quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Secagem de quartos com mastite crônica

Melina Melo Barcelos*
Marcos Veiga
Em 03/08/2017 no site MilkPoint.


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Em termos mundiais, estima-se que cerca de 30% das vacas leiteiras são afetadas por mastite, seja na forma clínica ou subclínica, o que custa cerca de €1,55 bilhões em 2005 para a indústria leiteira da União Europeia e $2 bilhões para a indústria dos EUA. Assim, devido aos prejuízos elevados, a busca por estratégias de manejo que auxiliam na redução da mastite tem sido cada vez mais intensa, embora esses esforços não tenham sido suficientes para diminuir a frequência de vacas com mastite crônica.

Na maioria das fazendas, os casos de mastite clínicas são tratadas durante a lactação com o uso de antibióticos intramamários, antes mesmo de se obter a identificação do agente causador. Desse modo, os prejuízos estão diretamente ligados ao custo dos medicamentos e ao período de descarte do leite com resíduos dos antibióticos. Além disso, algumas bactérias causadoras de mastite, como Escherichia coli, são capazes de causar danos na glândula mamária, mesmo depois da bactéria ser eliminada, contribuindo para a diminuição da quantidade e da qualidade do leite produzido. 

Por outro lado, a mastite subclínica tem como principais perdas econômicas aquelas relacionadas à redução do rendimento do leite, redução da fertilidade, diminuição do rendimento e da vida de prateleira do leite e aumento do risco de descarte. Quando o rebanho não tem uma boa rotina de diagnóstico de mastite subclínica, as vacas com mastite crônica não são identificadas devido à ausência de sintomas, uma vez que o leite apresenta aspecto normal. O momento mais adequado para o tratamento destas infecções subclínicas é durante o período seco, em razão da maior cura e ausência de descarte de leite.

mastite crônica caracteriza-se pela longa duração da infecção, podendo ocorrer sinais de fibrose dos quartos acometidos, acompanhados ou não de perda da capacidade de produção de leite. Além disso, os quartos com mastite crônica não respondem aos tratamentos com antibióticos e são potenciais reservatórios de bactérias que podem ser transmitidas para outras vacas sadias.

Desta forma, a decisão sobre tratar ou não vacas com mastite crônica, deve ser avaliada considerando-se o maior risco de resistência bacteriana, baixa taxa de resposta e os custos do tratamento. Uma alternativa para estas vacas com mastite crônica é a secagem permanente do quarto comprometido, mantendo-se a produção dos demais quartos mamários. Estudos recentes mostraram que a infusão de caseína hidrolisada no quarto mamário infectado pode ser uma alternativa eficaz para secagem permanente de quartos com mastite crônica, o que além de diminuir o desconforto ocasionado pelos métodos de secagem convencionais (uso de iodo), pode permitir a recuperação da capacidade produtiva das vacas com mastite crônica. Este procedimento é similar ao mecanismo fisiológico que ocorre durante a involução da glândula mamaria, embora ocorra de maneira mais rápida e forma similar ao da involução natural.

Um estudo recente foi realizado em Israel, com um rebanho de 220 vacas em lactação, com o objetivo de verificar a viabilidade econômica da secagem de quartos com mastite crônica, quando comparado com outros dois grupos: tratamento à base de antibiótico e não tratamento. Foram selecionadas vacas com um quarto com mastite crônica (CCS > 106 células/mL por de três meses), as quais foram distribuídas entre os três grupos.

O tratamento com antibiótico possibilitou taxa de cura maior em vacas de primeira lactação (66,22%) e quando a CCS não ultrapassou o valor de 300×103 células/mL. O grupo que foi tratado com infusão de caseína hidrolisada teve o tecido mamário involuído em um intervalo de até 10 dias, após o desaparecimento visual da pressão, inchaço e dor, além de refletir na redução da CCS para 200 x 103 células/mL. A base fisiológica para a involução decorrente do tratamento com caseína hidrolisada está relacionada à ativação do sistema imune inato, o que refletiu em taxas de cura de até 90%.

Em relação à produção de leite, após a secagem de um quarto, houve uma redução média de produção de 8% por vaca, sendo que essa diminuição foi maior em vacas de alta produção, enquanto que vacas com produção em cerca de 30 kg/d não demonstraram quase nenhuma mudança. Além disso, vacas tratadas com caseína hidrolisada entraram normalmente na lactação seguinte, retornando a sua funcionalidade produtiva em 85% dos casos, sem apresentar isolamento bacteriano no quarto que apresentava mastite clínica antes da secagem.

Quanto a viabilidade econômica, nas vacas com casos de mastite crônica subclínica, nas quais optou-se por não tratar, houve uma queda na produção de 5% durante uma lactação, e aumento no número de inseminações em 20%. Além disso, a alta CCS devido ao não tratamento resultou em penalidades no pagamento pela qualidade do leite. Em casos onde o quarto afetado foi tratado com antibiótico, além do custo do leite descartado durante o uso do medicamento e o período de carência, ainda foi levado em consideração os honorários com veterinário, diagnóstico e a própria medicação na somatória dos prejuízos.

Já a secagem apenas do quarto infectado durante o período de lactação permite que não se perca a produção total de leite durante o período de carência pelo uso de medicamentos para tratamento. Esse procedimento também possibilita a diminuição da CCS do tanque, demonstrando ser uma alternativa viável para tratamentos de infecções subclínicas.

Fonte: LEITNER, et al. Israel Journal of Veterinary Medicine, v. 72, n., p. 2, 2017.

*Melina Melo Barcelos é mestranda do Departamento de Nutrição e Produção Animal da FMVZ/USP e pesquisadora do Laboratório Qualileite-FMVZ/USP.

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