animais de produção mais baixa (~27% do dia), como mostrado na figura abaixo. Ainda, animais de produção acima de 45 kg passaram próximo de 60% do dia com temperaturas corporais acima de 38.8 oC. Além disso, o pico de temperatura corporal foi claramente maior em animais de maior produção leiteira (Figura 1 – à direita).

Figura 1 – Curva de temperatura corporal de vacas Holandesas em lactação ao longo do dia para animais de maior ou menor produção em relação à média (Gráfico à esquerda). Pico de temperatura corporal máximo durante o estudo conforme produção da vaca em kg/dia (Gráfico à direita). Adaptado de Batista et al., 2015 (ADSA meeting).
Os dados apresentados na Figura 1 são muito importantes pois muitas vezes modificamos vários aspectos do manejo e nutrição com o objetivo de aumentar a produção de leite, porém nos esquecemos que existe a necessidade de dimensionar a capacidade de resfriamento do rebanho ao aumento da produção de leite.
Problemas de resfriamento podem causar diminuição não só do potencial de produção de leite, mas também de fertilidade que tende a ser pior em animais de maior produção. Por exemplo, um estudo conduzido no Brasil (Pereira etal., 2015) mostrou que vacas em lactação em condições de alto nível de stress térmico (THI > 70) que passaram uma maior parte do dia (>22% do dia) com temperatura corporal acima de 39 oC tiveram taxas de concepção muito baixas de apenas ~12% se comparado com animais que passaram menos tempo ao longo do dia (<22% do dia) com temperatura corporal acima de 39 oC, as quais tiveram taxas de concepção de ~25%. Estima-se que a queda de cada ponto na taxa de prenhez em rebanhos leiteiros tem um impacto econômico de cerca de $30 dólares por vaca/ano (www.dcrconsil.org). Sob este cenário, assumindo uma taxa de serviço média de 60%, uma queda de 25% para 12% na taxa de concepção como observada no estudo acima pode representar um prejuízo anual de cerca de ~ $240 dólares por vaca/ano ou mais de 1000 R$ por vaca/ano! sem contar outros prejuízos relacionados ao stress térmico como menor produção de leite, maior incidência de problemas metabólicos, etc.             
Portanto, em geral, animais de maior produção tem maior susceptibilidade a sofrer stress térmico e isso deve ser sempre levado em conta no momento de planejar a estratégia de resfriamento de vacas em lactação. O impacto econômico do stress térmico é grande e pode impactar significativamente a viabilidade financeira do rebanho! 
Referências:
BATISTA, E.O.S.; COLLAR, C. ; CARVALHO, P. D. ; DEL-RIO, N. S. ; BARUSELLI, P. S. ; SOUZA, A.H. 2015. Effect of daily milk production on core-body temperature of lactating Holstein cows. In: Joint Annual Meeting - ADSA, Orlando, Florida.
Pereira, M.H.C., A.D.P. Rodrigues, T. Martins, W.V.C. Oliveira, P.S.A. Silveira, M.C. Wiltbank, and J.L.M. Vasconcelos. 2013. Timed artificial insemination programs during the summer in lactating dairy cows: Comparison of the 5-d Cosynch protocol with an estrogen/progesterone-based protocol. J. Dairy Sci. 96: 6904-6914.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Artigo - Solos Arenosos: a nova fronteira agrícola brasileira

Publicado na edição de Janeiro/2020, Nº 853, da revista A Granja - Edição especial de 75 anos
Autores: Pesquisadores Ademir Fontana, Pedro Luiz de Freitas e Guilherme Kangussu Donagemma, da Embrapa Solos; Júlio César Salton, da Embrapa Agropecuária Oeste; e Jonez Fidalski, do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar)

 Divulgação - A recuperação das pastagens degradadas emprega a redução do preparo do solo, com o plantio de mandioca sobre a pastagem dessecada, cultivo mínimo ou plantio direto.

PLANTIO DIRETO
Uma nova fronteira agrícola tem se aberto para a expansão da agricultura brasileira, terras com potencial de intensificação. Terras onde predominam os solos arenosos são responsáveis, hoje, por uma parte significativa da produção de soja, milho, algodão, melão, manga e madeira para celulose, entre outros produtos. Isso acontece especialmente pela adoção de novas tecnologias – fertilizantes, sementes e outros insumos – associadas a ajustes no manejo da correção e adubação do solo, aumento dos teores de matéria orgânica e do controle de pragas, doenças e plantas invasoras. Toda essa evolução tem proporcionado a expectativa de inserção ao sistema produtivo de terras degradadas com solos arenosos, ocupadas, então, principalmente, com pastagens de baixa produtividade e sem aporte de insumos. Nesse sentido, não há necessidade de se avançar em qualquer hectare para as áreas com vegetação nativa.
Diferentemente de uma tradicional fronteira agrícola, na qual a infraestrutura de produção (estradas, armazéns, cidades, oferta de insumos etc.) ainda inexiste, boa parte das áreas onde predominam os solos arenosos estão situadas em regiões agrícolas consolidadas. Além disso, tem chamado a atenção e atraído os agricultores devido à grande oferta, contudo, nem sempre com um olhar diferenciado quando comparado aos solos mais argilosos aos aspectos de manejo. Durante muito tempo, terras com predomínio desses solos eram consideradas de aptidão muito limitada para as lavouras anuais e/ou perenes, e, por consequência, consideradas de pouca relevância para a produção agrícola pela baixa capacidade produtiva ofertada. Quando utilizadas, eram dedicadas à silvicultura ou à produção pecuária, com sistemas de manejo com alto risco de degradação.
Mesmo assim, áreas de solos arenosos, aos poucos, vêm sendo incorporadas ao sistema de produção de culturas anuais e florestais, a partir da adoção do sistema plantio direto (SPD) e, mais recentemente, dos sistemas integrados. Dessa forma, vêm superando alguns desafios e reconhecendo, especialmente, que existem diferentes tipos de solos arenosos e com diferentes potenciais agrícolas, como destacado no artigo publicado em 2016 na revista Pesquisa Agropecuária Brasileira: Caracterização, potencial agrícola e perspectivas de manejo de solos leves no Brasil.
Características além da camada superficial
Solos arenosos e que podem ser extensivos a solos de textura leve, mais amplo, são aqueles que apresentam a areia como fração predominante em sua textura até a profundidade de 75 centímetros ou mais, assim sendo, devem ser avaliados além da “camada arável’’. Pela grande variabilidade observada desse tipo de solo, é possível fazer avaliações diferenciadas a partir da composição textural (teor de areia pode chegar em cerca de 200 gramas/quilo, ou 20%), da espessura das camadas de cada classe de textura e do padrão de incremento de argila em subsuperfície. Esses critérios são cruciais na avaliação do potencial agrícola dos solos arenosos, e, ainda, as recomendações devem ser feitas ao considerar as glebas ou manchas semelhantes, e, assim, em função da sua variabilidade e do relevo, principalmente, definir as zonas de manejo dentro da propriedade. 
Relevância do tema no Brasil
O grande potencial em terras com solos arenosos, com crescentes índices de produção para as atividades agropecuárias e florestais, fortaleceu a ideia de se realizar encontros para tratar do uso e manejo desses solos, o que determinou a realização de três Simpósios Brasileiros de Solos Arenosos (SBSA). Para o último evento, foram elencados, além dos avanços, alguns desafios e/ou oportunidades:
i) a necessidade de aperfeiçoamento dos critérios para identificar e classificar os solos arenosos, visando a uma avaliação mais criteriosa da aptidão agrícola das terras;
ii) a formulação de modelos de risco climático aperfeiçoados;
iii) os critérios técnicos para subsidiar a concessão de crédito agrícola e seguro rural;
iv) a avaliação da qualidade de sistemas de produção em intensificação agropecuária baseado na qualidade do solo, na produtividade, na valoração de serviços ambientais e no balanço de nutrientes. Eventos como esses são fundamentais para as recomendações de sistemas de manejo para regiões relevantes de ocorrência de solos arenosos no País.
No nível da propriedade, faltam ferramentas para o planejamento de sistemas de produção baseados em zonas de manejo, consideradas capazes de potencializar a produção e intensificar o uso da terra com bases mais sustentáveis. Ou seja, para todos os níveis de gestão e planejamento, há que se agregar critérios técnicos baseados em conhecimentos científicos e as experiências dos agricultores para se avaliar a sustentabilidade da expansão e da intensificação agropecuária sobre os solos arenosos.
Perspectivas para produção e sustentabilidade
Graças ao uso de novas práticas e tecnologias, as áreas com solos arenosos estão sendo incorporadas ao sistema produtivo com sucesso. Como um dos componentes principais, as gramíneas são peça-chave para sustentabilidade do cultivo nesses solos, uma vez que, como as braquiárias, além de forragem, fornecem boa quantidade de palhada para proteger e raízes, promovendo a agregação do solo. Nesse sentido, deve-se identificar as espécies e cultivares mais adaptadas para cada sistema, região e solo. Os preceitos exigidos para o SPD também devem ser observados, como permanente cobertura do solo, não revolvimento, diversidade e volume de raízes, rotação e diversificação de culturas, e controle de tráfego de máquinas. Deve, também, ser observada a necessidade de adotar práticas conservacionistas complementares, como terraceamento, bacias de captação e canais escoadouros, associada ao atendimento do código florestal – manutenção de áreas de proteção permanente e de reservas legais.
Há opções já conhecidas de sistemas e cultivos para as diferentes regiões do País, mas outras também podem ser adaptadas e aperfeiçoadas. No Oeste baiano, por exemplo, geralmente, não é possível fazer o cultivo de culturas como o milho na entressafra (safrinha), então se faz “safrinha de boi”, que utiliza pastagens de entressafra e A GRANJA | 81 suplementação alimentar para engorda de bovinos. No bolsão sul-mato-grossense, com a utilização do Sistema São Mateus, a soja entra para amortizar os custos de recuperação de pastagens degradadas, melhorar a fertilidade do solo e, assim, viabilizar a produção pecuária mais econômica e sustentável. No Rio Grande do Sul, sistemas silvipastoris na região de Alegrete têm recuperado e preservado os solos arenosos.
No Paraná, a irrigação de pastagens em solos arenosos tem proporcionado viabilidade técnica e econômica. A água do solo pode ser monitorada por meio da tensiometria, com a geração de tabelas usando apenas o teor da areia total, para se obter o conteúdo de água disponível (CAD). A tensão da água, obtida por meio de leituras em tensiômetros instalados diretamente no solo que corresponde a 50% do CAD, é o momento recomendado para se iniciar a irrigação. Além disso, na mesma região, a recuperação das pastagens degradadas emprega a redução do preparo do solo, com o plantio das manivas de mandioca sobre a pastagem dessecada, cultivo mínimo ou plantio direto.
Tendo em vista que existem importantes diferenças entre os solos arenosos, a incorporação dos mesmos ao sistema produtivo deve ser precedida de diagnóstico quanto às suas características físicas, especialmente a distribuição do tamanho da fração areia, como a relação areia grossa/ areia fina, a areia fina por si, além de aspectos químicos e da fragilidade aos processos erosivos. Nesse diagnóstico, seja em coleta de amostras com o trado ou na trincheira, deve-se avaliar o solo até uns 80 centímetros, pois, nas camadas mais profundas, podem ser encontrados fatores limitantes, os quais são, muitas vezes, desconsiderados nas recomendações agronômicas.
Na construção do perfil e/ou na construção da fertilidade, avaliar, além da quantidade de nutrientes advindos da calagem e fertilização, outros aspectos, como a necessidade de aumento dos teores de matéria orgânica e da atividade biológica e os fatores preponderantes para a ciclagem de nutrientes, agregação e armazenamento de água.

Agradecimentos a Agrisus, UEMS, Famasul, Semagro-MS, Omnia, Biotec, Sistema OCB/MS, Ubyfol, Calpar, Sicredi, e Rede iLPF pelo apoio na realização do 3º Simpósio Brasileiro de Solos Arenosos (SBSA), em maio de 2019, em Campo Grande/MS.