Thuany Coelho
A gestão empresarial de uma propriedade é essencial para a permanência em qualquer atividade, mas, muitas vezes, pode ser confuso saber por onde começar. Pensando em ajudar o produtor rural nessa questão, o zootecnista Gustavo Sartorello desenvolveu, como parte de sua tese de mestrado na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, um modelo de cálculo de custos de produção para confinamentos de bovinos.
“Conversando com agentes da cadeia produtiva, começamos a perceber que não havia método de cálculo padronizado. Cada um considera uma gama diferente de custos e isso despadroniza a análise. E sem saber quanto custa o produto, fica difícil tomar decisões”, conta o pesquisador. “Pensamos, então, em uma planilha que fosse simples, gratuita e que pudesse dar essa base de comparação”. Essa noção dos custos de produção, segundo Sartorello, ajuda até mesmo na hora de vender para o frigorífico. “É diferente negociar tendo de cabeça os dados do que com eles feitos, calculados, embasados em um método”.
Método e organização - Orientado pelo professor Augusto Gameiro, ele, então, fez um estudo de caso em um confinamento de São Paulo para ter base para a criação da planilha. Foram coletadas informações sobre maquinários, equipamentos, veículos, construções e instalações, além de manejo sanitário e de identificação. “Quando gerei a planilha, usei os dados dessa propriedade para fazer a comparação. Ia vendo se batia e revia as equações até alinhar o que tinha na prática com a ferramenta”. Para fazer a validação do método, ele também conversou com profissionais do meio para saber se os valores estavam dentro do que acontece no mercado.
A planilha está dividida em quatro grandes grupos: custos variáveis (aquisição de animais, alimentação, manejo sanitário...), semifixos (energia, telefonia, combustível), fixos (mão de obra, manutenção e depreciações) e renda dos fatores (custo de oportunidade). “Fizemos a separação, porque ainda há uma resistência do produtor em incluir o custo de oportunidade (o rendimento da terra se estivesse empregada em outra atividade, por exemplo). Então, ele pode olhar o indicador como achar mais conveniente”, explica. No relatório, quatro indicadores diferentes são fornecidos: custo operacional efetivo, operacional total, total e operacional da atividade
A organização é também em ordem de importância. Segundo Sartorello, pagando os variáveis, o pecuarista já consegue se manter na atividade, porque garante a compra de alimentos, vacinas, animais, etc. Mas não considerar todos os custos - como a depreciação de máquinas e instalações - pode trazer problemas no futuro. “Se o produtor não paga a depreciação, começa a ficar descapitalizado. É típico do produtor brasileiro ficar descapitalizado e não conseguir comprar maquinário novo, porque não fez reserva, não teve ganho adicional para isso”.
Preenchimento - O modelo de cálculo funciona em uma planilha de excel e o preenchimento demanda uma certa energia inicial para levantamento dos dados necessários, mas, depois dessa etapa, ocupa pouco tempo do pecuarista. “O produtor não vai mexer na planilha todos os dias. Uma vez lançados os dados, o trabalho é muito menor. Você atualiza quando comprar algum trator ou fechar a compra da dieta, por exemplo. Depois, quando acabar o giro, vê o que se manteve e o que precisa atualizar e já tem noção de custos para o próximo ciclo”.
Para ajudar no preenchimento, a planilha ainda traz comentários e explicações sobre as informações pedidas. “Sabemos que muitas empresas fornecem esse tipo de serviço e dão uma boa consultoria e suporte, mas a USP, nesse sentido, permite um método barato, mas que funciona. É um esforço que o produtor faz pelo próprio bem da produção dele”. Para ajudar no entendimento do método, a dissertação de mestrado de Sartorello também está disponível para consulta.
Indicador - Para complementar a planilha, também foi desenvolvido um indicador de custos para confinamentos de São Paulo e Goiás. Sartorello entrevistou 10 confinadores de São Paulo e nove de Goiás para, então, criar três propriedades confinadoras representativas: duas em SP (média e grande capacidade) e uma em GO (para detalhes técnicos, veja tabela abaixo). “Criei essas fazendas com características reais. Por exemplo, quais maquinários são usados, a potência, número de funcionários, mas não é uma média das propriedades”. Todos os meses, o Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal faz o levantamento de preços de insumos para atualizar os dados do indicador, que tem periodicidade mensal. “Minhas bases são Pirassununga, SP, e Acreúna, GO. Meus fornecedores são voltados para essas regiões. Tudo que está incluído na atividade, como palanque para cerca, arame liso, polpa cítrica, cordoalha, cocho, para tudo nós pesquisamos valores em pelo menos três empresas”, explica.
A grande ajuda do indicador para o produtor é ter uma base de comparação para seus resultados. "O produtor pode olhar para a planilha dele, ver os custos naquele mês e usar nosso indicador como referência. Eu estou produzindo minha arroba mais caro ou mais barato que o indicador da USP? É para ter esse parâmetro, até na hora de negociar com o frigorífico. É poder falar: 'como você vai me pagar 140/@ se meu custo é 150/@?' O indicador pode ajudar a balizar o mercado, porque uma hora a indústria joga para baixo, o produtor para cima ou vende por menos do que deveria".
Como referência, em agosto, os custos da diária-boi ficaram entre R$ 6,71 (GO) e R$ 7,68 (SP - propriedade grande).
Benefícios
Tanto a planilha quanto o indicador são ferramentas importantes de tomada de decisão, planejamento e estratégia do negócio. No caso da primeira, elencar todos os custos da propriedade ajuda a ter uma nova visão sobre o todo e a comparação do indicador pode mostrar onde é possível melhorar. "Às vezes a mão de obra está muito cara, às vezes o maquinário está com capacidade ociosa e isso acaba virando um custo que não está vendo", conta Sartorello.
Ele ainda mantém contato com alguns dos confinadores entrevistados para o projeto e um deles, em particular, começou a trabalhar no mercado futuro depois de receber a planilha. "A planilha permitiu a ele travar boi no mercado futuro com garantia de preço mínimo. Quando ele olha o resultado e vê que custo de produção é R$ 140/@, por exemplo, e o mercado está indicando R$ 145, ele já fecha e está garantido todos os custos e mais o lucro".
Planos
Para o futuro, Sartorello pensa em expandir o indicador para outros Estados, principalmente Mato Grosso, e também analisa a possibilidade - para uma pesquisa de doutorado - de uma planilha para bois a pasto e sistemas integrados. "Existe demanda para Mato Grosso. É a primeira coisa que me perguntam. Faltou tempo e recursos financeiros para isso. Temos vontade de expandir, mas por essa limitação não fizemos". Ele explica que além do levantamento de confinadores na região, é preciso buscar também fornecedores, o que exige energia e deixa o projeto mais caro. Para São Paulo e Goiás, a lista já conta com mais de 200 nomes. Duas bolsistas do projeto fazem o trabalho mensal de consultar esses fornecedores para saber os preços dos insumos. "Se aumentar, preciso de mais bolsistas, mais telefone e quem subsidia é a USP".
Contato
Quem quiser ter acesso à planilha e ao indicador pode acessar o site do LAE (http://paineira.usp.br/lae) ou mandar e-mail para lae-indicadores@usp.br ou gsartorello@gmail.com pedindo para receber o modelo de cálculo de custos e o boletim. Fornecedores que quiserem colaborar com o levantamento de preços de insumos também podem se cadastrar pelos e-mails acima.
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