Thuany Coelho em 27/10/2017 no Portal DBO
Bom índice de chuvas na região, reforma de pastagens, suplementação estratégica e gestão. Esses são alguns dos fatores que devem garantir à Fazenda Bevilaqua, em Carlinda, MT, uma produção de 32@/ha/ano, número acima da média nacional de 6@/ha/ano. “No período das águas chegamos a 16@/ha. Como mantemos a nutrição, a expectativa é que ficaremos nessas 32@/ha esse ano”, diz Fabiano Alvim, diretor-técnico da Pecuária Sustentável da Amazônia (Pecsa), empresa que administra 767 hectares da propriedade.
A Pecsa faz parcerias com pecuaristas do bioma Amazônia para transformar as propriedades em modelos sustentáveis e produtivos. A relação da empresa com a Fazenda Bevilaqua, do pecuarista Celso Bevilaqua, começou no final de 2015. “Como há um período de reformas e adaptações de estrutura, esse será o primeiro ano da propriedade rodando completa, do jeito que imaginamos, por isso ainda não há um dado final”, explica Alvim.
Mudanças - Assim que assume a gestão de uma propriedade, a Pecsa faz um diagnóstico completo de toda a área. “Avaliamos as pastagens, os recursos hídricos, a estrutura, o que precisa ser feito em relação às Áreas de Preservação Permanente (APPs) e reserva legal e também a mão de obra. A partir disso, decidimos quais mudanças serão necessárias”. No caso da Bevilaqua, houve correção de solo e as pastagens foram reformadas com Panicum, já que, segundo Alvim, a morte súbita do braquiarão é comum na região. “Se reformamos com braquiária de novo, daqui dois ou três anos vai acontecer de novo a morte súbita”. Todo ano ainda é feita adubação de manutenção nas pastagens. “O manejo do solo com reforma de pasto, divisão de área e adubação nos permite trabalhar com lotação média de 2,5 UA/ha ou 3,5 cabeças de novilhas por hectare. A média brasileira é de 1 UA/ha”.
Os recursos hídricos também receberam atenção especial. “Na maioria das fazenda no norte de Mato Grosso, o gado bebe água de fontes naturais. Nós tiramos isso. Então, fazemos sistema de captação de água e bombeamento para reservatórios maiores. Depois distribuímos em bebedouros”. A Pecsa ainda restaura as APPs e as cerca para que os animais não tenham mais acesso.
Nutrição - Na Bevilaqua e na maioria de suas parcerias, a Pecsa trabalha com recria e engorda de novilhas, que chegam com 6 a 7 arrobas e saem no máximo 11 meses depois com 13 a 14 arrobas. “Só a taxa de lotação não significa que vamos produzir muito. Nossas fazendas têm que ter ganho de peso acima de 650 g, 700 g por dia”. Fabiano explica que todo gado que chega recebe em torno de 1 kg/cab. de um suplemento proteico - com cerca de 25% de proteína. “E, na engorda, dependendo da necessidade, os animais recebem suplementação de 1% a 1,5% do peso vivo na ração”. A ração é formulada por Alvim e, a partir de outubro, a Pecsa começará a ter fabricação própria para fornecê-la para todas as suas fazendas. “Usamos aditivos, mas nada de antibiótico alimentar para evitar restrições de mercado”.
Gestão - Todos os animais são chipados para garantir a rastreabilidade e também para que haja monitoramento individual e geração de dados. Há também pesagens de rotina e apartação em lotes de acordo com o peso. “Isso nos dá informações para estratégias nutricionais, análise de raça, de peso e também para compararmos com as nossas metas”. Todas as propriedades têm objetivos definidos de ganho de peso, qualidade de carcaça, entre outros índices, que são acompanhadas pela equipe técnica e operacional.
Quando a parceria é firmada, são feitas entrevistas com os funcionários que trabalham na fazenda para que eles sejam vinculados à Pecsa. Eles recebem treinamentos de regulamentação, cuidados ambientais, vacinação, aplicação de produtos e condução de maquinários para que estejam preparados para as mudanças. Dependendo do tamanho da área, contratações são feitas.
Sustentabilidade - Além de regularizar as APPs, buscando uma pecuária sustentável, a Pecsa também garante a rastreabilidade de todo o gado. As compras são feitas apenas de propriedades sem problemas ambientais e trabalhistas. “Temos uma pessoa apenas para fazer a compra de gado das fazendas. Ela vai até a propriedade, passa os dados para a área ambiental, que checa se existem problemas relacionados a desmatamento, terras indígenas, trabalho escravo, entre outras coisas”, explica Alvim. Apenas após a liberação, a compra é realizada.
Custos e viabilidade - Os investimentos iniciais na adequação da propriedade - reforma de pastagens, estrutura de bebedouros, parte ambiental, entre outras necessidades - ficam entre R$ 3.000 e R$ 3.300 por hectare. Além disso, há um custo direto por animal de cerca de R$ 40 a 45/mês. “É um custeio relativamente alto por causa de suplementação, adubação. Por isso, precisamos produzir muito, ter alto ganho de peso e trabalhar com valor agregado”, diz o diretor-técnico da Pecsa. A empresa não tem nenhuma certificação de sustentabilidade ou recebe a mais por isso. “A nossa bonificação - de R$ 3 a R$ 5 por arroba - vem de entregar novilhas precoce, acima de 13,5@, com padrão elevado de qualidade de carcaça”.
Segundo Alvim, o investimento inicial se paga, em média, no terceiro ano, dependendo da condição dos preços. “Quando a situação está boa, é possível conseguir o retorno até no segundo ano”.
Mesmo com os altos valores empregados nas mudanças, Alvim acredita que o modelo é aplicável no país. Para ele, o pecuarista precisa fazer as reformas gradativamente, já que possivelmente não terá caixa para tudo de uma vez. Dependendo da propriedade, também pode não ser necessário reformar tudo. “O produtor pode separar 30%, 50% da área para trabalhar de forma mais intensiva. A Pecsa faz tudo, porque temos aporte de um fundo europeu. Então adequamos essas áreas para mostrar que é possível trabalhar com pecuária intensiva e evitar desmatamento”, conta Alvim.
Modelo de parcerias Pecsa - O modelo de parcerias da Pecsa pode variar caso a caso, mas, normalmente, o investimento inicial - reforma de pastagens, compra de gado, adaptações ambientais - é repartido entre a empresa e o produtor. O custeio fica a cargo da Pecsa. O produtor recebe uma porcentagem do lucro, que depende do nível de participação nos gastos iniciais. O período dos contratos varia de sete a oito anos. Após isso, Alvim diz que o pecuarista pode escolher renovar a parceria ou então retomar a gestão da fazenda. “Vamos entregar a propriedade com toda a adequação ambiental e estrutural que fizemos”.
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