quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Artigo Portal DBO - Adubos verdes aumentam longevidade do canavial

Pesquisa prevê maior sustentabilidade e redução no uso de fertilizantes em solos destinados ao cultivo de cana-de-açúcar

29 de novembro de 2016 - 17:25

Marina Salles
Nascido e criado à beira de canaviais, o mestrando do programa de Solos e Nutrição de Plantas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), Saulo Augusto Quassi de Castro, não teve dúvidas de que poderia recorrer à pesquisa para resolver problemas da lavoura.
Foi então que em 2014 começou, durante o mestrado, a estudar o uso de adubo verde como alternativa para aumentar a longevidade do cultivo de cana-de-açúcar quando há interesse em retirar a palhada da lavoura para fins de produção de etanol de segunda geração ou energia renovável.
Além de garantir renda extra ao produtor de forma sustentável, a rotação tem mostrado potencial de reduzir aplicações de fertilizantes. De acordo com Castro, os estudos consideram a característica semi-perene do cultivo e estão sendo feitos no longo prazo. Há três safras ele acompanha um experimento com Crotolaria spectabilis e, no futuro, pretende avaliar o potencial de leguminosas de uso comercial.  
“Com a crotalária já percebemos que é possível retirar mais palha do canavial porque você tem um aporte de matéria orgânica e nutrientes, o que preserva o perfil do solo”, diz. A pesquisa está em andamento e deve ser publicada em março do próximo ano. Com os dados brutos em mãos, Castro está prestes a compilar as estatísticas.
Um problema complexo - Nos tratamentos estudados, o pesquisador observou a eficiência do uso de nitrogênio pela cana-de-açúcar em função das doses aplicadas em área de pousio e rotação.
“Usamos fertilizante enriquecido com nitrogênio 15, que permite fazer a aplicação e ver onde ele está. Se está no solo, quantos % ficou na planta, se está no colmo, no ponteiro, definindo se é preciso aumentar ou diminuir a dose”, diz. E uma das constatações foi de que a crotalária dá resposta no longo prazo.
“Em solos com fertilidade intermediária, argilosos, mas com alguma deficiência de nutriente, ela possibilitou  maior produtividade da cana”, afirma o pesquisador, o que não quer dizer que dispense a aplicação de nitrogênio. “A quantidade varia conforme as características de cada lugar, mas a aplicação de N não foi dispensável. Porque além de corrigir e dar nutriente para cultura, o produtor precisa entender que tem que suprir as necessidades do solo”, explica Castro.
De acordo com ele, se a relação C/N (carbono/nitrogênio) não estiver dentro dos parâmetros adequados o nitrogênio que iria para a planta pode ser imobilizado para favorecer o processo de degradação do tecido vegetal, ou seja, da palhada. “Ainda assim, a redução já deve trazer um impacto positivo para o produtor, que hoje tem que importar a maior parte desses produtos e tem prejuízo em anos em que o açúcar e o etanol estão em baixa”, diz.
O benefício vai além do bolso: “Outra vantagem é que o adubo verde melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, contribui para a absorção de nutrientes pela raiz e permite que, mesmo retirando a palha, no futuro, você não tenha que fazer uma reconstrução do perfil do solo”.
De acordo com o pesquisador, um dos maiores problemas hoje é a retirada total dessa cobertura, que não se sabe ao certo que prejuízos pode trazer. “A colheita da cana-de-açúcar até meados de 1997 era realizada por meio da queima do canavial, e gradativamente isso veio mudando. A palha era queimada e uma pequena porção de nutrientes ficava depositada com as cinzas”. Agora, o cenário é outro com a presença da palhada – que
mantém a umidade do solo, inibe o crescimento de invasoras e auxilia a ciclagem de nutrientes. Apesar de também ter um porém, que é a criação de uma barreira entre o solo e os fertilizantes.

Diante disso, a necessidade de adubação passou a ser uma área muito estudada, e alguns estudos demonstraram que a eficiência do uso de nitrogênio não diminui com a palhada sobre o solo e a dose pode ser mantida, enquanto outros estudos demonstraram o contrário, afirma Castro em um de seus artigos publicados. Pelo sim e pelo não, é indispensável fazer um acompanhamento e análises do solo.
Fora isso, segundo o pesquisador, a entrada de maquinário de grande porte na lavoura associada à falta de instrumentos que façam a remoção da palha exige atenção. De acordo com ele, em geral, o produtor usa sua enfardadeira de resíduos para dar conta da retirada e, uma vez que a máquina anda sobre linha da cultura, isso pode gerar pisoteio ou arranquio da soqueira.
Então, são duas as questões que se somam: retirada da palhada e ação de máquinas sobre o solo. Desafios para os quais a crotalária pode ajudar. “Daí a importância de consorciar a adubação verde”, diz o pesquisador, “para dar suporte e não deixar o solo se exaurir ao longo do tempo”. Maiores detalhes sobre a pesquisa serão tratados em breve, tanto em termos de melhoria da fertilidade do solo como em aumento da produtividade da cana.

Artigo Milkpoint - Dados da estação meteorológica determinam se os bovinos estão sendo criados sob estresse por calor?



gado leiteiro pode sofrer um forte estresse térmico em ambientes com altas temperaturas e umidade elevada. Neste caso, são inevitáveis os efeitos negativos sobre a ingestão de matéria seca, bem-estar, saúde, produção leiteira e reprodução e, consequentemente, na rentabilidade. Assim, é importante uma melhor compreensão dos produtores sobre as condições ambientais e o estresse por calor.

Para avaliar a intensidade do estresse por calor é importante combinar dados de temperatura ambiente e umidade do ar. Para isso, pode-se calcular o Índice de Temperatura e Umidade (ITU). Em vacas leiteiras de alta produção, como a raça Holandesa, o valor “68” é o limite superior de ITU para caracterizar conforto térmico, sendo que valores acima de 72 são críticos para esses animais (SILVA et al., 2016).

Dito isto, é importante ressaltar que, além dos fatores climáticos, o ambiente na propriedade é determinado por uma série de elementos. Dentre eles, o número e a densidade de vacas, o sombreamento, o tipo de refrigeração, a orientação da instalação em relação ao sol, predominância dos ventos, a presença de vegetação em torno, a altura, a largura e o tipo de cobertura da instalação (SHOCK et al., 2016).

Neste contexto, a temperatura e a umidade podem ser medidas na propriedade por um equipamento chamado termohigrômetro (fig. 1), encontrado facilmente no varejo (NEVES et al., 2015). Este instrumento deve ser colocado na sombra, em área bem ventilada e protegido das chuvas, próximo aos locais de maior permanência dos animais, como a sala de ordenha e área de lazer. Os dados de temperatura e umidade também podem ser obtidos em estações meteorológicas próximas da fazenda.

Figura 1: Imagem de um termohigrômetro. 

termohigrômetro
Recentemente, no Canadá, dados de estações meteorológicas foram comparados com os obtidos em 48 propriedades leiteiras. Os resultados mostraram que os dados do ambiente térmico nas fazendas foram significativamente maiores em relação àquelas das estações meteorológicas (SHOCK et al., 2016). Portanto, as medidas do microclima na fazenda expressam a real condição térmica que os animais estão expostos, devendo ser priorizadas para o cálculo do ITU.

Visto a preferência das vacas por locais mais frescos, ressaltamos que a ventilação desempenha um papel significativo na diminuição dos extremos ambientais. Quando for observado ITU acima de 68, deve-se planejar uma infraestrutura que possibilite a movimentação do ar com o uso de ventiladores ou a combinação de ventiladores e nebulizadores ou aspersores.

Outra estratégia de redução dos efeitos maléficos do estresse por calor é a utilização de sombreamento natural e/ou artificial, levando em consideração a área ideal de sombra de 4-5m2/animal (SULLIVAN et al., 2014).

Referências bibliográficas 
NEVES, G. A. R.; NOGUEIRA, J. S.; BIUDES, M. S.; ARRUDA, P. H. Z.; MARQUES, J. B.; PALÁCIOS, R. S. Desenvolvimento e Calibração de um Termohigrômetro para uso em Pesquisas de Micrometeorologia, Agrometeorologia e Clima. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 8, n. 1, p. 136-143, 2015.

SHOCK, D. A.; LEBLANC, S. J.; LESLIE KE, H. K.; GODKIN, M. A.; COE, J. B.; KELTON, D. F. Studying the relationship between on-farm environmental conditions and local meteorological station data during the summer. Journal of Dairy Science, v. 99, n. 3, p. 2169-2179, 2016.

SILVA, B. C.M.; PIRES, M. D. F. Á.; MARQUES, L. C. G.; PORTO, B. R.; CARVALHO JUNIOR, I. S. Comportamento diurno de vacas Holandesas puras por cruza em ambiente quente. Caderno de Ciências Agrárias, v. 8, n. 1, p. 40-56, 2016.

SULLIVAN, M. L.; CAWDELL-SMITH, A. J.; MADER, T. L.; GAUGHAN, J. B. Effect of shade area on performance and welfare of short-fed feedlot cattle. Journal of Animal Science, v. 89, n. 9, p. 2911-2925, 2014.
 


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Mara Regina Bueno de Mattos Nascimento    Uberlândia - Minas Gerais
Lucas Vilela Perroni Silva    OUTRA - Tocantins
Patricia Kelly    OUTRA - Tocantins

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Portal Agrolink: Paraguai lança soja resistente à ferrugem

24/11/16 - 11:43
O Instituto de Biotecnologia Agrícola (Inbio) lançou no Paraguai sua segunda variedade de soja resistente à ferrugem asiática (Phakopsora phachyrhizi). De acordo com a engenheira agrônoma Estela Ojeda, assessora técnica da instituição, a oleaginosa Sojapar R24 estará disponível para a próxima temporada comercial.
O Inbio já havia lançado a primeira variedade paraguaia de soja resistente à ferrugem, a Sojapar R19, que foi plantada na safra atual. Segundo Estela, as duas cultivares foram totalmente desenvolvidas no país vizinho, mediante uma aliança público-privada entre a entidade e o Instituto Paraguaio de Tecnologia Agrária (IPTA).
“A variedade Sojapar R24 está na fase de multiplicação, enquanto a Sojapar R49 e a Sojapar M42 estão em fase final, mas próxima, de pesquisa”, ressaltou a assessora do Inbio. Ela explica que a variedade lançada agora também é resistente à doença conhecida como “Podridão cinza da raiz” (Macrophomina phaseolina).

Agrolink
Autor: Leonardo Gottems

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Portal DBO Marina Sales - USP desenvolve vacina contra carrapato

Corte
31 de outubro de 2016 - 17:00

USP Ribeirão Preto desenvolve vacina contra o carrapato

Estudos piloto demonstraram eficiência de até 87% no controle do parasita com o uso de formulação que contém diferentes antígenos

Marina Salles
Desenvolver uma vacina contra o carrapato-do-boi está longe de ser tarefa fácil. De acordo com a pesquisadora Isabel Miranda Santos, da Universidade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, testes mostraram que para alcançar maior eficiência é necessário trabalhar com vários antígenos. “Nos últimos experimentos que fizemos, tivemos níveis de eficiência de 73% com um conjunto menor de antígenos, e 87% com outro maior”, diz.
A vacina mais eficiente provocou danos sobre as fêmeas do carrapato, que após sugarem o sangue dos animais ficavam túrgidas (inchadas) e não conseguiam botar ovos. Com menos parasitas nas pastagens, o controle da infestação é facilitado.
Além da questão do maior número de antígenos, que difere de outras pesquisas nacionais e internacionais, a solução desenvolvida na USP tem mais uma vantagem. “A diferença é a origem das proteínas que são utilizadas. No caso da nossa vacina, a escolha foi por antígenos a que o boi é exposto naturalmente”, afirma Isabel.
Enquanto os antígenos da vacina cubana, Gavac, já disponível no mercado, estão presentes no intestino do parasita, a vacina estudada na Universidade de São Paulo tem como base antígenos que são inoculados no boi durante o processo de fixação do carrapato no seu couro. “Então, o contato permanente com esses antígeno reforça a imunidade do rebanho, fazendo com que a memória do animal vacinado seja mais durável”, explica a pesquisadora. Na prática, o reflexo é observado na menor frequência necessária entre uma e outra vacinação; período que ainda não foi completamente definido. 
O fim dos carrapaticidas - O que se sabe é que a vacina pode substituir o uso de produtos químicos no controle do carrapato. Esses produtos, além de serem potenciais geradores de resíduos na carne e no leite dos animais, têm tido sua eficácia comprometida com o desenvolvimento de resistência entre os parasitas.
“A cada ano você tem nas pastagens de dois a três tipos de carrapato, e cada fêmea deixa ali muitos descendentes. Fazer o controle só com uma arma é aumentar a chance de selecionar os parasitas. Aqueles que criam resistência diminuem a eficácia dos produtos”, afirma Isabel. 
Hoje, além da vacina, estão sendo estudados repelentes e marcadores genéticos no combate ao parasita. “Certas raças bovinas têm por característica serem menos suscetíveis ao carrapato, e isso é hereditário”, diz a pesquisadora. No caso desses animais, quando as fêmeas do carrapato eventualmente conseguem sugar seu sangue, elas põem menos ovos. “Então, é como se essa característica funcionasse como uma vacina autógena”, explica Isabel. Um exemplo de raça animal mais tolerante aos carrapatos seria a Braford, comparativamente aos taurinos puros. 
Comercialização - Patenteada, a vacina desenvolvida na USP de Ribeirão Preto segue no momento em fase de transferência de tecnologia para a iniciativa privada. “Desde 2014, a Bayer demonstrou interesse nos nossos resultados e estamos trabalhando para colocar um produto no mercado”, diz Isabel. Por enquanto, não há previsão para o lançamento.