domingo, 30 de junho de 2019

DEGRADABILIDADE RUMINAL DA MATÉRIA SECA DE ACESSOS DE “BRACHIARIA BRIZANTHA” CULTIVADOS NO ESTADO DO ACRE.

JAILTON DA COSTA CARNEIRO (1), JUDSON FERREIRA VALENTIM (2), IVAN JANNOTTI WENDLING (3),

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RESUMO
 Com objetivo de oferecer subsídios ao programa de melhoramento de “Brachiaria” sp. foi conduzido um ensaio para avaliar a degradabilidade ruminal de acessos de “B. brizantha” cultivados no Acre. O delineamento experimental utilizado foi o de parcelas sub-dividida, sendo os tratamentos alocados nas sub-parcelas (acessos) e os tempos de incubação nas parcelas. Os tempos de incubação no rúmen foram: 6, 24 e 96 horas. Utilizou-se o modelo d= A-B *EXP (-c * t), onde: d= degradabilidade; A= potencial máximo de degradabilidade; B= fração potencial degradável do material após t0; t0 = material solúvel + pequenas partículas; c= taxa de degradação do material degradável e t= tempo de incubação (horas). A degradabilidade efetiva foi estimada com taxa de passagem de 5%/h. A degradabilidade efetiva da matéria seca dos acessos B11, B9 e da cultivar Marandu foram superiores a 60%. Os resultados demonstraram que os acessos de B1, B10, B16, B12, B11 e B9, devam ser indicados para futuros ensaios em pastejo. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Os teores de proteína bruta, fibra em detergente neutro e os valores do potencial máximo de degradabilidade, taxa de degradação e degrabilidade efetiva da matéria seca dos acessos de “B. brizantha” são apresentados na TABELA 1. Entre os acessos e as cultivares pode-se observar grande variação no teor de proteína bruta. Os acessos B17, B7, B16 e a cultivar Xaraés apresentaram teor de 5,7%, enquanto o acesso B11 apresentou teor de 9,0%. Salienta-se que a concentração de proteína bruta inferior a 7% pode limitar o consumo e a digestibilidade da forragem (MILFORD e MINSON, 1966). Os teores de FDN variaram de 67,2 a 82,8 %, sendo uma das características de forrageiras tropicais. Resultados semelhantes foram determinados por TORRES et al. (2001), avaliando o teor de FDN em folhas de nove acessos de “B. brizantha”. MARCELINO et al. (2002) ao determinarem o valor nutritivo de “B. brizantha” cv. Marandu verificaram que os teores de proteína bruta foram superiores, enquanto os da fibra em detergente neutro foram inferiores aos determinados neste experimento. Os potenciais de máxima degradabilidade da matéria seca dos acessos e das cultivares foram altos. Entretanto ao estimar a degradabilidade efetiva da matéria seca observa-se que os valores variam aproximadamente 38% (45,2 e 62,2%). Um dos fatores que contribuíram para esta amplitude nos valores foi a taxa de degradação, que apresentou variação superior a 100% de 0,0283 a 0,0572%/h. A degradabilidade efetiva da matéria seca dos acessos B11, B9 e da cultivar Marandu foram superiores a 60%, indicando que estes acessos são promissores para futuras avaliações com animais. MARCELINO et al. (2002) ao avaliarem a digestibilidade “in vitro” da matéria seca da “B. brizantha” cv. Marandu obteve resultado também superior a 60%. Considerando-se apenas a degradabilidade efetiva da matéria seca não se obteve acessos com melhor taxa de degradabilidade efetiva da matéria seca quando comparados à cultivar Marandu. Entretanto, as características químicas (teor de proteína bruta e de fibra em detergente neutro) também devem ser considerados no programa de seleção de genó tipos de “B. brizantha”.

CONCLUSÕES
 Os acessos de “B. brizantha” B1, B10, B16, B12, B11 e B9, devem ser indicados para futuros ensaios em pastejo

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Onde encontrar informações úteis para formulação de dietas

Por Sérgio Raposo de Medeiros em 18/06/19 no site Portal DBO

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A quantidade de informação disponível na internet é descomunal e não para de crescer. Foi estimado que os elétrons em movimento nela teriam um peso aproximado de 50 gramas! Desse tanto, podemos aproveitar alguns nanogramas em informação para ajudar a produzir algumas toneladas a mais de carne, com melhor eficiência técnica e/ou maior eficácia econômica.
Abaixo, são listados alguns sítios de internet (e seus endereços) que, gratuitamente, nos dão acesso a importantes informações ou serviços que podem ajudar a resolver alguns problemas no campo. O foco seria a nutrição animal, mas há outros igualmente úteis para outras rotinas da fazenda ou para informar melhor os envolvidos com práticas agropecuárias.

Informações Nutricionais:

CQBAL: Esse sítio é muito útil para nutricionistas animais, pois tem uma extensa lista de ingredientes usados em dietas para ruminantes no Brasil, com uma abrangente gama de dados dos seus nutrientes (proteína, carboidrato, gordura, etc.), suas frações e características nutricionais, como a solubilidade da proteína. É um trabalho muito valoroso do departamento de zootecnia da Universidade Federal de Viçosa. Seu uso é bastante intuitivo e ele apresenta os dados selecionados pelo usuário que pode gerar uma tabela no formato pdf.
Além de se obter dados para formulação, o CQBAL pode ser usado como ajuda para comparar opções de nutrientes no processo de compras e como uma fonte de referências para comparar dados obtidos de amostras enviadas ao laboratório. Nesse último caso, ajuda uma informação adicional, representada pela letra “S”, que dá uma ideia de quanto a média varia: o desvio-padrão. Isso porque a faixa de valor entre três vezes o desvio-padrão, para mais e para menos da média, tem mais de 99% de chance de conter um valor possível dessa variável. No caso da proteína bruta do Milho fubá obtido como CQBAL, por exemplo, a média é 9,01% o e desvio padrão, 0,78%. Assim, espera-se que os valores da proteína dele fiquem dentro de uma faixa entre 6,67% (= 9,01 – (3 x 0,78)) até 11,35% (= 9,01 + (3 x 0,78)).
A premissa é que o desvio-padrão é representativo do conjunto de dados e que ele apresenta “distribuição normal” (em forma de sino, com a maior parte dos dados concentrado na média e raleando nas pontas). Esse é o caso da maior parte dos dados de composição nutricional e funciona tanto melhor quanto maior for o número de amostras que compõem a média. Como os dados usados para essa inferência do milho fubá envolvem 804 dados (representado pela letra N), valores fora dessa faixa, obtidas em uma análise em laboratório, por exemplo, têm grande chance de indicar algum problema.
Feedpedia: A Feedipedia se apresenta como “Uma enciclopédia on-line de alimentos animais” que ajudaria “o usuário a identificar, caracterizar e adequadamente usar recursos alimentares”, sendo uma iniciativa de organismos de pesquisa da França, com participação também da FAO.
Apesar da origem francesa, contém alimentos usados em alimentação animal em todo mundo. Ela pode servir de complemento ao uso da CQBAL, tanto no caso de ausência de determinada informação, quanto como um valor extra para ter outra referência. Uma característica interessante é que ela apresenta, além dos dados numéricos, o valor nutritivo de maneira figurativa, numa linha em que os nutrientes são mostrados em escala e com cores diferentes, o que agrada quem gosta de um reforço visual às informações.
Originalmente, ele está em Inglês, mas é possível obter a tradução integral do conteúdo selecionando o “Português” numa janela de “idiomas”. A tradução é feita pelo Google tradutor, com o risco de algumas distorções esdrúxulas, mas, de forma geral, resolvendo satisfatoriamente a questão. Por fim, uma utilidade dele é exatamente a de tirar dúvida sobre o nome do alimento em língua estrangeira, útil, por exemplo, quando estamos lendo um artigo em inglês e, nele há uma forragem descrita como Koronivia Grass e que, numa consulta ao Feedpedia, revela ser a nossa boa e velha braquiária humidícola.

Conversões em diferentes unidades de energia de alimentos

Conversor de Energia de Davis: Um sítio cujo único objetivo é a conversão nas várias formas de energia utilizadas no sistema californiano de energia líquida, um dos mais usados no mundo todo. Na imagem abaixo um exemplo de uso.
Na parte de cima, no quadro em laranja, são as escolhas ou dados informados pelo usuário (“Inputs by user”). Nas duas “caixas de verificação”, que ficam acima à direita, ele seleciona se quer o valor em quilogramas (Kg) ou libras (Lb) e, ao lado, se quer na matéria original (“As fed”, isto é “Como fornecido”) ou em matéria seca (100% DM, isto é na matéria seca que, em inglês, é “Dry Matter”).
Na hipótese de usar “As fed”, deve-se informar o teor de matéria seca do alimento (“Dry Matter of Feed”) que é o primeiro quadro na parte em branco dentro do quadro laranja. Ao escolher “100% DM”, registra-se automaticamente o valor 100 para “Dry Matter of Feed”. No quadro logo abaixo, basta selecionar a unidade de energia que o usuário quer converter.
No caso do exemplo acima, seria um alimento ou mistura de alimentos com 75% de Nutrientes digestíveis totais (NDT) na base seca. Os diferentes valores equivalentes nas formas de se expressar essa energia aparecem no quadro verde. As formas de energia são:
As fórmulas usadas para as transformações podem ser visualizadas usando o botão “Help”. Outra opção útil seria a “Clear Form”, usada para limpar os todos os dados.

Conversor de Unidades em geral

Algo frequentemente necessário ao se trabalhar com dados de nutrição animal é a conversão das várias unidades em que os teores dos nutrientes costuma ser apresentados.
Conversor de ppm em porcentagem: Uma das formas mais práticas de converter unidades é escrever diretamente na barra de endereços do Google, mas se preferir um site que faça isso, no caso de ppm e porcentagem, pode-se acessar o RapidTables, que tem a vantagem de mostrar (abaixo do local de entrada do dado) como ele é calculado. Rolando a página para baixo, à direita há uma lista de conversões com o título “Number Conversion” e, entre vários outros, o link para fazer a conversão inversa, ou seja, porcentagem em ppm.
Conversor de Unidades da Agência Internacional de Energia: Esse sítio pode ser útil, por exemplo, para transformar energia de Megajoule (MJ) para quilocalorias (kcal), massa, de libras (lb) para quilogramas (kg) ou volume de litros (l) para metro cúbico, para citar algumas situações bem usuais.
Simultaneamente, os valores convertidos são apresentados em várias outras unidades. Para obter o valor da conversão, basta colocar o valor desejado e selecionar o prefixo correspondente: (kilo (k), X 1.000 = 103 | mega (M), X 106 | giga (G), X 109 | tera (T), X 1012 | peta (P), X 1015 | exa (E), X 1018) que os valores equivalentes em outras unidades aparecem.
Conversor de Unidades – Cálculo ExatoDe comprimento (metros, quilômetros, milhas etc.) até fusos horários, ajuda na conversão de dados. Os mais interessantes no meio rural seriam: área (metros quadrados, acres, hectares etc.), massa e de peso (quilogramas, libras etc.) e temperatura (Celsius, Fahrenheit e Kelvin). A forma de uso é similar aos demais acima, também muito intuitiva.

Clima e georreferenciamento

Instituto Nacional de Meteorologia: O INMET dissemina dados coletados em rede de estações meteorológicas automáticas “de forma democrática e gratuita, em tempo real e têm aplicação em todos os setores da economia, de modo especial no agropecuário e em apoio à Defesa Civil”.
Há muita informação sobre o clima, como previsões do tempo, prognósticos sobre as estações, etc. Para pecuária há um específico para conforto térmico para gado leiteiro, que faz um gráfico de conforto térmico para determinado período, sem identificar o genótipo.
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais: Além de informações sobre meteorologia, no site do INPE, criando uma conta, é possível ter acesso a imagens de satélite ao longo do tempo.
Código Florestal – Embrapa: Aqui, além de “informações para facilitar o entendimento desta Lei”, há informações para a recuperação de áreas (estratégias de recuperação, experiências já realizadas, espécies de plantas nativas para plantio e soluções tecnológicas) e, por fim, “de boas práticas agrícolas que contribuirão para o alcance do desenvolvimento sustentável da propriedade rural nos diferentes biomas”.
Dentro do site da Embrapa, há o “Simulador de Recomposição Ambiental do WebAmbiente” que fornece sugestões específicas para recomposição da sua área como: (a) Boas práticas para preparo inicial do local; (b) Estratégias de recomposição às condições da área; (c) Lista de espécies nativas apropriadas para plantio. O sistema gera um relatório com as sugestões para recomposição. Há necessidade de realizar cadastrado para usar o sistema.
A lei atualizada pode ser obtida no site do palácio do planalto. Apesar dela não levar mais o nome “Código Florestal”, que as anteriores revogadas por ela levavam, informalmente permaneceu o “apelido”.

Dados estatísticos

IBGE: O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é “principal provedor de dados e informações do País” e várias bases de dados podem ser consultadas na plataforma Sidra, que é Sistema IBGE de Recuperação Automática.
Gapminder: Com a missão de “lutar contra a devastadora ignorância com visões do mundo baseado em fatos que todos possam entender” oferece inúmeros bancos de dados e a possibilidade de colocá-los em gráficos muito interessantes. Vale muito à pena acessar os vídeos do canal deles no Youtube, especialmente por mostrar que, nos últimos dois séculos, melhoramos muito em quase todos os índices, ou seja, muito ao contrário do que a chuva de notícias negativas e “Fake News” têm feito a maioria das pessoas acreditarem. Apresentado pelos fundadores do Gapminder, Hans e Ola Rosling, pai e filho, o primeiro falecido em 2017, um deles pode ser visto, com legendas em português, no YouTube.

Sanidade Animal

Controle de Carrapato no Mato Grosso do Sul: Contém informações, sobre controle de carrapatos em bovinos e, até, o “museu do carrapato”, no qual pode ser apreciada a biodiversidade deste ser vivo que tanto nos incomoda.

Informações gerais sobre agropecuária

Embrapa: Contém uma infinidade publicações sobre produção agropecuária, em livros digitalizados, documentos, séries técnicas, vídeos, etc. Como um exemplo, especificamente sobre nutrição animal, é possível baixar o pdf deste livro.

Publicações cientificas

Scielo: Biblioteca científica eletrônica on line que dá acesso a mais de meio milhão de trabalhos científicos publicados no Brasil.
Google Acadêmico: Buscador específico para trabalhos científicos e patentes no mundo todo.
Usando a barra do Google para conversões diversas e contas simples: Um recurso interessante do Google, e pouco usado, é a chance de fazer quase qualquer conversão diretamente na barra de busca dele (ou mesmo na linha do endereço do Chrome). Por exemplo, se quiser saber quando 3.000 km2 equivale se expresso em hectares, basta escrever: “3000 km2 em hectares” e selecionar o ícone da lupa (clicar “enter”). A resposta, 300.000 hectares, já aparece.
Da mesma forma, é possível fazer pequenas contas. Digitando na janela de busca, ou na linha do endereço do Chrome, “300 dividido por 60”, aparece o valor 5, já dentro da calculadora para ser usado em outro cálculo na sequência, caso o usuário deseje. Há muitos outros recursos semelhantes, bem interessantes, sendo possível aprendê-los fazendo buscas com o próprio Google.

domingo, 16 de junho de 2019

Compost barn: "não adianta investir em instalações modernas se as outras tarefas não são cumpridas"

Em 03/04/2018 no site Milkpoint


compost barn no Brasil

Não é novidade que os produtores de leite no Brasil estão buscando com maior frequência informações sobre o compost barn. O ‘boom’ do sistema ocorreu após algumas suposições como a maior facilidade de manejo e a finalidade clara e adequada para os dejetos dos animais. Confira abaixo a entrevista realizada com Ana Luiza Bachmann Schogor, Professora Doutora do Departamento de Zootecnia da UDESC Oeste. Ela também será palestrante do Interleite Sul 2018 e o tema da sua palestra é “A movimentação em direção ao confinamento via compost barn: números e constatações”. As respostas da entrevista contaram com a ajuda de Willian Maurício Radavelli (Zootecnista, M.Sc.).
MilkPoint - Recebemos muitos contatos no MilkPoint de produtores de leite em busca de informações sobre o compost barn. Por que este sistema de produção deu um "boom" no Brasil nos últimos tempos?
Ana Luiza Schogor: “Essa expansão considerável que o sistema compost barn tem tido nos últimos tempos, se deve a alguns fatores. Não os citando em ordem de importância, mas alguns deles são: transição para um sistema de confinamento com menor custo de implantação e a adoção de um sistema que promove o bem-estar animal (principalmente em quesitos de ambiência animal), manutenção de animais mais limpos (principalmente no momento da ordenha) e com menores índices de claudicação. Em pesquisa recente que acabamos de finalizar aqui no Oeste de Santa Catarina, encontramos também como justificativa para adoção do compost barn a necessidade de se facilitar o manejo dentro de propriedades leiteiras, que exploravam a atividade em sistemas tanto a pasto quanto a pasto com suplementação. Muitos produtores relataram que estes sistemas (pastejo + suplementação), na região, se tornaram inviáveis, devido à dificuldade de manejo com um aumento desejado do rebanho. Dificuldades que se multiplicam em períodos de grande variabilidade ambiental. Os produtores também relatam as dificuldades dos animais em percorrer grandes distâncias, muitas vezes em terrenos acidentados (o que aumenta os gastos energéticos e diminui a eficiência produtiva dos animais). Aliado a isso, cada vez mais, a escassez de mão de obra também tem pesado na tomada de decisão dos produtores, pois alguns relataram que ou 'fechavam os animais', ou paravam com a atividade”.
MilkPoint - Quais são os principais diferencias do compost barn?
Ana Luiza Schogor: “Definitivamente, bem-estar animal e conforto. Este conforto proporcionado pela cama, aliado a manejos corretos (nutricional, reprodutivos, de ordenha, sanitário), resultam em uma somatória muito positiva para a produtividade animal. Além disso, pode-se dizer que não é um sistema tão padronizado como o free-stall, o qual demanda um bom planejamento prévio das instalações e equipamentos. Muitos compost barns têm surgido de adaptações de antigas instalações, e têm apresentado resultados satisfatórios quanto à produtividade animal e qualidade e características de cama. Podemos destacar também a forma de tratamento dos dejetos, que em sua grande maioria (depositada da área de cama), deixa de ser um problema ambiental e se transforma em adubo de excelente qualidade. E, nos quesitos de alojamento, tal sistema permite a escolha de animais de raças e tamanhos distintos, devido ao local de descanso não apresentar delimitação para cada animal (sem entrar no mérito da questão da uniformidade de lotes, e sim da possibilidade de escolha por parte do produtor)”.

"Muitos compost barns têm surgido de adaptações de antigas instalações, e têm apresentado resultados satisfatórios quanto à produtividade animal e qualidade e características de cama"
MilkPoint - Como ele impacta no bem-estar dos animais e na saúde dos mesmos? E na produção de leite?
Ana Luiza Schogor: “Em nossa pesquisa, realizada entre janeiro e março de 2017 (portanto pleno verão), observamos que o ITGU (Índice de Temperatura de Globo e Umidade) interno e externo das instalações avaliadas foi de aproximadamente 77 e 84, respectivamente. Este valor deveria estar abaixo de 74, para podermos afirmar que os animais não se encontravam sob estresse calórico (para mais informações ver aqui). Assim, podemos notar que os valores internos estão um pouco acima dos desejáveis. Todavia, vale salientar que este é um valor médio das 30 propriedades avaliadas, e parte destes compost barns não possuíam sistema de ventilação para resfriamento dos animais. Mas em comparação aos valores externos, fica evidente a importância do fornecimento de abrigo adequado aos animais, frente à radiação solar direta. Quando analisamos a frequência respiratória dos animais, 93,7% se enquadraram por apresentar de 40 a 80 movimentos/minutos. De acordo com Silanikove (2000), valores entre 40 a 60 movimentos/minuto, representam baixo nível de estresse e de 60 a 80, estresse médio. Além disso, os animais apresentaram baixas taxas de claudicação (avaliamos mais de 1000 animais estabulados em compost barns, no momento em que os animais saíam da ordenha, e, portanto, em piso firme). Em nossas pesquisas, não avaliamos in loco o aumento de produtividade. Todavia, podemos afirmar que o ‘pacote tecnológico’ adotado quando da adoção do sistema compost barn, seguramente resulta em aumento de produção”.
MilkPoint - Você saber dizer quantos produtores são adeptos ao sistema hoje e a região onde há mais modelos instalados?
Ana Luiza Schogor: “No momento de nossa avaliação (até março de 2017), em nove municípios do Oeste catarinense, eram 43 galpões tipo compost barn, mas outros estavam em construção os quais até então, não entraram no levantamento. Atualmente, estamos realizando um levantamento de campo com cooperativas da região, para termos mais dados sobre o número de compost barns instalados. Com relação aos locais de instalação, temos observado ou recebido informações de que não só a região Oeste de SC, mas o noroeste do RS e o sudoeste do PR são regiões em que a implantação de galpões tem se dado de forma rápida e crescente”.
MilkPoint - O processo de transição de sistema (para quem opta por trabalhar com o compost) basicamente ocorre de que forma? Quais são os principais desafios?
Ana Luiza Schogor: “Os desafios são: planejar corretamente a instalação antes de construí-la; fazer um planejamento da atividade e qual a produção diária se almeja, para assim projetar a instalação para uma determinada capacidade/lotação; planejar as questões alimentares, pois ao contrário de sistemas semiconfinados, o fornecimento de alimentos passa a ser totalmente no cocho. Para identificar pontos importantes nessa transição entre sistemas, em nossa pesquisa, avaliamos se os produtores rurais receberam assistência técnica para a implantação do compost, ou se foram procurar alguma informação prévia, antes de instalar o sistema. Surpreendentemente, apenas 40% dos produtores receberam alguma orientação técnica para a implantação do sistema. Em sua maioria (60% dos produtores), buscaram observar outras propriedades e contaram com suas próprias experiências construtivas para implantação do galpão, fato que resultou em grande diversidade nos aspectos estruturais das instalações. De forma geral, os animais não apresentam dificuldade de adaptação com o sistema compost barn, pois em algumas situações, os animais estavam em um ambiente tão desafiador, com grande presença de lama, sem proteção contra a radiação solar direta, e com dificuldade para acesso a água, que qualquer melhoria realizada foi capaz de proporcionar resultados positivos”.
MilkPoint - Deixe um recado para os produtores que estão pensando em migrar o seu sistema de produção para o compost barn. 
“Planeje antes de construir. Hoje em dia, pensar em aspectos de sustentabilidade como menor produção de dejetos, uso eficiente da água, otimização da mão de obra, será um investimento para o futuro. Quando do início do compost, trabalhar com maior área de cama disponível por animal é uma atitude ‘sábia’, pois é melhor trabalhar com camas mais secas (apesar da menor taxa de compostagem), do que com camas mais úmidas. Alta umidade pode inviabilizar uma cama! Se for adaptar uma instalação, identifique as limitações dela, e o que seria necessário fazer para superar essas limitações (exemplo: baixo pé-direito aliado à necessidade de maior capacidade e eficiência de ventilação). E reflita! Pois determinadas adaptações iniciais que são realizadas com o objetivo de redução de custos, podem dificultar ou modificar a rotina de manejo. Então tenha isso em mente, para não se arrepender posteriormente. De nada adianta investir em instalações modernas, se o restante das tarefas de casa não são cumpridas. Pense que além da melhor ambiência e conforto que será proporcionado pelo sistema, devemos investir nos demais fatores que interferem na produção (nutrição, manejo, reprodução, genética) para aumentar os índices produtivos, e viabilizar o sistema a curto, médio e longo prazo”.

Embrapa Meio-Norte exporta tecnologia para 6 países

Por Efrém Ribeiro em 15/06/2019 no site Meio-Norte

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CanaOnline

São quarenta e quatro anos de uma história de sucesso na geração de tecnologias e conhecimentos científicos, celebrados na última quinta-feira (13 de junho), pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Meio-Norte. Ao longo dessas quatro décadas e meia de atuação, a Unidade vem disponibilizando soluções tecnológicas na agropecuária para melhorar a vida das pessoas e desenvolver a região.
Hoje, o portfólio tecnológico é amplo e inovador. São 127 ativos tecnológicos, como cultivares de feijão-caupi e de arroz vermelho, sistemas de produção vegetal e animal, práticas e processos agropecuários. “Estamos alcançando a melhor fase do desenvolvimento de trabalhos científicos com foco na inovação aberta social e empresarial”, destaca o chefe-geral da Unidade, Luiz Fernando Leite.
A carteira de projetos da Embrapa Meio-Norte é um destaque à parte. São 11 projetos em execução, conduzidos nas áreas de Produção Animal, Produção Vegetal e Recursos Naturais. Os estudos, segundo o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento, Edvaldo Sagrilo, são direcionados ao uso e adaptação dos “sistemas integrados de produção, conservação e uso de animais (bovinos e abelhas sociais), sanidade em sistemas aquícolas, fruticultura, controle biológico, e ao manejo do sistema solo-água-planta com uso racional, em culturas e atividades de relevância à região”.
A Unidade tem participação também em outros 58 projetos de pesquisa e desenvolvimento conduzidos pela Embrapa no País. Com essas ações, Sagrilo prevê uma entrega de 124 soluções tecnológicas já registradas nos sistemas corporativos da empresa até o ano de 2023.
O braço exportador de ativos tecnológicos vai mais longe, alcançando países do continente africano, onde há escassez de informações técnicas. A chefe-adjunta de Inovação e Tecnologias, Izabella Hassum, destaca a atuação da Unidade em ações junto a organismos internacionais para a promoção do desenvolvimento e da segurança alimentar em Moçambique, Camarões, Etiópia, Uganda, Gana e Tanzânia.
Esse projeto nos países africanos é desenvolvido em parceria com a Fundação de Melissa Gate e Bill Gates, fundador da empresa Microsoft.
Todo esse trabalho, segundo o chefe-adjunto de Administração e Finanças, José Oscar Lustosa Júnior, está ancorado em um quadro de colaboradores que passa confiança. São 262 empregados agrupados nos cargos de pesquisador (a grande maioria com doutorado), analista, técnico e assistente. “O maior ativo da Unidade é o nosso quadro pessoal”, exalta.
Sombreamento natural desenvolve mais rápido a criação de abelhas
As abelhas gostam mesmo é de sombra e água fresca. Um estudo conduzido pela pesquisadora Maria Teresa Rêgo, da Embrapa Meio-Norte de Teresina, revelou que o sombreamento das colmeias favorece o desenvolvimento das colônias e a qualidade do mel. Um dos resultados mais expressivos dessa pesquisa mostrou que o sombreamento natural, com árvores, ajudou na ampliação rápida da área de cria. Esta área corresponde ao favo, onde as crias se desenvolvem. A melhor faixa de temperatura para o desenvolvimento delas é entre 30 a 35 graus Celsius.
“Numa colônia, as operárias trabalham para manter essa faixa de temperatura ideal às crias, seja aquecendo o ninho, quando ocorrem temperaturas baixas, seja resfriando, no caso de temperaturas elevadas”, diz a cientista. Segundo ela, quanto mais a colônia de abelhas estiver exposta a “temperaturas que se distanciam dessa faixa, maior será o trabalho das operárias para manter um clima ideal e estabelecer a termorregulação”. O trabalho das operárias no aquecimento ou resfriamento do ninho afeta o desenvolvimento das colônias.
Outro resultado importante do trabalho veio da análise da qualidade do mel coletado das colmeias submetidas a essas diferentes condições. Foram feitas análises físico-químicas quanto ao teor de Hidroximetilfurfural (HMF), atividade diastásica e acidez. Todas as análises foram feitas no Laboratório de Controle da Qualidade de produtos Apícolas da Embrapa Meio-Norte, em Teresina, que é referência regional.
A pesquisa revelou também outro dado animador. As coberturas construídas com palhas e o sombreamento de árvores favorecem a manutenção de níveis mais baixos de HMF no mel. O HMF é uma molécula que nasce da transformação dos monossacarídeos frutose e glicose.
Quanto mais calor, segundo os testes, é mais rápida a conversão dela. Com isso, a molécula passou a ser usada como um indicador de aquecimento, processamento inadequado e até de adulterações no mel. 
Embrapa cria sistema de integração Lavoura-Pecuária e Floresta
A integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), desenvolvida pela Embrapa Meio-Norte, consiste na diversificação da produção, em que as atividades agrícolas, pecuárias e florestais passam a fazer parte de um mesmo sistema, na mesma área, visando a aumentar a eficiência da utilização dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente, resultando no incremento da produção e promovendo a estabilidade financeira do produtor.
O sistema baseia-se no consórcio, sucessão ou rotação de culturas anuais, com diferentes espécies forrageiras e arbóreas, em áreas de lavoura ou de pastagens degradadas. O uso do sistema ILPF no Brasil e o incentivo à sua adoção nos polos de produção agropecuária poderão ampliar a produção de alimentos e produtos florestais sem abertura de novas áreas.
Crédito: Tarcila Viana
Os Estados do Piauí e do Maranhão já se beneficiam desse sistema, principalmente nos Cerrados, onde estão as regiões poloprodutoras de grãos, como o Piauí, plantando cerca de um milhão de hectares e produzindo quatro milhões de toneladas de grãos, e o Maranhão, que planta uma área de quase 700 mil hectares de soja e produz em torno de dois milhões de toneladas.
As regiões em que a pecuária é fortemente explorada, limítrofes dessas áreas agrícolas, serão favorecidas com a adoção do sistema ILPF, nas próximas décadas, como estratégia de produção em muitas propriedades nestes dois estados.
Há quinze anos, a Embrapa Meio-Norte vem gerando e transferindo tecnologias de sistemas integrados de produção. Esse trabalho é desenvolvido em várias fazendas parceiras da região, tradicionalmente produtoras de grãos, as quais passaram a adotar os sistemas como estratégia de produção, que chega a até quatro safras ao ano só com chuvas, tornando-se Unidades de Referência Tecnológica (URT) em ILPF na região Meio-Norte do Brasil.
A ILPF tem como objetivo promover atividades produtivas durante todo o ano; diversificar as fontes de renda e aproveitar melhor a mão de obra na propriedade; diminuir os riscos econômicos e aumentar a estabilidade da renda do produtor.
Praticar uma agricultura conservacionista com recuperação de pastagens degradadas, com uso de culturas de cobertura, plantio direto e diversificação na rotação de culturas. Essas práticas visam a melhorar as condições     físicas, químicas e biológicas do solo, pelo incremento da ciclagem de nutrientes e elevação do teor de matéria orgânica.
Reduzir a pressão por desmatamento e preservar reservas florestais e matas ciliares, favorecendo estoque de carbono no solo, baixa emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE). Com isso, os impactos ambientais oriundos da atividade agropecuária são mitigados, preservando e deixando o solo produtivo para futuras gerações.