sexta-feira, 28 de abril de 2017

Composição química dos alimentos: saiba como amostrar a silagem


desempenho animal desejado depende da formulação da dieta, a qual é fortemente influenciada pelos dados de composição química dos alimentos que a compõe. A deficiência de nutrientes na ração leva a um desempenho abaixo do esperado e o excesso deles, além de afetar a resposta animal, impacta sobre rentabilidade porque os custos com alimentação se elevam. Portanto, a composição de nutrientes nos alimentos deve variar o mínimo possível. Para que isso ocorra, aamostragem dos alimentos se torna um fator chave na nutrição animal.

Atenção especial deve ser dada as fontes forrageiras, pois as mesmas são as que possuem maior quantidade na dieta e as que mais apresentam variação na composição entre todos os ingredientes (alimentos concentrados sofrem pouca variação). Para forragens, não é correto utilizar valores de composição química derivados de banco de dados (tabelas de programas de formulação, por exemplo). Portanto, o valor nutritivo de uma forragem, neste caso a silagem, é específico de cada fazenda (na realidade, específico de cada silo – lembrando que silo é a estrutura onde a silagem fica armazenada). Assim, como amostrar e a frequência amostral são tópicos relevantes para quem usa silagem na dieta dos animais.

Neste texto, ênfase será dada às silagens estocadas em trincheiras, bolsas e silo superfície, pois o esquema de amostragem é similar para as três estruturas. Nas Figuras 1 e 2 estão demonstrados os passos que deverão ser seguidos (Do ‘A’..... até o ‘G’). Quando o silo estiver aberto, a primeira etapa (A; Figura 1) é remover silagem ao longo de todo o painel (de cima para baixo e lado a lado). Essa remoção pode ser feita mecanica ou manualmente. A partir da silagem removida que ficou depositada no chão (B), recolha, com as mãos, cerca de 8 porções e as coloque em um balde limpo (C).

Figura 1. Procedimento amostral que deve ser adotado no silo

Composição química dos alimentos: saiba como amostrar a silagem

Transporte o balde até uma superfície rígida e limpa (D; Figura 2), retire todo o conteúdo do balde e o homogeneize bem (E). A partir do conteúdo homogeneizado, dividá-o em quartos (F) e, em um saco plástico limpo, coloque o conteúdo de um quarto (G). Vede o saco plástico e identifique-o adequadamente, colocando o nome do amostrador, da propriedade, a data da coleta e a identidade da amostra (Ex: silagem de milho).

Como enviar a amostra ao laboratório? Para a determinação da composição química e perfil fermentativo, eu sugiro que a amostra seja congelada (não resfriada) e, posteriormente, por meio de uma caixa de isopor seja transportada/enviada até o laboratório de interesse.

Figura 2. Manipulação da silagem e finalização do procedimento amostral após a coleta no campo.

Composição química dos alimentos: saiba como amostrar a silagem
Qual é a frequência amostral a ser adotada?
O correto é repetir este procedimento 3 a 4 vezes ao longo do desabastecimento do silo. Caso um rebanho com alta exigência nutricional esteja sendo alimentado, esta frequência pode ser aumentada, pois os valores de matéria seca da silagem podem variar muito e, esta variação, afeta o balanceamento dos nutrientes.

Fique atento aos seguintes pontos quanto à amostragem:
1. Amostras da forragem no momento da colheita não representam a futura silagem. Portanto, se o interesse é saber a composição química da silagem aguarde a abertura do silo;
2. Descarte a silagem deteriorada antes de realizar a remoção do painel;
3. Não retire amostras com as mãos diretamente da face do silo;
4. Faça o procedimento de forma aleatorizada, ou seja, não seja tendencioso escolhendo ou descartando material (com exceção do apodrecido);
5. Não coloque a amostra a ser encaminhada ao laboratório em sacos de papel, pois a mesma é úmida;
6. Silagem não é um alimento ‘estático’, pois a mesma se deteriora rapidamente. Portanto, após ensacá-la, congele-a imediatamente.
7. Não se esqueça de identificar a amostra.

Preços sobem no mercado atacadista de carne sem osso

Por Isabella Camargo em 28/04/2017 no site Scot Consultoria.

Na média de todos os cortes pesquisados pela Scot Consultoria, a alta foi de 1,4% nos últimos sete dias.

A carne de dianteiro, “mais barata”, foi a que puxou o mercado. Estes cortes tiveram ajustes de 1,9%, em média, frente a 1,2% para os de maior valor agregado.

Em um mês a valorização foi de 1,9%, com aumento de 1,6% para os cortes do traseiro e 2,9% para os do dianteiro.

O baixo estoque, resultado das férias coletivas, feriados e alta ociosidade das indústrias, colabora para esse cenário, mesmo diante da demanda lenta.

Assim, diante das últimas altas para a carne e para o boi gordo, a margem das indústrias (diferença entre o preço pago pela arroba e a venda da carne) ficou em 27,3%.

Para os frigoríficos, apesar da clara dificuldade de se vender e de estarem operando com ociosidade considerável, analisando a margem, ela está mais de oito pontos percentuais acima da média histórica.

Em curto prazo fica a expectativa quanto a mais altas, já que no início do mês o poder aquisitivo da população é maior devido ao recebimento dos salários.

Mercado do boi mais movimentado após as altas de preço

Por Gustavo Aguiar em 28/04/2017 no site Scot Consultoria.

Mercado do boi gordo com maior movimentação, se comparado às semanas anteriores.

A recuperação nos preços do boi gordo atraiu parte dos produtores que tinham boiadas para comercializar.

Dessa forma, os frigoríficos foram capazes de ampliar as escalas de abate. Em São Paulo, as indústrias contam com programações que atendem, em média, quatro dias úteis.

Apesar de ainda não haver abundância de oferta, este quadro é mais confortável do que a escala média de dois dias úteis verificada na primeira quinzena do mês.

Para o curto prazo, fica a expectativa quanto à oferta de boiadas terminadas com o avanço do calendário, rumo à transição entre safra e entressafra.

Além disso, será fundamental a resposta do mercado da carne frente a um volume maior de abates nas próximas semanas.

Assim, a estratégia de retenção de boiadas deve ser friamente analisada pelo produtor, considerando, além dos riscos de mercado, a capacidade de suporte na fazenda e custo de carregamento do estoque.

Silagem de mandioca aumenta produção de leite e atua como repelente natural de carrapatos

Por 
Em 27/04/2017 no site Agrolink.

Um dos itens que mais impactam nos custos de produção da atividade leiteira é a suplementação alimentar do rebanho, responsável por um aumento mínimo de 60% no valor final investido com cada animal. A utilização da silagem feita a partir das folhas e ramos da mandioca é uma alternativa que vem demonstrando viabilidade para o produtor de leite, em razão do baixo custo de produção, alto teor proteico e o efeito fitoterápico de combate aos carrapatos.
A comprovação antiparasitária no rebanho foi identificada pelo produtor José Ivo de Souza e sua esposa, Delúcia Duarte de Souza, na estância São José, localizada no município de Anaurilânida. O casal faz parte do grupo de 50 produtores assistidos no município pelo programa Mais Leite, uma das linhas de atuação da ATeG – Assistência Técnica e Gerencial, do Senar/MS – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural.
Os resultados imediatos identificados pelo produtor foram percebidos inicialmente nos custos com a compra de ração (gastava 480 kg com ração mensalmente) e o aumento na produção de leite que aumentou em 25 litros diários, após o consumo da fenagem. “Fiquei satisfeito com a mudança, as vacas aceitaram muito bem e produzem mais. Porém, o que mais chamou a atenção foi que os carrapatos dos animais mudaram de coloração, murchavam e caiam, a partir de 15 dias consumindo a silagem”, explica.
A resposta veio do técnico de campo, Ronaldo Bandoch, que esclarece a ação da planta no organismo animal. “A mandioca possui um composto químico chamado ácido cianídrico, presente nas folhas, ramas e raízes. Quando este material passa pelo processo de moagem, a maior parte da toxina se evapora com a secagem, entretanto, os resíduos que permanecem são digeridos pelos animais e expelidos pelo suor agindo como um repelente contra estes parasitas”, argumenta.
Delúcia também acompanha o manejo diário e reforça que a assistência técnica oferecida pelo Senar/MS proporcionou ainda mais conhecimentos sobre a pecuária de leite. “Minha família sempre trabalhou com leiteria, mas, as técnicas recomendadas pelo Ronaldo mostraram que devemos estar atentos a tudo, da alimentação à genética dos animais. Por isso, já planejamos trocar o rebanho aos poucos, sem deixar cair a produção”, observa.
Estudos científicos – Desde 2014, pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju/SE) e Gado de Leite (Juiz de Fora /MG) desenvolvem um projeto para verificar a eficiência de carrapaticidas com a utilização de manipueira, um liquido extraído da mandioca quando prensada no processo de fabricação da farinha. Outras utilizações estão em processo mais adiantado de utilização, misturando o extrato com água oferecida aos animais, por exemplo.
Bandoch destaca que a utilização da silagem de mandioca é melhor aceita pelos produtores nos últimos anos, mas ainda necessita de divulgação sobre suas potencialidades. “Esta técnica só não é mais utilizada por falta de informação, visto que é um alimento alternativo com muitas vantagens. É uma ração balanceada já que a raiz é fonte de energia e carboidratos, a rama contém mineral e a folha é fonte de proteína que varia de 28% a 32%”, justifica.
Souza possui atualmente 37 vacas em lactação com uma produção diária de 336 litros, obtidos a partir de uma ordenha. Com as modificações na alimentação, o planejamento é aumentar para duas retiradas de leite e chegar a 450 litros, o que é relevante se for considerado a realidade da atividade leiteira em Mato Grosso do Sul. Segundo dados da Pesquisa Pecuária Municipal de 2015 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Estado ocupa apenas na 12ª posição no ranking nacional de produção de leite, com uma média anual de produção por vaca de 1.023 litros.
O atendimento prevê as seguintes etapas de desenvolvimento: diagnóstico produtivo individualizado, planejamento estratégico da atividade rural, adequação tecnológica, capacitação profissional complementar e avaliação sistemática dos resultados. Em 2016, as equipes de técnicos de campo prestaram atendimento para 2.147 propriedades rurais em 48 municípios do Estado.
Na avaliação da gestora do Departamento de Assistência Técnica e Gerencial, Mariana Urt, os resultados obtidos pela metodologia comprovam a eficiência do modelo idealizado pelo SENAR. “São realidades diversas em cada propriedade assistida, independente da atividade rural. No entanto, um fator é unânime, os produtores que executam as recomendações propostas pelos técnicos e se capacitam vêm conquistando ganhos produtivos e qualidade de vida familiar”, conclui.

Como foi feito o refúgio na sua lavoura de milho?

Por Marina Salles em 27/04/2017 no site Portal DBO.

Perguntando de porteira em porteira a produtores de Mato Grosso se fizeram o refúgio na segunda safra de milho, é possível obter respostas das mais variadas. E encontrar daqueles que dizem ter feito em 5% da área àqueles que fizeram em 10%, 15% ou até 45%. Mas, afinal, quem está certo? E qual a melhor maneira de fazer valer a prática que aumenta a durabilidade da tecnologia Bt?
De acordo com o pesquisador Rafael Pitta, especialista em entomologia da Embrapa Agrossilvipastoril, o refúgio nada mais é do que uma área onde é plantado algum cultivar de milho convencional para permitir que sejam mantidas populações de pragas sensíveis à toxina Bt. “Vamos imaginar que ali no refúgio nascem insetos suscetíveis à toxina Bt, então, quando eles migram para áreas onde está o milho transgênico, e cruzam com indivíduos resistentes, produzem descendentes que podem manter a suscetibilidade”, explica.
Manejo - A fim de criar condições para que os cruzamentos aconteçam, no entanto, algumas premissas precisam ser respeitadas:
- A primeira delas, é que o produtor destine pelo menos 10% da sua área plantada ao refúgio.
- A segunda, que o refúgio não fique a mais de 800 metros da área de milho transgênico, por conta do alcance de voo das mariposas. (A essa distância, segundo Pitta, é alta a probabilidade de que um inseto suscetível ao Bt encontre outro resistente à toxina).
- E, por fim, que o milho não-Bt tenha porte e ciclo vegetativo semelhantes ao do milho Bt – além de serem plantados na mesma época, para permitir a sincronização do ciclo das mariposas. 
Considerados esses pontos, os talhões de milho não-Bt podem ficar na bordadura da área Bt, somente nas suas laterais ou em faixas no meio da lavoura (conforme a figura acima). “Tudo depende da logística que for melhor para o produtor na hora do plantio”, afirma Pitta.
No caso das pulverizações, ele diz que não há problema em entrar com inseticida nas áreas de refúgio desde que o produtor faça um controle das populações de lagartas. “Se você entra em uma área de refúgio que não tem uma folha comida por lagarta, essa área não cumpriu o seu papel”, diz.
Hoje, os milhos transgênicos, segundo ele, têm proteção contra a lagarta do cartucho (Spodoptera); da espiga; lagarta elasmo e broca-do-colmo (Diatraea). “Para controlar essas populações na área de refúgio,  o produtor pode aplicar o inseticida, sem excessos, porque o produto não tem 100% de eficácia, e não inviabiliza que haja insetos suficientes para cruzar com os indivíduos resistentes das lavouras Bt”, explica. A questão é não exceder as aplicações necessárias, o que pode selecionar também lagartas resistentes a inseticidas.
Com manejo adequado, Pitta afirma ainda que é possível garantir produtividades tão altas no refúgio quanto na área Bt. “O que vai ditar a diferença nesse sentido é muito mais o híbrido usado, porque se o teto produtivo das duas cultivares for próximo, a produtividade também pode ser”. De acordo com ele, não existe legislação que obrigue o produtor a fazer o refúgio, mas esse trabalho de conscientização é o que vai permitir que tecnologias transgênicas, que tanto tempo levam para serem desenvolvidas, tenham maior durabilidade.
 

Fonte: Portal DBO

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Alimentos artificiais e a volta às origens: as oportunidades estarão no mundo dos extremos?

Por Marcelo Pereira de Carvalho 
Em 26/04/2017 no site MilkPoint.


O grupo de pessoas para em frente à ordenha das vacas. É uma fazenda típica da Califórnia: milhares de vacas confinadas, altíssima eficiência, uma verdadeira fábrica de produção de leite, da maneira necessária para alimentar, com custo competitivo, padronização e qualidade, os 9 bilhões de habitantes que o mundo terá em alguns anos. Um exemplo do sucesso da produção de alimentos que caracterizou os avanços do século XX.

Uma consumidora, sabendo da minha especialidade na cadeia do leite, comenta com suspeição que aquela indústria, na esteira da eficiência, produz uma montanha de dejetos; gera odor desagradável; mantém as vacas em ambientes confinados e separa os recém-nascidos de suas mães (um argumento forte em especial para mulheres, por razões óbvias). Ela fica ainda mais descrente daquilo tudo ao saber que a taxa de descarte passava de 40% ao ano. Em outras palavras, as vacas viravam carne em média apenas 2,5 anos após terem iniciado sua vida produtiva. Depois disso, não serviam mais ao sistema.

Figura 1 - Fazenda produtiva da Califórnia.

fazenda Califórnia

Para quem atua na cadeia produtiva, essa visão soa quase irreal: as vacas são bem tratadas, caso contrário não teriam o desempenho produtivo que têm; as propriedades como aquela têm forte compromisso ambiental (esta inclusive tinha uma grande área para geração de energia via painéis solares), com tratamento de dejetos e tendo que cumprir rígidos programas de conduta ambiental; e que o descarte precoce dos animais era a maneira mais eficiente de reduzir os custos de produção e facilitar o acesso a mais pessoas ao nobre alimento.

Mas esses são argumentos racionais, ou de quem vive o negócio. O problema é que o consumidor tem suas percepções, cientificamente corretas ou não, influenciadas por uma infinidade de fontes de informação. Mais do que isso, estas percepções são influenciadas também pela maneira como o consumidor se vê ou quer se ver no mundo. Se ele se considera uma pessoal legal, vai ficar mais feliz consigo se comprar um produto feito por um pequeno produtor familiar, em que as vacas pastam “felizes”, caso assim veja o mundo, influenciado pelo entorno. Irá querer consumir algo que tenha um significado maior do que a combinação de proteínas, minerais, vitaminas, carboidratos e gorduras. Mesmo que custe mais caro. Vale a máxima de que você é, afinal, o que você come.

Logicamente, isso soa distante quando ainda temos uma parcela enorme de pessoas no mundo com pouco acesso a alimentos em quantidade e qualidade mínimas. Mas, por outro lado, é inegável que este processo existe e pode ser fonte de valor para muitos que captarem a oportunidade. Também, vale aqui recordar o filósofo romano Cícero que, há 2.000 anos, cunhou a célebre frase: “os eventos futuros projetam sua sombra muito antes”. Convém não ignorar.

Essas mudanças, evidentemente, não afetam apenas a produção, mas também – e talvez principalmente – o processamento de alimentos e o valor das marcas das empresas. E já geram consequências.

Um interessante estudo produzido pela consultoria Deloitte, em 2016, mostrou que, ao invés de valorizar principalmente preço, performance e sabor, os novos direcionadores de consumo envolviam cada vez mais transparência, cidadania corporativa, saúde e bem-estar e segurança. É uma mudança e tanto! Mais e mais, as pessoas estão buscando consumir de empresas que têm, efetivamente, um propósito maior do que lucrar e crescer.

Os impactos são grandes. No âmbito da produção, os profissionais de ciências agrárias e veterinárias ou os cientistas e engenheiros de alimentos foram treinados com a missão de produzir algo gostoso, com preço competitivo e com o desempenho proposto. De repente, isso não é mais suficiente, e o que é necessário está bem além de suas atribuições ou competências. Do lado do negócio, mais ainda. A própria indústria de alimentos baseou-se no tripé escala/padronização/qualidade com eficiência para crescer.

O estudo revela ainda um ponto muito interessante: o conceito do que significa um atributo pode mudar ao longo do tempo. O exemplo é a saudabilidade. No passado, a composição nutricional adequada era sinônimo de saudável, mesmo que essa composição fosse obtida através da adição de diversos ingredientes externos. Essa visão está mudando. O novo paradigma de consumo trabalha o conceito de quanto menos ingredientes, quanto menos processamento, quanto mais próximo da origem, melhor e mais saudável.

Figura 2 - Menos é mais.

menos é mais

É, de fato, uma espécie de volta às origens, em que o consumidor refuta a industrialização excessiva, as longas cadeias de fornecimento e a falta de transparência a respeito de como o alimento é feito (parêntesis: episódios como a Operação Carne Fraca são um forte anabolizante para essa tendência, contribuindo também para que o consumidor tenha cada vez menos tolerância com as eventuais falhas neste tipo de produção).

E, claro, isso repercute nas grandes corporações de alimentos. O mesmo estudo mostra que as 25 maiores empresas de alimentos do mundo, entre 2009 e 2013, tiveram crescimento marginal, de apenas 1% ao ano, contra 4,9% de empresas menores, com marcas diferenciadas e que, possivelmente, compensam o menor poderio com uma maior aderência aos novos direcionadores.

É fácil agora perceber que o pensamento da consumidora na fazenda californiana não é isolado nem está descontextualizado, ao contrário: segue uma linha que conversa com essa nova visão do consumo, em que preço e qualidade básica não são mais suficientes. O produto final não basta; é preciso ver como foi produzido, e por quem.
Como lidar com esse cenário? Enfrentar a visão do consumidor, insistindo que está “equivocado”? Ou adaptar-se, captando as oportunidades? O que as grandes corporações podem efetivamente fazer? Perguntas difíceis...

Para tornar a análise um pouco mais complexa do que isso, vamos nos transportar agora para o Vale do Silício: San Francisco, sede do Google Developers Launchpad. Para incredulidade dos participantes do evento de imersão em AgTechs, um jovem, sócio da Ava Winery, desafia os participantes dizendo que irão produzir em laboratório qualquer tipo de vinho, qualquer safra, a preços competitivos. Quer um Chateau Petrus 1982? Sem problemas. Afinal, como ele disse, o vinho é uma combinação de moléculas. Basta recriá-las (e, certamente, a tecnologia e o conhecimento para isso só aumentarão) e, voilà, tem-se o produto genérico, que você poderá beber até comendo um hambúrguer de fast food.

Este não é o único exemplo de comidas de laboratório; quem já comeu o Impossible Burger me jurou que o produto parece mesmo carne, apesar de ser feito de vegetais. Não se engane: vem aí uma onda de alimentos genéricos, ou seja lá como os chamaremos. O que isso vai virar, ninguém sabe. As pessoas irão querer realmente consumir em seu dia a dia produtos como esses, ou ficará somente no campo da curiosidade?

Figura 3 - Alimentos de laboratório (Google Developers Launchpad).

alimentos de laboratório

Não sei. De qualquer forma, vale refletir: mundo interessante, esse! De um lado, um processo de volta às origens, de processamento mínimo, de conhecer o produtor, como os antigos faziam. De outro, o cúmulo da artificialidade: a comida feita em laboratório. Ambas tidas como vertentes de futuro. Ambas buscando algo novo, de formas muito distintas.

Porém, há uma linha que relaciona as tendências aparentemente opostas: fazer o bem. No primeiro caso, para os animais, para as famílias, para as comunidades e para o ambiente (o que é simplista, já que há estudos mostrando que a produção industrial gera normalmente menor pegada de carbono por unidade produzida do que as menos intensivas); no segundo, para os animais (que passam a não ser explorados) e para o ambiente, já que se usaria menos água e outros recursos.

Tudo isso gera incertezas e ameaças (e oportunidades, para quem estiver do lado certo da tendência ou souber se reinventar). É um cenário complexo e novo, em que as bases do crescimento da indústria de alimentos nos últimos 100 anos serão muito desafiadas. Certamente, teremos espaço para novos vencedores neste ambiente, seja com novas propostas de valor, seja modelos de negócio disruptivos, ou seja com propósitos mais alinhados com o que deseja o consumidor. Tempos sem dúvida interessantes!

(Estive no evento AgTech Immersion Program – Seeds of Our Future, realizado no Vale do Silício. Fui com o intuito de conhecer o ecossistema de startups, com foco no agronegócio. A AgriPoint está participando de um novo negócio – a AgTech Garage, que será um ponto de apoio e conexão para a inovação no agro).

ILPF já atingiu a marca de 11,5 milhões de hectares do agronegócio brasileiro

 
Por 

Pesquisa feita pela Rede de Fomento a ILPF revela que sistema aumentou em quase dez milhões de hectares em dez anos e já sequestrou 21,8 milhões de toneladas de CO2
O agronegócio brasileiro possuía, em 2015 uma área de 11,5 milhões de hectares onde a produção agropecuária se deu por meio de sistemas integrados, envolvendo pecuária, agricultura e também o plantio de floresta. A constatação foi feita em recente pesquisa realizada pelo Kleffmann Group, por encomenda da Rede de Fomento ILPF-Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, uma parceria público-privada formada por empresas, cooperativas e da qual também participa a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. A Rede de Fomento faz parte de um esforço conjunto para intensificar a adoção dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta por produtores rurais. 
O levantamento mostrou que, em dez anos, a área ocupada pela ILPF aumentou em quase dez milhões de hectares. Em termos de configuração, o sistema mais utilizado é o da integração lavoura-pecuária, apontado por 83% dos produtores; 9% disseram utilizar integração lavoura-pecuária-floresta; 7% mantinham integração pecuária-floresta; e 1% aplicavam a integração lavoura-floresta. Por Estado, o líder em área destinada a produção com o sistema ILPF é o Mato Grosso do Sul, com um total de 2,085 milhões de hectares; seguido do Mato Grosso, com 1,5 milhão de hectares; e Rio Grande do Sul, com 1,4 milhão de hectares. Minas Gerais e Goiás também se destacam, respectivamente, com 1,046 milhão e 943 mil hectares. 
A pesquisa constatou ainda que a integração ganhou adesão maior nos últimos anos, pois 29% dos entrevistados disseram que adotaram o sistema entre 2011 e 2015. Nesse período, a área média com ILPF subiu de 4,3%, para 9,4% da área agricultável das fazendas. Entre os pecuaristas que usam a ILPF, a previsão é de que o espaço médio destinado ao sistema chegue a 20,6% da área agricultável de suas propriedades em 2030. Outro dado bastante animador para o sistema é que 84% dos pecuaristas estão satisfeitos com os resultados da ILPF. 
Francisco Matturro, Vice-Presidente da Abag-Associação Brasileira do Agronegócio, comenta que a satisfação dos produtores se deve, basicamente, aos muitos benefícios do sistema. Entre os principais, ele destaca: “aumento da renda líquida, permitindo maios capitalização do produtor; melhoria da qualidade e conservação das características produtivas do solo; aumento da produção de grãos, carne, leite, produtos madeireiros numa mesma área; possibilidade de aplicação em propriedades de qualquer tamanho; redução da sazonalidade do uso de mão de obra; maior otimização dos processos produtivos; estabilidade econômica com a redução da incerteza devido a diversificação da produção; além da redução da pressão pela abertura de novas áreas com vegetação nativa”, concluiu Matturro. 
A adoção da sistemática de integração também resulta em benefícios ambientais. A pesquisa encomendada pela Rede de Fomento a ILPF também constatou que, entre 2010 e 2015, o incremento de 5,96 milhões de hectares foi responsável pelo sequestro de 21,8 milhões de toneladas de CO2. Outros benefícios decorrentes do sistema: manutenção da biodiversidade e sustentabilidade da agropecuária, otimização e intensificação da ciclagem de nutrientes no solo, e melhoria do bem-estar animal em decorrência do maior conforto térmico proporcionado pelo compartilhamento da floresta com a pastagem. 

ICMS no trânsito interestadual de insumos

Em 26/04/2017 no site Portal DBO.

Isenção foi considerada "uma vitória" para todo o setor produtivo, disse a Aprosoja Brasil

O Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) renovou o convênio que tem por objetivo garantir a manutenção das isenções de ICMS para o trânsito interestadual de insumos agropecuários, informou nesta terça-feira, 25, em nota, a Associação dos Produtores de Milho e Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), que comemorou a decisão. A renovação do convênio de número 100/97 pelo Confaz foi considerada "uma vitória" para todo o setor produtivo, disse a Aprosoja Brasil, por evitar mais uma elevação de tributos para o setor.
Conforme a entidade, "o resultado é fruto de um trabalho de sensibilização do presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Nilson Leitão (PSDB/MT), e da Aprosoja Brasil junto aos secretários de Fazenda de diversos Estados para que a Secretaria de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro se posicionasse pela renovação do Convênio 100/97 durante a reunião do Conselho".
Fonte: ESTADÃO CONTEÚDO

Lácteos: exportação cresce 12,7% no 1º tri

Em 26/04/2017 no site Portal DBO

Mesmo com a balança comercial com um saldo negativo de US$ 125,3 milhões, os sinais dos primeiros meses de 2017 mostram um aumento das exportações e a continuidade da redução das importações de lácteos. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as exportações no primeiro trimestre deste ano mostram um desempenho 12,7% melhor que o mesmo período de 2016. Os embarques totalizaram US$ 38,9 milhões, enquanto que de janeiro a março do ano passado foram US$ 34,6 milhões.
 
Nos três primeiros meses de 2016, os 10 principais compradores foram responsáveis por 86% do total embarcado. Já neste ano, os top 10 respondem por 76%. A Venezuela continua sendo o principal destino, contudo sua participação caiu de 55% do total para 21%. 

Outra mudança substancial diz respeito ao principal produto comercializado no mercado externo. Para o período analisado em 2016, embarcou-se mais leite em pó integral (54%), ao passo que neste ano foi o leite condensado (43%). À exceção do grupo do soro, todos os demais têm um desempenho melhor em 2017 em relação ao ano passado, com destaque para os queijos e o leite modificado.
Por sinal, o bom desempenho dos queijos, quando comparado aos demais lácteos, já é observado desde o ano passado. Não por acaso, os principais destinos dos queijos brasileiros foram Rússia (US$ 1.125 mil), Chile (US$ 856,4 mil), Argentina (US$ 825,3 mil) e Taiwan (US$ 587,0 mil), correspondendo a 78% do total. “A diversificação de mercados e produtos exportados são metas do setor que deverão ser fortalecidas nos próximos anos. Esperamos que o avanço do projeto Apex neste contexto contribua para este incremento”, destaca Marcelo Martins, diretor executivo da Associação Brasileira de Laticínios (Viva Lácteos).
Em março as compras no mercado externo somaram quase US$ 52 milhões, enquanto em fevereiro foram US$ 53,5 milhões, e janeiro US$ 58,8 milhões.
No acumulado do ano já são US$ 164 milhões, sendo 68% deste valor proveniente da compra de leite em pó, US$ 111,8 milhões, correspondentes a 35,4 mil toneladas. Somente dos países do Mercosul foram 32,1 mil toneladas, sendo 12,9 mil toneladas da Argentina, 18,8 mil toneladas do Uruguai e 400 toneladas do Paraguai.
Outro grupo de produtos que contribuiu com grande parte das importações foi o de queijos. Nos primeiros meses deste ano foram US$ 33,6 milhões, correspondentes a 7,9 mil toneladas. 
Fonte: CNA

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Ferramentas genômicas para melhoria da qualidade do leite


Por Bruna Gomes Alves e Marcos Veiga dos Santos*
Em 22/04/2017 no site MilkPoint.
Durante as últimas décadas, o melhoramento genético de vacas leiteiras teve como foco a busca de alta produção de leite e outras características diretamente relacionadas, tais como a produção de leite/dia e a produção de sólidos. Este foco de melhoramento genético fez com que as vacas, ao longo de aproximadamente 50 anos, fossem diretamente selecionadas para aumentar o volume de leite produzido/dia, e consequentemente, expressassem maior produção por lactação. Nos Estados Unidos, por exemplo, as vacas nascidas em 2014 produziram cerca de 6.000 kg a mais de leite por lactação, do que as vacas da década de 60.

A genômica é o estudo de todo o material genético contido no DNA de qualquer ser vivo. Ao passo que a genética está aprofundada no estudo de um único gene, a genômica permite entender como os genes se relacionam, e como as informações estão fisicamente localizadas no cromossomo; seja para o crescimento e manutenção do animal ou para a evidência de alguma característica de interesse. Os testes genômicos podem ajudar na previsão da rentabilidade e na antecipação de medidas estratégicas que podem ser decisivas para a atividade leiteira.

Com o avanço da seleção para produção de leite houve uma redução de foco nas características-alvo para saúde e fertilidade, além de características de aprumo, altura, pernas e pés. Essa seleção intensa para um objetivo principal, contribuiu para reduzir a diversidade genética populacional do rebanho; fato que pode levar aos aumentos dos níveis de endogamia (acasalamentos entre indivíduos aparentados), prejudicando ainda mais a saúde, fertilidade e longevidade dos animais. Além disso, foi possível notar que este aumento da produção de leite oriunda da seleção genética pode ser correlacionado com maior risco de apresentar mastite clínica e aumento na contagem de células somáticas (CCS).
A mastite ainda é considerada a doença mais comum nos rebanhos leiteiros, que é responsável por aumento dos custos com medicamentos e veterinários; e, principalmente pelo custo da perda de produção pelos animais acometidos. Estudos recentes indicam uma prevalência de 25% para mastite clínica em mais de 4 milhões de dados de lactações analisados nos EUA, sendo que no Brasil um estudo recente, realizado em 587 rebanhos durante 5 anos, estimou a prevalência de 46,4% das vacas com mastite subclínica (> 200 céls/ml) e média de 17 novos casos de mastite subclínica/100 vacas-mês.

Dentro da fazenda, a CCS do leite afeta tanto o pagamento por qualidade, quanto resulta em prejuízos causados pela redução da produção de leite, seja ela na forma clínica ou subclínica.  Com objetivo de reduzir a mastite, alguns pesquisadores desenvolveram programas de avaliação genética levando em conta o Escore Linear de Células Somáticas (EL-CCS), a partir de 1994. Desde então, a incorporação do EL-CCS em programas de avaliação genética, associados com outras medidas de manejo, possibilitou a redução da CCS média de 319.000 em 2003 para 199.000 células/ml em 2016, considerando os dados de rebanhos dos EUA.

composição dos genes pode nos fornecer informações para o diagnóstico da doença como também sobre a patogenia do agente infeccioso. O maior progresso dos estudos genômicos voltados para a mastite foi verificado na resistência à doença. Os avanços genômicos têm possibilitado identificar polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs), que podem atuar como marcadores biológicos e ajudar a localizar os genes responsáveis pela resistência à mastite, além da detecção de muitos locus de características quantitativas (QTL) associados a características fenotípicas.

Estudos prévios indicam que as correlações genéticas entre a ocorrência de mastitee a produção de leite são positivas. Estima-se que vacas de alto potencial genético para produção de leite são menos resistentes à mastite, com uma correlação de 0,25 entre produção de leite e susceptibilidade à mastite. Sendo assim, a mastite e o EL-CCS são negativamente correlacionados com várias características econômicas importantes em um rebanho leiteiro, como vida produtiva, taxa de prenhez, e taxa de concepção, tanto de novilhas como de vacas (Tabela 1). Assim, os programas de seleção podem balancear os impactos das características negativas com as características econômicas, selecionando animais mais resistentes à mastite ao mesmo tempo que haja seleção para produção, fertilidade e longevidade.

Tabela 1. Correlações genéticas entre EL-SCS e outras características de vacas leiteiras

mastite em vacas
O índice PTA (habilidade de transmissão prevista) de uma característica nos indica o potencial que um animal tem em transmitir certa característica de interesse para sua progênie. Neste caso específico da mastite, ao selecionarmos vacas com baixo PTA para EL-CCS, estaremos indiretamente selecionando animais mais resistentes à mastite, visto que menores valores indicam que as vacas apresentarão menor CCS durante a lactação das próximas gerações, quando comparadas à população base. Ainda que a herdabilidade do EL-CCS seja de 0.12, o que pode até ser considerado alto por ser uma característica relacionada à saúde. Esta herdabilidade indica a capacidade da característica ser passível de seleção direta, ou seja, o quanto ela é afetada pelo ambiente.

Nos EUA, as avaliações genéticas são padronizadas por medidas STA (Standardized transmitting abilities), que classificam um animal com base no seu valor genético em relação à média de vacas nascidas em 2010. Para as predições de mastite, o valor de STA igual a 100 indica a média esperada do risco de mastite, enquanto valores maiores que 100 indicam animais com menor risco esperado em relação aos herdados. Assim, valores mais altos são desejáveis para características de mastite, pois selecionando por um alto STA haverá, consequentemente, pressão de seleção para redução do risco da doença.

Um estudo recente que quantificou as diferentes prevalências da mastite por ponto de STA na primeira lactação indicou que a medida que os pontos de STA para mastite aumentam, ocorre visível diminuição da prevalência da mastite, independente do modelo incluir ou não o efeito do rebanho, do ano ou estações; embora neste segundo modelo seja possível perceber as variações de manejo, nível tecnológico e ambiente específicos para cada propriedade.

Assim, a melhora da seleção genética para a saúde do úbere pode contribuir para o aumento da lucratividade da atividade e da diminuição da prevalência da mastite. A incorporação de estudos genômicos na avaliação genética de vacas de leite pode ser ferramenta interessante, pois embora a mastite e a sanidade do úbere ainda sejam bastante influenciadas pelo ambiente, a genética tem papel importante na susceptibilidade do animal em apresentar mastite bem como na seleção de animais potencialmente mais lucrativos e longevos.

Fonte: 
DICROCE, et al. Genomic Information to Improve Milk Quality in Dairy Cattle In: 56th National Mastitis Council Annual Meeting, 2017, St. Pete Beach - Florida. Proceedings 56th National Mastitis Council, 2017.

* Bruna Gomes Alves é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal da FMVZ/USP

Oferta curta sustenta mercado do boi gordo

Por Alex Santos Lopes da Silva

Em 26/04/2017 no site Scot Consultoria.

Mercado firme. As ofertas de compra estão alinhadas à referência, há poucas tentativas de negócios por preços menores. A amplitude entre as ofertas maiores e menores dificilmente ultrapassa os R$2,00/@ em quase todas as praças.

Estão cada vez mais comuns pagamentos acima da referência.

A carne, apesar da estabilidade nas cotações, não tem sido o fator de sustentação do mercado, aliás, se não impede, pelo menos, limita as valorizações. O consumo não vai bem. É a disponibilidade de boiadas que dita o ritmo dos negócios. Não há facilidade para adquirir matéria-prima.

A seca e seus efeitos no capim ainda não foram sentidas na maior parte do Brasil e os produtores mantém os animais com certa facilidade no pasto. Ruim para as indústrias e positivo para a firmeza do mercado.

Em São Paulo, todas as indústrias menores estão pagando entre R$137,00 e R$138,00/@, à vista, já descontado o funrural.

No mercado atacadista de carne bovina, o boi casado de animais castrados, depois da queda de 3,5% no final da última semana, está sem fôlego para reajustes e segue em R$9,61/kg.

Redução de impostos aumentou produção e manteve arrecadação na Argentina

 
Por  - Leonardo Gottems

A eliminação das chamadas “retenciones” (impostos sobre exportações) trouxeram um efeito positivo para a produção agrícola argentina. A carga tributária menor provocou aumento da produção e não afetou a arrecadação do governo, apontou relatório realizado pelo IEEyNI (Instituto de Estudios Económicos y Negociaciones Internacionales) da SRA (Sociedade Rural Argentina).
Mesmo sem “retenciones” no trigo, girassol e milho e com a redução de cinco pontos percentuais para a soja, o ingresso de tributos foi compensado em 97,5%. De acordo com o estudo, isso ocorreu porque o alívio da carga de impostos estimulou os investimentos, incrementou a produtividade e ampliou a lucratividade – resultando em aumento no imposto de renda.
“Aconteceu o que prevíamos: que as ‘retenciones’ eram um desincentivo à produção e acabar com essa taxa representava um bem maior para o país. O Estado não perdeu arrecadação, pelo contrário: ao se igualar as condições do campo a outros setores da economia argentina, se aumentou a produção, a demanda por insumos, por transporte, por maquinário agrícola e um incremento no comércio doméstico e exterior”, explicou o presidente de la Sociedade Rural Argentina, Luis Miguel Etchevehere.

Safra cheia impacta preços e armazenagem em MT

Por Marina Salles
Em 25/04/2017 no site Portal DBO.
Nesta segunda-feira, 24, foi dada a largada na 4ª edição do Circuito Tecnológico Etapa Milho, expedição realizada pela Aprosoja em parceria com a Embrapa e apoio do Imea. Já nos primeiros quilômetros rodados de Cuiabá a Campo Verde, MT, nos deparamos com lavouras vistosas – a maioria em fase de pendoamento. Para o produtor e agrônomo Benedito Nelson Fernandes Júnior, o viço das plantas é sinal de safra cheia, mas também de problemas com preço e armazenagem da produção.
Na fazenda da família, Fernandes Júnior e seu tio plantam juntos, sem a ajuda de nenhum funcionário, 450 hectares de soja e milho em sucessão, tendo alcançado na última safra uma média de produtividade de 88 sacas/ha de milho. Na safra 2016/2017, eles esperam colher 115 sacas/ha.
“A questão é que perdemos o timing e não fizemos contrato futuro para o milho, e agora o preço para entrega imediata está em R$ 17 na região. A venda lá na frente está ainda pior, o mercado futuro está em R$ 13”, diz Benedito. De olho no aumento de produção, o produtor diz que conseguirá pagar seus fornecedores, mas vê chegando por aí uma crise no armazenamento. “A gente que é pequeno ainda dá um jeito, consegue encaixar e entregar o produto na trading, mas, com esses preços, e com muito produtor ainda segurando a comercialização da soja, devemos ter milho a céu aberto em Mato Grosso nesta safra”, afirma.
De acordo com seu tio, Eliomar Fernandes, para eles, que plantam menos de 500 hectares, hoje não vale a pena investir em um armazém próprio, o que, no entanto, é coisa a se pensar em Mato Grosso, para não ficar refém dos preços ao final da colheita.
Ao todo, 10% da produção de soja da família, da safra 2016/2017, ainda não foi comercializada e está em armazéns de terceiros ao custo de R$ 1,60 a saca/mês, preço que Fernandes diz que tende a subir quinzenalmente a partir de maio. A produtividade média da soja na fazenda da família foi de 62 sacas/ha este ano, tendo sido uma parte da produção vendida a R$ 67 e outra a R$ 50.
Quanto à comercialização do milho, os Fernandes esperam que alternativas como o leilão de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) e o Prêmio para o Escoamento do Produto (Pep) garantam pelo menos o preço mínimo estipulado no Estado, de R$ 16,50/saca.
O outro lado da moeda - Para Cristiano Botan, da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, a situação é um pouco mais confortável. Com um silo metálico com capacidade para armazenar 100 mil sacas, ele comercializou 60% da sua produção de soja e 100% da produção de milho. Na soja, conseguiu uma média de R$ 67,40/ saca e, no milho, de R$ 19. “Agora, acabou a pressa para colocar o restante no mercado. Conseguimos pagar as contas e vamos esperar para ver como fica o preço”, diz.
No entanto, com uma produtividade de 155 sacas/ha de milho, ele acredita que nessa safra, se não ocorrer uma frustração, a queda no preço do milho, com o aumento da oferta, só vai permitir empatar o custo com o retorno trazido pelo grão. Com o que Juliano Panice, da Agropecuária Limeira, concorda: “Com a safra cheia a gente pode ter um lucro pequeno com o milho ou ficar no zero a zero”, diz.
Na mesma região de Botan e Fernandes, a Agropecuária Limeira, da família Panice, produz soja e milho em 1.500 hectares e conta com um silo metálico, com capacidade para armazenar até 160 mil sacas de grãos. A estrutura também dá margem de manobra para o produtor, que comercializou 50% da sua produção de soja e 20% da sua produção de milho. “Eu me arrependo de não ter vendido mais antes, quando o preço da saca de soja bateu R$ 92, porque agora está na casa dos R$ 54”, afirma Panice.
Das 45 mil sacas de soja que ele já comercializou, 5% foram vendidas por R$ 80/saca, 15% por R$ 74 e 30% por R$ 55. O milho ficou na faixa de R$ 21. “A safra vai ser boa, mas com um custo de produção relativamente alto. Para mim, de 140 sacas/ ha para o milho e 43 sacas/ha a soja”. A produtividade da soja na Agropecuária Limeira foi de 78 sacas/ha na safra 2016/2017 e a expectativa é colher este ano, justamente, 140 sacas de milho/ ha.
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Fonte: Portal DBO

ILP deve aumentar pressão na pecuária neste ano

Por Alisson Freitas
Em 25/04/2017 no site Portal DBO
O esperado aumento na oferta de bovinos em 2017 tem levado à queda de cotações na pecuária, sobretudo nas categorias de bezerro e boi magro. De acordo com André Pêssoa, sócio-diretor da Agroconsult, esse movimento deve atrair um grande número de agricultores à atividade, por meio de sistemas de Integração Lavoura Pecuária (ILP).
“Essa era a janela que os agricultores esperavam para entrar na pecuária”, destacou o analista, durante o lançamento do Rally da Pecuária 2017. “Eles conseguirão pagar boa parte da implementação desse sistema só com a venda de milho das últimas safras”, acrescentou.
A chegada de mais gente ao mercado deve aumentar a concorrência na venda de animais aos frigoríficos, principalmente em função do perfil desses produtores. “Enquanto muitos pecuaristas são receosos em investir em tecnologia, o agricultor sabe que se não investir ele está fora da atividade. Eles devem adotar esse mesmo pensamento na pecuária e alcançar uma produtividade maior do que muitos pecuaristas tradicionais. O mercado vai punir que não usa tecnologia”, afirmou Pêssoa.
Confinamento – A redução no preço da reposição deve fomentar também o confinamento. Para Maurício Nogueira, coordenador de Pecuária da Agroconsult, é esperado o aumento de 12% a 15% no número de bovinos confinados em relação ao ano anterior, totalizando mais de 5 milhões de cabeças.
“Devemos ter um aumento de, no mínimo, 500.000 a 600.000 animais terminados nesse sistema. Essa projeção pode crescer ainda mais ao longo do ano”, destaca o analista.
Além dos animais alimentados no cocho, a estimativa leva em consideração também a Terminação Intensiva a Pasto (TIP), onde o produtor fornece a mesma quantidade de ração que o animal receberia em um confinamento, só que no pasto.
De acordo com as projeções da Agroconsult, devem ser abatidos mais de 40,4 milhões de bovinos em 2017, alta de 9,6% em relação ao ano anterior. A consultoria estima também que o preço da arroba do boi gordo caia de 7% a 12% até o fim do ano.
Fonte: Portal DBO

terça-feira, 25 de abril de 2017

Razões para acabar com o Preço Mínimo do trigo no Brasil

 
Por  Leonardo Gottems

O governo divulgou o novo Preço Mínimo de “Garantia” (PMGF) para o trigo no Brasil, com redução de 3,6%, devendo passar de R$ 38,65/saca para R$ 37,26/saca, levando em consideração a redução dos juros e do dólar no período. O Preço Mínimo foi criado para cobrir os custos de produção de trigo e eventualmente dar alguma lucratividade ao produtor.
No entanto, na visão do analista sênior da Consultoria Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, o PMGF deste ano já nasce defasado: “Considerando apenas os custos variáveis, atualizados pelo Deral-PR, que respeitamos como muito sérios no acompanhamento dos custos porque atualizam a cada 3 meses, este órgão do governo paranaense registra um valor de R$ 38,53/saca de 60 quilos, cerca de 3,67% acima do novo Preço Mínimo estabelecido pelo governo”.
Segundo Pacheco, há outros motivos pelos quais se deveria extinguir o Preço Mínimo:
a) Os valores atribuídos pelo Governo ao Preço Mínimo de Garantia para o trigo nunca cumpriram a sua missão, isto é, nunca garantiram sequer o valor de face divulgado pelos órgãos oficiais, muito menos atenderam aos custos de produção (todos os anos os dirigentes reclamam disto na mídia e não acontece nada);
b) Frequentemente o valor do Preço Mínimo estipulado pelo governo confunde a cabeça dos agricultores, que ficam esperando este valor que nunca vem e perdem boas oportunidades de mercado. Esta situação foi particularmente grave na safra passada, de 2016/17: os produtores e seus dirigentes, ao invés de fazerem as contas corretas (volume de sacas colhidas, entre 70 e 90/hectare, vezes o preço de mercado, igual a lucros entre 35% e 47% no início da safra), compararam o preço de mercado (R$ 30,00/saca) com o valor do Preço Mínimo (R$ 38,53) e concluíram erradamente que havia um prejuízo de -22,13%. E foram pedir ajuda ao governo para cobrir este “prejuízo” do agricultor (outro movimento errado, deveriam sair pelo mundo oferecendo este trigo, como fizeram os argentinos que, depois disto, conseguiram o que os gaúchos queriam: elevar o preço de US$ 165/t para US$ 200/t, ou R$ 630/t). O governo enrolou, enrolou, fez que fez e não fez e a única que levou efetivamente uma migalha do Preço Mínimo foi a Coamo no último leilão. Nenhum outro agricultor do país conseguiu o Preço Mínimo Garantido pelo Governo Federal nesta ou em outras safras passadas, mas todos tiveram prejuízos imensos por não terem vendido no momento e da forma certa.
c) Assim, a divulgação do Preço Mínimo é uma grande farsa. Os seus defensores (alguns agricultores que plantam mal, colhem mal e vendem mal, com saudades do CTRIN) dizem que o trigo é uma atividade de risco e que o agricultor precisa de uma garantia para plantar. Muito bem. Verdade. Mas, então que seja uma garantia efetiva, não fictícia, que nunca se concretiza e que, como demonstramos, mais atrapalha que ajuda. Ocorre que nós não acreditamos que qualquer governo brasileiro cumpra o PMGF.
d) Nos países onde o trigo dá lucro não existe PMGF. E isto não é coincidência!
e) A experiência da história do próprio trigo no Brasil mostrou que, enquanto ele foi amparado pelo governo (CTRIN), tinha uma produtividade que oscilava entre 750-950 quilos/hectare. Depois que esta instituição foi extinta no governo Collor, em 1990, criaram-se os institutos de pesquisa e a produtividade já triplicou, nos mesmos estados produtores. Este foi um choque de produtividade. Precisa haver agora um choque de comercialização. Este choque será eliminar o PMGF, semelhante ao pai que suspende a mesada do filho que, assim, é obrigado a se virar para sobreviver (e geralmente consegue mais dinheiro do que a mesada). É o que vai acontecer. Todos
os anos nós provamos em nossos comentários que o próprio mercado, em vários momentos, oferece preços satisfatórios, que atendem a lucratividade do produtor.
f) E se a geada matar as lavouras ou transformar o trigo de tipo 1 em trigo forrageiro, como vai ficar o meu prejuízo sem PMGF? Vai ficar muito melhor! Primeiro que, como dissemos, o PMGF não garante nada e é uma grande farsa. Segundo, porque os produtores (mais ainda, suas cooperativas, que sabem disto e não usam, de medo), irão buscar segurança onde ela é efetiva e eficaz, isto é, nos mercados futuros, que estão aí justamente para garantir bons preços e independem da qualidade do trigo colhido! Na safra 2015/16, aquela que danificou 70% da safra gaúcha e boa arte da safra do Paraná, fizemos cálculos e demonstramos que as coberturas no mercado futuro garantiriam R$ 8,75/saca que, adicionados aos R$ 25,00/saca pagos pelas fábricas de ração pelo trigo forrageiro, totalizavam um preço final de R$ 33,75/saca, para este tipo de trigo, praticamente igual ao pago pelo trigo tipo 1 da época. Isto é ou não é uma garantia de lucratividade diante de uma perda de qualidade da safra?
g) Além disso, o seguro agrícola tem se mostrado eficiente e eficaz, pelo menos parcialmente (tem que ser reformulado, claro, estendido a todos os que efetivamente pagarem, não apenas aos que tomarem financiamento, etc.).